• CONCERTOS
  • 27 de Junho 2010

    No Age | Thee Oh Sees

    No Age
    Estilisticamente, os No Age (Randy Randall nas guitarra, Dean Allen Spunt na bateria) são uma banda com pouco amigos, solitária, algo importuna até. Fazem canções de travo pop, curtas, melodiosas, mas têm o espírito e o corpo consagrados à heterodoxia punk dos Urinals, Descendents, Minutemen, Sonic Youth, Ramones, Lync ou Sebadoh. Por outro lado, também não seguem a cartilha dos anos 70/80: cobrem tudo com um som radioso onde a distorção é cor e os efeitos dos pedais se libertam, como seres animados, das guitarras. Imaginem uma banda punk-rock dentro da barriga de “Loveless” dos My Bloody Valentine. Ou a deixar as guitarras à mercê da ambient music. São os No Age.

    Há outros nomes próximos deste eclectismo pós-indie rock, que reconhece a electrónica, o ruído, os devaneios instrumentais e o sublime na canção pop-rock. Os Mercury Rev, os Flamings Lips, os Sonic Youth ou os Japanther, a banda com quem os No Age, porventura, mais têm em comum: partilham a mesma energia adolescente, a mesma filiação à tradição do rock independente; e foram ambos, um dia, soprados pelo vento dos Lightning Bolt.

    De resto porém, os No Age são um caso único. Pouca gente sabe hoje o que fazer com a história de “Our Band Could Be Your Life”. Eles sabem e fazem. Com melancolia e açúcar. E pouco importa a indiferença da revista The Wire ou as palavras jocosas de David Keenan (cujos ouvidos necessitam de uma urgente reabilitação). Estão enganados. JM

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    Thee Oh Sees
    Primeiro que tudo, um esclarecimento: o rock and roll nunca deixou de dançar. Nunca deixou de ser generoso com o corpo. É verdade que alguns dos seus principais descendentes (punk rock, metal, pós-punk, noise, indie) preferem passos mais “elitistas, mas a diversão e a alegria, partilhadas colectivamente, permanecem no coração do género. E não são uma memória remota. Basta recordar os músicos que por aí andam a recuperar o roll para o rock e sem revivalismos “fascistas”. Pela desbunda e o humor, para trocar as voltas aos sons e, sim, pelo amor à história da música popular.

    Os nomes que participam na festa são muitos, mas por ora fiquemo-nos pelos Thee Oh Sees do incansável John Dwyer senhor de respeitadíssimo currículo. Senão vejamos: foi uma espécie de roadie dos Lightning Bolt (topem-no no DVD “The Power Of Salad And Milkshake´s”), fundou os Landed, banda seminal da cena de Providence, Rhode Island e fez parte dos Coachwips e dos The Hospitals. Resumindo: é já uma pequena lenda do underground dos EUA deste século.

    Quanto aos Thee Oh Sees representam a mais recente (a final?) encarnação musical da sua persona. Uma banda que muda furiosa e descontraidamente de nome e de formação. Um verdadeiro work-in-progress dedicado ao garage-rock. Que absorve restos de electrónica, folk e noise, fantasmas da new-wave e do pós-punk (dos The B-52s aos The Fall) e, claro, está rock com roll. De sorriso esgalhado e corpo solto na confusão. JM

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