• CONCERTOS
  • 5 de Novembro 2011

    Scout Niblett | Sun Araw | U.S. Girls

    Sweet lil’ 16 – Aniversário da ZDB
    Scout Niblett

    Figura mágica, em igual medida assombrada e assombrante, Scout Niblett regressa a Portugal para apresentar “The Calcination of Scout Niblett” depois do concerto memorável de há um ano. A música, uma espécie de blues bipolar, aqui trágica, ali gloriosa, assusta pela austeridade e arrebata pela franqueza avassaladora. Centradas na anatomia psicológica, as composições de Scout Niblett nascem do incontrolável, lá bem no fundo, sem lugar no seu tempo. Errantes solitários com a urgência no corpo como Bonnie ‘Prince’ Billy (que colabora em “This Fool Can Die Now”), Jandek, Cat Power ou Jason Molina assemelham-se a fragmentos do mesmo molde dissonante. Uns e outros cantam canções perigosas, de pontas invulgarmente pontiagudas que podem magoar. Não são essas que valem a pena?

    Emma Niblett
    : voz, guitarra e bateria
    Daniel Wilson: bateria

    + Info: SiteMyspaceDrag City Records | Vídeo| Vídeo .
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    Sun Araw

    Ainda é cedo para perceber se Cameron Stallones, um texano da Califórnia, vai marcar a década. Mas de duas coisas podemos estar certos: este senhor que assina como Sun Araw tem no currículo um fabuloso trio de discos (Beach Head, de 2008, Heavy Deeds, de 2009 e “On Patrol”, 2010); e a sua música não se limita a reproduzir uma atracção pelos detritos da música pop (como tantos hoje em dia). Não lhe interessa o método, a arqueologia, as vozes abafadas pelo tempo. O que ele quer é fazer canções.
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    Longas, menos longas, saturadas de loops, acordem, ecos. Colagem incessante e obsessiva de dub, blues, funk, pop, afro, blues. Whatever. Chamemos-lhe pós-pop. Porque não? Trata-se de música para as massas feita a partir do quarto da casa, música que nasce depois do nascimento dos Animal Collective, música que também se faz com cinema (Tarkowski? Carpenter?). Música que reconhece a História da pop. E que ainda não se esgotou. O que Heavy Deeds tinha de intensidade e grão, “On Patrol” tem de cor e sensualidade. As melodias chegam mais facilmente à superfície e cada som tem uma função definida. Mesmo quando parecem perdido ou entregue a uma deriva. Ouçam “Deep Cover” ou “High Slide”. Nota importante: há poucos discos em 2010: “City of Straw”, dos Sightings, uma colectânea assinada pelo duo Hype Williams, “Eve” dos UFOmammut. E “On Patrol”, de Sun Araw. Matéria-prima para um dos concertos do ano. Abrasivo e cósmico. JM

    + Info: SiteMyspaceEntrevista | Not Not FunWoodsistVídeoVídeoVídeo .

    U.S. Girls
    Artista contraditória, Jekyll e Hyde das canções pop com uma faca atrás das costas, a norte-americana Megan Remy celebra através do moniker U.S. Girls tanto o hospício sintetizado dos Suicide como os fantasmas psicadélicos de Brigitte Fontaine. O tumulto de voz, teclados e demais fantasmagoria electroacústica que ressoa pela sua música potencia um ouvir crítico que cava fundo no âmago algo-não-está-bem da cultura popular – Bruce Springsteen, em ”Nebraska”, os Sonic Youth, por alturas de “Bad Moon Rising”, e os Throbbing Gristle, particularmente em “The Second Anual Report”, são outros exemplos de quem também se deixou submergir nessa dimensão angustiante dos novos-quotidianos urbanos. “Go Grey”, o álbum que a traz de volta à ZDB (mais uma edição Siltbreeze, depois de “Introducing”) aprofunda essa relação inquietante com uma inconsciência pop perdida num embalar escatológico rumo ao abandono. MP

    + Info: Silbreeze RecordsMyspaceEntrevistaVídeo .