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CONCERTOS
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Programação 2005
Sexta-feira dia 7 de Janeiro às 23h00
Zdbeatnik_sessions
REFILON
Banda reflexo da génese multicultural do cabo-verdiano. Fala a linguagem do Porto Grande, a do vértice árido e mestiço do triângulo transcontinental de escravos. A linguagem pura dos primórdios da globalização. Da seca, das saudades do futuro, do amor, da “alma mater” do povo das ilhas. Da esperança de voltar a um Cabo Verde puro dono do seu destino. Da “sabura” genética do povo das mil línguas, dos filhos do oriente a ocidente. Ao futuro. Dos vibrantes fios da voz, da guitarra, da pulsante percussão, dedos transportam da alma pedaços vivos da sua existência para a música dos Refilon, para tocar, os que tocaram e que tocam, àqueles que ouvem. Do ouvido para a alma.
Que tocaram e que ainda tocam: José Abu-Raya (Djoy – guitarra, voz), Luís Fernandes (Paulinho – Baixo,voz), Danilo Lopes (Danas – guitarra, voz), Hélder Dias (Stone – guitarra, voz), Miguel Mendes (guitarra), Michaele (guitarra), José Silva (Bóris – voz, percussão),Elton Jorge (Bilan – Baixo), Paulo Morais (Paulinho – Percussão), Rui Alves (bateria),Marco Santos (bateria),
Mário Coronel (baixo), Waldyr Morais (guitarra) e Avelino (percussão)Entrada: 5 €
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Sábado dia 8 de Janeiro às 23h00
electronic_portuguese_sessions
MICRO AUDIO WAVES
Os Micro Audio Waves (originalmente um duo) surgem na viragem do milénio e começam por desenvolver composições de natureza minimal e experimental, cujo resultado é apresentado no primeiro álbum (“Micro Audio Waves”), lançado em 2002. Com a entrada de Cláudia Ribeiro (voz), o projecto ganha novos contornos. A electrónica mais “purista” dá lugar a composições electro-acústicas estruturalmente mais clássicas, sem descurar a vertente experimentalista.
Com passagem por vários festivais nacionais e internacionais (Londres, Madrid, etc.), os Micro Audio Waves vêm-se afirmando com um dos valores a ter em conta no panorama da música “avant-garde”.
Em Junho passado, os Micro Audio Waves apresentaram o seu novo disco (“No Waves”) no Festival Sónar de Barcelona, com honras de transmissão na BBC Radio 1. Desde então, o novo disco do projecto português tem sido uma presença constante no programa do famoso radialista britânico John Peel, que culminou com a eleição de “No Waves” como um dos melhores discos do mês de Julho da estação inglesa. “No Waves” foi lançado em Portugal no final de Setembro.cláudia – voz
carlos morgado – programações, instrumentos
flak – programações, instrumentosEntrada: 5 €
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Quinta-feira dia 13 de Janeiro às 23h00
miso_music_sessions
MISO ENSEMBLE e o “Teatro Electroacústico”Ao longo de 20 anos de existência com uma intensa actividade em Portugal e mais de 400 espectáculos/performances/concertos realizados um pouco por todo o mundo, o Mios Ensemble, constituído pelos criadores e performers Paula Azguime e Miguel Azguime tem afirmado uma nova forma de fazer e pensar o som, a palavra, a imagem, desenvolvendo um trabalho que cruza disciplinas e relaciona de forma inovadora música, imagens, teatro, espaço e tecnologia.
O MISO ENSEMBLE é hoje amplamente reconhecido pela crítica e pelo público como um dos mais importantes agrupamentos portugueses de criação musical.
Unindo e associando várias linguagens artísticas, Miguel Azguime tem ao longo dos muitos anos do seu trabalho de compositor e de poeta cruzado inúmeras vezes o texto com a música e a música com o texto. Pela primeira vez Miguel Azguime reúne num só espectáculo muitas das suas obras de teatro musical e poesia sonora.
“O ar do texto opera a forma do som interior ” é pois um trabalho interdisciplinar no qual a palavra é um elemento de referência neste percurso, e a palavra toma forma pela voz e a voz dá o som à palavra! A dramaturgia do som configura um novo teatro: o teatro electroacústico.
“O ar do texto opera a forma do som interior” é um espectáculo, composto e interpretado por Miguel Azguime, poeta, actor, músico. É um recital em torno da palavra (da palavra-sentido e da palavra-som) e do gesto sonoro de escrever, entendido como gesto instrumental.
Aqui os instrumentos, quer se trate da voz, das mãos, da caneta, da borracha, da mesa, do balde ou do papel, são utilizados como extensão do corpo e projecção do som da palavra, para a invenção de uma dramaturgia do som e de um novo teatro: o teatro da música da palavra, o teatro do gesto da palavra, o teatro do olhar da palavra. Aos textos e à voz de Miguel Azguime vem juntar-se um sistema electroacústico de transformação sonora e de projecção espacial, conferindo uma qualidade polifónica e contrapontística à composição do poema.
Trata-se de uma situação musico-teatral, onde a recriação do poema, em ambiente tecnológico, nos conduz pelos seus diversos sentidos e sonoridades. A manipulação informática dos sons produzidos pelo actor amplia o jogo de possibilidades de interpretação numa multiplicidade de dimensões.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 14 de Janeiro às 23h00
Weird_América_sessions
PHOEBUS
THE DEAD TEXAN
The Dead Texan
Nos meados da década de 90, anos antes de ter visto o seu nome subir nos níveis de atenção dos media, a Kranky, editora de Chicago, Illinois, albergava um novo tipo de música livre. Bandas como Labradford, Windy & Carl, os primeiros Bowery Electric ou Stars of the Lid eram a imagem de marca do selo.Enquanto os Labradford criavam melancolia minimal, como Badalamenti numa noite de céu limpo no ártico ou o duo Windy & Carl percorria o seu cosmos íntimo em alguns dos drones estelares mais belos alguma vez gravados em fita, Adam Wiltzie e Brian McBride, o núcleo duro dos Stars Of The Lid, sediado em Austin, Texas, caminhavam regularmente pequenos passos na sua discreta revolução.
Os primeiros registos dos Stars Of The Lid criavam música de total abstracção, onde noções rítmicas perdiam o sentido linear. Tudo era espaço textural, sons contínuos vindos do metafísico inconsciente, autênticas explorações do inominável interno de que Buda, Platão ou Wordsworth falavam. Estava lá a herança do «ambient» de Brian Eno, mas o universo estético e modus operandi era todo deles. «The Gravitational Pull Vs. The Desire For An Aquatic Life» ou «Avec Laudenum» eram drone celeste primitivo, totalmente analógico, meditativo, séries de desbravamento de som em territórios não cartografados.
Após uma pequena paragem, o duo volta a gravar o que até hoje permanece o seu último registo (estando, contudo, agendado um novo álbum em 2005), o duplo «The Tired Sounds Of The Stars Of The Lid». Aos drones de guitarras eléctricas tornadas vias lácteas e buracos negros foi adicionado o uso de cordas, metais e piano, bem como algumas gravações de campo. A música do ganhava uma dimensão orquestral, quase sinfónica, coerente e homogeneamente integrada dentro da sua lírica minimal, simultaneamente supra e infra-consciente. Pelo meio, Adam Wiltzie lançou um álbum com Bobby Donne, membro dos Labradford, sob o nome Aix Em Klemm, também editado pela Kranky, que não conheceu seguimento.No final de 2004, após alguns anos a viver em Bruxelas, Adam Wiltzie volta a dar sinais de vida criativa, neste seu novo projecto que começou por se formar a partir de uma série de peças que Wiltzie considerava demasiado agressivas e curtas para os Stars Of The Lid (atente-se que a sua noção de agressividade é bastante invulgar). «The Dead Texan» torna evidente um interesse contínuo pelo mistério lírico da música de «Twin Peaks», lembrando também os trabalhos de banda-sonora de Zbigniew Preisner, o Gavin Bryars de «The Sinking Of The Titanic», o Morricone mais vagaroso e etéreo (Wiltzie cita a tão maravilhosa quanto ignorada música do italiano para «La Donna Invisibile» como um dos seus álbuns favoritos para adormecer), as lentas massas de som do Gorecki sinfónico, ou os clássicos ambientais de Eno, como «Music For Films» ou «Music For Airports». Guitarras e piano deparam-se no meio de secções de cordas que percorrem paulatinamente lânguidas modulações tonais, enquanto drones orgânicos entram e saem de cena como respirações em câmara lenta, cadências internas tornadas música.
A componente visual foi sempre muito forte em toda a música a que Wiltzie está associado, quer como inspiração quer como meio adicional de concretização, contando-se no passado colaborações com o pintor Jon McCafferty (de onde resultou «Ad Aspera Per Aspera») e com o artista plástico Luke Savisky, que os acompanhou ao vivo em várias datas num complexo e improvisado espectáculo de luzes. The Dead Texan foi edificado em paralelo com a artista visual Christina Vantzos, que realizou a maior parte dos vídeos (os restantes são feitos pelo próprio Wiltzie) incluídos num DVD que acompanha o álbum, onde cruza filme com o seu trabalho em animação. Vantzsos irá acompanhar Wiltzie nesta apresentação ao vivo de The Dead Texan.Passados três anos da despercebidíssima vinda dos Labradford a Portugal, estamos perante um importante momento em que uma cena que deixou de o ser geograficamente mas que se mantém, espalhada pelo globo, activa e criativa passa por território nacional.
Phoebus
Phoebus é o projecto do português Afonso Simões, que lançou recentemente o seu primeiro registo na estreia do selo Test Tube, editora de lançamentos em formato áudio electrónico pertencente à lusa mono¨cromatica, sob a forma do EP «Peri Sable».
Empreendimento a solo nascido de um contínuo interesse pela música improvisada, Phoebus procura trabalhar o «modus operandi» da improvisação através do uso do laptop, utilizando sons de origem orgânica, normalmente provenientes quer de gravações previamente efectuadas, quer de percussão captada por microfone em palco, ambas processadas em tempo real por meios digitais.
Em «Peri Sable», contudo, encontramos a veia do trabalho de Afonso Simões mais associada aos drones, em que massas de som se parecem desintegrar e «redesintegrar» continuamente. Pontos de contacto podem ser encontrados em vários projectos que dão elevado grau de importância ao som orgânico em contextos experimentais, como o trabalho de Fennesz, os colectivos de improvisação AMM ou Thuja, bem como música de uso extremo e exploratório de percussão dos domínios da improvisação e do free jazz.Entrada: 7,5€
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Sábado dia 15 de Janeiro às 23h00
party_sessions
OOGOO MAIA + 25 músicos convidadosHouse-Party – Instalação para orquestra – 25 músicos espalhados por todo o edifício na Galeria Zé dos Bois tocam aqui um solo, ali um trio, um duo de vão de escada, um quarteto no telhado.
A música passa-se quase por acaso quando os músicos, lado a lado com o público, se guiam e deixam guiar numa exploração do espaço da zdb, e da micro sociedade que se cria entre o público, entre os músicos, entre todos a cada momento.
Concebido por Hugo Maia com Carlos Zíngaro, Nuno Rebelo, Vítor Rua, Ernesto Rodrigues, Marco Franco, Joana Bagulho, Miguel Ivo Cruz, Oogoo, Carlos Santos entre muitos outros.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 21 de Janeiro às 23h00
Kid_City_sessions
GRABBA GRABBA TAPE
DANCE DAMAGE
GINFERNO
Nos últimos dois anos Espanha tem sofrido. Um vírus, com todos os comportamentos de uma micose, alojou-se com tanto conforto quanto desdém nas duas maiores cidades do país. Barcelona e Madrid albergam agora duas das mais significativas casas do que se faz de novo e mais independente na Península ibérica – falamos da Ozono kids e da Gssh!Gssh!
Ozono kids na capital da Catalunha, nasce do esforço e empenho de dois ex-membros da mítica banda Omega 5 (com uma edição na Golden Standard Labs, editora de Omar Rodriguez, de Mars Volta). Arnau Sala e Dalmao Boada, num autismo característico de todas as grandes editoras, como um bulldozer conduzido por um surdo, insistem nos projectos que não cabem em lado nenhum e que exactamente por isso têm lugar na Ozono Kids. Aconselha-se The Cheese, banda de punk psicadélico dos senhores supra mencionados. Gssh!Gssh! records é mais um exemplo de felicidade subterrânea, contentes e não contentados com cada sobrolho eriçado como quem diz “que merda é esta!?”. Lolo dirige as operações no quartel-general, nome de código Gsshaus. Esta casa pode ser acusada de lançamentos como Glass Candy (exactamente); Delorean, new wave adorador de Devo; Ginferno, surf-punk-folk-dançoincomodativo; e da banda do próprio Senõr Lolo, Grabba Grabba Tape, mais um duo esquizóide mas desta vez equipado com spandex fuscia e pelúcia branca, como um par de «party yetis».
Kid City, é o nome por detrás do qual se escondem os inconsequentes que têm trazido estes projectos a Portugal. São um colectivo DIY, militantes da festa e de um novo underground, independente e autónomo. No passado dia 10 de Outubro, na ZDB, conseguiram ter audiência e até alguns aplausos para este line-up: The Vicious Five, Zeidun e The Cheese. E vão tentar mais uma vez, em Janeiro com os madrilenos Grabba Grabba Tape e Ginferno e com os portugueses Dance Damage, também na ZDB.
Grabba Grabba Tape
Do maravilhoso mundo de Oz chega-nos este duo de raça mutante munido de parafernália electro, vestido com peludos fatos cor-de-rosa e ostentando a sua música robo-trash. Para entusiastas de punk primitivo e caótico com um ligeiro toque de ficção científica de «xploitation». Bateria/teclas/vocodor/doo rag e dança celebratória a rodos.
Ginferno
A julgar pela sua incendiária actuação no Festival do Porto em 2003 podemos esperar algo como os Lightning Bolt e os Naked City numa «jam» em plenos santos populares imaginários, algures no meio da Espanha de bombos, cañas, flamenco e do Santiago Barnabéu. Um híbrido de hiperactividade histérica com surf, tango, marchas, noise e toda a música de matriz «cool» tocada com real profundidade, numa sucessão de curvas e movimentos inesperados. Festa garantida.dAnCE DAMage
Trio de St. Tirso que começa a criar burburinho em pequenas salas de espectáculo por todo o país, os dAnCE DAMage acabam de lançar o meu primeiro EP em CD-R.
«Pilgrimage» mostra uma banda a explorar o pulsar do bombo e da tarola e as propriedades rítmicas de riffs esqueléticos. Influências podem remontar até aos Public Image Ltd e aos A Certain Ratio dos primeiro singles e de «To Each…», podendo-se agrupar de forma mais contemporânea o trabalho da banda nortenha nas reformulações do pós-punk efectuadas por bandas como Erase Errata,!!!, The Rapture ou Out Hud, adensadas pela utilização de um sintetizador particularmente chunga e eficaz, que soa a Wendy Carlos a tentar fazer versões de «Legend of Zelda» para a primeira consola Nintendo.Entrada: 6 €
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Sábado dia 22 de Janeiro às 23h00
Avant_jazz_sessions
CHRIS CUTLER
Chris Cutler
O impacto do trabalho de britânico Chris Cutler na história da bateria e da percussão ocidental é inestimável. Ao longo de mais de três décadas, Cutler tem sido um incansável explorador do instrumento nas mais variadas formações, tendo levado uma vida criativa inteiramente dedicada à procura de novas vozes e discursos em percussão, partindo sempre de uma abordagem experimental.O seu trabalho nos anos 70 com os Henry Cow desconstruiu uma parte do rock, fractalizando-o. Desintegrou e reagrupou os cacos do formato canção nos Art Bears, já no final da década, ao lado de Fred Frith e Dagmar Krause, e, mais tarde, com os belgas Aksak Maboul. Da extensíssima lista de colaborações de Cutler, destacam-se ainda trabalhos com Iancu Dumitrescu, Mike Westbrook, Pere Ubu, David Thomas, Otomo Yoshihide, The Residents, Jon Rose, Heiner Goebbels, Daevid Allen (Gong), René Lussier, Bob Ostertag, Zeena Parkins, Mike Oldfield, Peter Blegvad, Telectu ou Biota. Cutler é ainda dono da prestigiada editora ReR/Recommended, ensaísta de obra publicada, leccionando, de forma intermitente, acerca de temas relativo a música e teoria.
De há alguns anos para cá, incentivado por Fred Frith e René Lussier, Chris Cutler tem vindo a efectuar espectáculos de percussão apenas em nome próprio. Como disserta nas «liner notes» do seu álbum «Solo», Cutler considera a bateria «um instrumento ainda mais familiarizado com diálogo do que com o solo». Todos os sons utilizados por Cutler provêem de fontes acústicas, acrescentando ao seu instrumento base vários objectos amplificados, como uma frigideira, um cortador de ovos, variadíssimas baquetas, chaves de parafusos, arcos de violino ou batedores de cocktails. Toda esta instrumentação passa por uma mesa de mistura e é depois processada por uma série de pedais e efeitos de guitarra, usando, em algumas ocasiões, música registada em CD e Minidisc.
Cutler é um profundo conhecedor do instrumento e oferece-lhe propriedades discursivas raras. Reconhece a limitação e estado embriónico ao que o discurso do meio que escolheu cultivar concerne, utilizando toda a parafernália supramencionada numa tentativa de eliminar as fronteiras que separam a percussão de um lirismo mais palpável e abrangente.É enquanto improvisador que Chris Cutler se apresenta pela primeira vez na ZDB, músico de méritos consagrados, frente a frente com um instrumento que respeita e trabalha como poucos.
Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 10 Fevereiro às 23h00
Noite_às_Novas_ sessions
FISH & SHEEP
WE SHALL SAY ONLY THE LEAVES
A A TIGRE
ANTÓNIO CONTADOR
Segunda etapa para as Noites às Novas na Zé dos Bois, em que novos artistas nacionais de mérito assinalável tomam o palco do aquário da
Galeria, para mostrarem alguma da mais interessante música portuguesa de cariz exploratório a aparecer em tempos recentes.
A primeira iniciativa incluiu Danye77a, Sandra e Lolly And The Brains.Fish & Sheep é um duo composto por Afonso Simões (que se apresentou recentemente sob o seu alter-ego, Phoebus, na ZDB) e Jorge Martins, onde percussão e guitarra se juntam em improvisação.
O tipo de música que criam no momento não é tanto a já institucionalizada nem a comunal, mas uma que abraça, por um lado, tanto o ritmo linear, quanto o arrítmico e o abstracto, por outro, tanto a obliquidade harmónica quanto a melodia.
O estado embrionário do seu som é parte integrante do seu centro, que tanto deve ao free jazz feérico como às guitarras espaciais freeform pós-anos 90.O resultado de uma busca não consequente é a tónica do som de We Shall Say Only The Leaves. Não sendo este um resultado imediato, é fruto de um trabalho realizado entre Lisboa e Warwick, sujeito a uma constante reestruturação sónica através do incontornável tempo num espaço fisicamente não partilhado por todos. Este sistema de coordenadas (tempo/espaço) projecta-se incondicionalmente no percurso e processo de composição da banda. Assim, a um formato de banda rock’et funde-se a plastia da electrónica (sound design / life/live sampling / field recordings), elemento fundamental à interacção dos instrumentos orgânicos, assim como a preocupação estética e valorização do som que está tanto para o resultado quanto a composição.
Os we shall say only the leaves formaram-se em Julho de 2004 para dar início ao processo de composição do qual fizeram parte Alberto Arruda, Joca, Pedro Boavida, Ruben da Costa e que só terminou com a finalização de uma gravação que regista algum do trabalho realizado durante esse tempo.A A Tigre é o projecto principal de Rafa del Pozo, que faz parte de outros como os Sandra (presente na primeira Noite às Novas da Galeria Zé dos Bois), e La Turista. Vem à ZDB, num formato de one man band, acompanhado por um banjo, apresentando canções de caris folk de um território desconhecido.
A A Tigre editou recentemente o seu primeiro disco, pela editora espanhola, aarecords, no qual são detectáveis influências nas obras de Bonnie Prince Billy, e do novo folk vivido na América do Norte, tal como Matt Valentine, MV & EE, Dean Roberts.
Cantigas de memória, repletas de noções déjà vu, perdidas de sentido e de história são algumas das sensações que poderão vir a encontrar no concerto de A A Tigre, na ZDB.António Contador (1971), nascido em Paris e desde os anos 90 a viver em Lisboa, músico, artista plástico, docente e senhor da performance. Tem vindo a desenvolver uma relação ‘kinder’ com a música através do duo twokindermen (juntamente com Nuno Antunes), cujo o disco de estreia verá a luz do dia no início de 2005 sob a chancela da editora duplo (duplo.blogspot.com) e dará pelo nome de para o ano quero o Cattelan na minha festa de aniversário. Disco onde encontramos vozes, instrumentação acústica e electrónicas orgânicas, espraiadas de forma fractalizada no espaço, tentando-se encontrar e juntar com o passar do tempo, como um puzzle que sabe que nem sempre encaixa (e tanto melhor por isso). Um ponto de contacto pode ser encontrado por osmose com os Animal Collective, mais lúdicos e planantes.
+ info António Contador
Entrada: 5 €
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Sexta-feira 11 Fevereiro às 23h00
Granular propõe: MULTIPLISMOS#1
Pedro Tudela / Miguel Carvalhais / Carlos Santos / Vítor Joaquim / Rui Costa / Diogo Valério / André Gonçalves / Pedro Tudela / Paulo Curado / Nuno Rebelo / Vítor Rua / Flak / Emídio Buchinho / António Chaparreiro / Filipe Bonito / Francisco Rebelo / Jorge Serigado / Nuno Rebelo / Rodrigo AmadoO ciclo Multiplismos tem como mote a apresentação de formações de grande número integradas pelo mesmo instrumento ou por instrumentos da mesma família (no caso, guitarras eléctricas, computadores, cordas de arco e vozes), associadas sempre a um elemento instrumental estranho, com a função de “joker”, cabendo-lhe um papel de constante contraposição e desafio. Juntando músicos de várias orientações estéticas e mesmo de diferentes famílias musicais, indo do experimentalismo mais radical e da improvisação, até ao rock e à pop, com o jazz ou a “club music” de permeio, estará representada neste evento a nata das músicas criativas nacionais – cerca de 40 dos mais interessantes instrumentistas (e cantores / vocalistas) em actividade no nosso país. Um encontro inédito e de celebração proposto pela Granular e apadrinhado pela ZDB que busca não os denominadores comuns e as soluções de compromisso, mas formas de comunicação vivas que tornem possível a confluência na diversidade. Sem concessões de nenhuma das partes.
SEPTETO DE COMPUTADORES + JOKER
Pedro Tudela / Miguel Carvalhais / Carlos Santos / Vítor Joaquim / Rui Costa / Diogo Valério / André Gonçalves
Condutor – Pedro Tudela
Joker – Paulo Curado (flauta)OCTETO DE GUITARRAS ELÉCTRICAS + JOKER
Nuno Rebelo / Vítor Rua / Flak / Emídio Buchinho / António Chaparreiro / Filipe Bonito / Francisco Rebelo (baixo) / Jorge Serigado (baixo)
Condutor – Nuno Rebelo
Joker – Rodrigo Amado (saxofones)+ info Artistas Granular
Entrada: 5 €
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Sábado 12 Fevereiro às 23h00
Granular propõe: MULTIPLISMOS#2
Carlos Zíngaro / Ernesto Rodrigues / Ulrich Mitzlaff / Guilherme Rodrigues / Miguel Pereira / Pedro Roxo / Carlos Santos / Américo Rodrigues / Vera Mantero / Anabela Duarte / Margarida Mestre / Genoveva Faísca / Maria Radich / Inês Nogueira / Adriana Sá / Rodrigo Amado / Nuno Rebelo / Emídio Buchinho / Francisco RebeloO ciclo Multiplismos tem como mote a apresentação de formações de grande número integradas pelo mesmo instrumento ou por instrumentos da mesma família (no caso, guitarras eléctricas, computadores, cordas de arco e vozes), associadas sempre a um elemento instrumental estranho, com a função de “joker”, cabendo-lhe um papel de constante contraposição e desafio. Juntando músicos de várias orientações estéticas e mesmo de diferentes famílias musicais, indo do experimentalismo mais radical e da improvisação, até ao rock e à pop, com o jazz ou a “club music” de permeio, estará representada neste evento a nata das músicas criativas nacionais – cerca de 40 dos mais interessantes instrumentistas (e cantores / vocalistas) em actividade no nosso país. Um encontro inédito e de celebração proposto pela Granular e apadrinhado pela ZDB que busca não os denominadores comuns e as soluções de compromisso, mas formas de comunicação vivas que tornem possível a confluência na diversidade. Sem concessões de nenhuma das partes.
SEXTETO DE CORDAS DE ARCO + JOKER
Carlos Zíngaro (violino) / Ernesto Rodrigues (violino, viola) / Ulrich Mitzlaff (violoncelo) / Guilherme Rodrigues (violoncelo) / Miguel Pereira (contrabaixo) / Pedro Roxo (contrabaixo)
Condutor – Carlos Zíngaro
Joker – Carlos Santos (computador)SEPTETO DE VOZES + JOKER
Américo Rodrigues / Vera Mantero / Anabela Duarte / Margarida Mestre / Genoveva Faísca / Maria Radich / Inês Nogueira
Condutor – Américo Rodrigues
Joker – Adriana Sá (instalação de cordas e electrónica)GRUPO MIX
Rodrigo Amado (saxofones), Carlos Zíngaro (violino / electr.), Nuno Rebelo (guitarra), Emídio Buchinho (guitarra), Carlos Santos (computador) + formação beat dirigida por Francisco Rebelo (com base no grupo Cool Hipnoise)+ info Artistas Granular
Entrada: 5€
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Quinta-feira 17 Fevereiro às 23h00
Aquarela_sessions
DESTROYER
FROG EYES
THE STRUGGLERS
Destroyer, o novo projecto do canadiano Daniel Bejar (também membro dos The New Pornographers) chega finalmente a Espanha e Portugal precedido pela fama dos seus excelente concertos, para apresentar as canções de “Your Blues” (editado nos EUA pela Merge e aqui pela Acuarela). Será acompanhado pelos Frog Eyes, uma das revelações de 2004 segundo a crítica americana, assim como pelo intenso folk eléctrico dos The Strugglers. Um cartaz triplo onde três estilos diferentes se unem para nos mostrar talento, risco e respeito pelos clássicos. Daniel Bejar (Vancouver) é considerado como um dos autores mais inteligentes e pleno de recursos – poéticos e musicais – da sua geração, tanto na companhia dos famosos New Pornographers como em Destroyer, o seu projecto mais pessoal. Depois de quatro álbuns de pop-folk-rock (ou o que seja) sempre na editora Merge, publica agora Your Blues, uma colecção de substanciais canções que são muito mais do que a soma das suas partes: literatura e verso, anos sessenta e setenta, poemas, frases cínicas e anotações, num diário tão lírico como musicalmente valioso.
A utilização calculada e contida de alguns dos seus elementos mais açucarados poderia ser interpretada como um exercício de moderação. Contudo, trata-se mais de um exercício de excessos à antiga, uma viagem experimental pelo blues europeu, como lhe chama Bejar. Esta estética pós moderna nutre-se de uma melancolia de entre-guerras, que já aparecia esboçada na música de vanguardistas como Scott Walker, de rockers académicos como John Cale ou de actores demenciais como Richard Harris. Destroyer recuperam à sua maneira esta tradição, e com ela evocam uma nostalgia revisionista que supera sem complexos qualquer etiqueta. A vertente pop de Your Blues pode pôr-se em contradição, ainda que em ocasiões toque na tecla do que deveria ter sido a essência do revivalismo dos anos 80: a cara mais perversa das composições dos The Blue Nile, David Sylvian desprovido da sua couraça jazz-zen, Thomas Dolby nos seus momentos mais loucos com os Prefab Sprout, o já mencionado Scott Walker no seu Climate of Hunter, e demais descendentes disformes do mundo MIDI… Em definitivo, Your Blues é um jogo de malabarismo entre o adulto, o contemporâneo e o heterodoxo.
O disco apresenta um elenco fascinante de canções e arte instrumental, e inclui algumas das composições mais desafiadoras e poeticamente incorrectas da trajectória de Bejar, que faz gala da sua mestria para retratar o sublime e o absurdo, consolidando-se como uma das presenças musicais mais intrigantes do momento. Agora, por fim, tê-lo-emos ao vivo no nosso país pela primeira vez e com a sua formação completa.
Também canadianos, Frog Eyes empregam a atmosfera de Tom Waits (época Raindogs), a frenética energia dos Cramps, o caudal vocifero dos The Fall e as diabólicas melodias de Nick Cave dos 80. Este colectivo post-punk já tem publicados três álbuns, entre eles o notável Folded Palm, onde se mostram abrasivos, coléricos, e altamente poéticos, dentro de um estilo que resulta de todo inclassificável. Frog Eyes são uma das melhores surpresas do underground para 2005 e já ganharam a admiração e os aplausos de gente como Devendra Banhart, Bright Eyes ou Xiu Xiu.
O nome The Strugglers faz alusão à música do singular cantor norte-americano Randall Bickford. Autor de dois álbuns e um EP de cinco canções The Fair Store, reflexo de uma maturidade buscada e encontrada por meio de uma tradição da qual não estão distantes Will Oldham ou Smog, mas também não Leonard Cohen, Bob Dylan ou Johnny Cash.Entrada: 7,5 €
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Sexta-feira 18 e Sábado 19 Fevereiro às 23h00
Cine-Concerto de Tributo a Carlos Paredes
Filmes e manipulação ao vivo Edgar Pêra |
Música de Pedro Gonçalves e Tó Trips com Dead Combo + Nuno Rebelo com Guitarra Mutante + João Lima (guitarra portuguesa) e Jean-Marc Dercle (contrabacia) dos O’Que Strada |Cine-concerto de Tributo a Carlos Paredes decorre no primeiro aniversário póstumo (80º) daquele que é tido como o mais importante e brilhante executante da guitarra portuguesa.
O espectáculo em questão terá como parte fulcral a projecção de imagens retiradas do filme-tributo a Carlos Paredes que Edgar Pêra trabalhou intensivamente no ano passado e que ainda se encontra a trabalhar.
Este projecto nasceu de um convite da associação Movimentos Perpétuos (projecto de homenagem a Carlos Paredes) para fazer uma curta-metragem (Guitarra Com Gente Lá Dentro) inspirada em Carlos Paredes (prémio melhor Vídeo Nacional VideoLisboa 2003 e exibido em Amesterdão no WorldWidevideoFestival2004). Entretanto Pêra foi desafiado para fazer um DVD sobre a vida e obra de Carlos Paredes e é nesse momento que nasce Movimentos Perpétuos. Arquitectado a partir de um concerto inédito de Paredes no Porto em 1984, o filme entretece imagens documentais e iconográficas do guitarrista, complementadas por filmes super 8 do arquivo do próprio Pêra relativos aos temas abordados por Paredes ao longo desse concerto (sobretudo a sua relação com a guitarra portuguesa e as três cidades que mais o influenciaram: Lisboa Porto e Coimbra)Cine-Concerto de Tributo a Carlos Paredes articula imagens do filme e imagens inéditas, com as diferentes actuações ao vivo de cada um dos músicos.
Pretende-se que os artistas escolhidos para trazerem a música de Paredes com novas roupagens e sensibilidades irmãs, mostrem a pluralidade estética das influências em que a obra de Carlos Paredes se conseguiu ramificar, como continua a importar tanto a pessoas que importam. Música em que Portugal e portugueses ressoam, insatisfeita e do coração.
Se Paredes foi mar, sal e o movimento perpétuo da alma e das coisas, foi não somente um transgressor, como alguém que ultrapassou o miserabilismo lírico das gentes portuguesas; pegou na nossa melancolia e brilho fatalista nos olhos e fez com que se tornasse paixão e força motriz, sem sebastianismos de qualquer espécie. Um raro artista que conseguiu ver o seu génio absoluto venerado pela maior parte do publico, que multiplicou os espaços de expressão do que é ser português e do que e tocar aquela guitarra.A guitarra portuguesa é, sem dúvida, o instrumento musical português por excelência. Embora muitos outros possam ser representativos da nossa identidade cultural, este é o instrumento musical que atingiu o estatuto de símbolo nacional. Músicos, como Pedro Caldeira Cabral, têm explorado a sua utilização em termos históricos. Apesar de habitualmente conotada como instrumento de acompanhamento do fado, foi nas composições e interpretações de Carlos Paredes que a guitarra portuguesa atingiu o seu mais elevado nível. Contudo, para além das utilizações convencionais, este instrumento não recebeu ainda uma abordagem significativa das estéticas do final do século vinte.
Na abordagem que este projecto pretende fazer à guitarra portuguesa tentar-se-á recuperar e integrar o peso cultural que este instrumento encerra em si, proporcionando-lhe uma contribuição rumo ao futuro.Edgar Pêra tem vindo a realizar cine-concertos em interacção com músicos e actores desde 1990. São objectos únicos e irrepetíveis que por vezes funcionam como laboratório de pesquisa de filmes futuros, outras vezes são remixes de filmes já estreados, ou então são muito simplesmente interpretações visuais e sonoras improvisadas em conjunto com músicos.
João Lima (guitarra portuguesa) e Jean-Marc Dercle (contrabacia) são músicos habitualmente associados aos Óque’strada (que irá editar proximamente o seu álbum de estreia, pela Transformadores), propõem-se a navegar pelos sons perpétuos que o mestre Paredes nos deixou, acrescentando algumas outras composições (intimamente relacionadas com a sua obra) da autoria de João Lima.
Os Dead Combo, isto é, Tó Trips (guitarra) e Pedro V. Gonçalves (contrabaixo, guitarra e melódica), surgiram em 2003 por ocasião de um convite do radialista da Antena 3 Henrique Amaro, para a gravação de uma faixa Paredes Ambience incluída no CD de homenagem ao grande Carlos Paredes Movimentos Perpétuos – Música para Carlos Paredes.
Juntando a influência da música de Carlos Paredes e do Fado, à das bandas sonoras dos filmes Western Spaghetti, os Dead Combo criaram um som que os identifica como únicos. Tal como numa das muitas excelentes críticas ao CD de estreia Vol. 1: o som do grupo pode ser descrito como se, a qualquer momento, Clint Eastwood entrasse numa casa de fado e do cimo das escadas a Severa lhe apontasse a porta do quarto.Guitarra portuguesa mutante, projecto de Nuno Rebelo, músico experimentalista, é o nome abreviado para guitarra portuguesa desafinada, preparada, acrescentada, processada e amplificada, não é mais do que uma homenagem à guitarra portuguesa, sem dúvida, o instrumento musical português por excelência.
A desconstrução criativa/transfiguração que a guitarra portuguesa sofre nas mãos de Nuno Rebelo assenta perfeitamente na essência subversiva da arte. O processo permite a deslocação do fado e da enigmática saudade em direcção a um sentimento de arqueologia abstracta fundamentado nos objectos de espaços interiores da mente e da alma raramente desenterrados.Entrada: 7,5 €
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Quinta-feira dia 24 Fevereiro às 23h00
Fuzz_Out_sessions
RICHARD YOUNGS
THE HOTOTOGISURichard Youngs
Na ressaca dos pós-punk, nomeadamente nas movimentações mais ligadas à exploração do ruído (quase sempre com um forte elemento performativo) de projectos como os Throbbing Gristle e Cabaret Voltaire mais extremos, ou o inferno de Whitehouse, algumas figuras, que se revelariam constantes e de extremo relevo até ao dia de hoje, emergiram como porta-estandartes secretos das movimentações do underground de música “freeform” britânica.Nesses anos verificou-se um desinteresse ou uma ignorância dos próprios britânicos para com a sua própria música de cariz mais exploratório e radical.
Nas duas décadas que se seguiram, é rara a atenção da imprensa e público neste submundo riquíssimo, quando em tempos projectos igualmente experimentais como os supramencionados eram divulgados de forma assinalável em publicações de grande circulação.Poder-se-á falar de uma santíssima trindade de “noisemakers”, de produção em iguais partes brilhante, estóica e regularíssima: Richard Youngs, Matthew Bower e Dylan Nyoukis. Não que anulem os trabalhos melhor documentados de Stuart Stapleton enquanto Nurse With Wound, a música livre dos Volcano The Bear, ou, mais tarde, as dezenas de fantásticas gravações da Vibracathedral Orchestra, mas esses exemplos conseguiram sempre outra visibilidade, mesmo que pequena.
Nyoukis, o único dos três que não vem a Portugal nesta ocasião, tem editado, há mais de quinze anos, as suas explorações lamacentas pelos campos do noise caseiro, seja através do seu nome próprio, Prick Decay, ou no duo Decaer Pinga. É regularmente chamado para abrir concertos dos Sonic Youth nas ilhas britânicas desde a década de 80, e só agora se começa a ver divulgação decente acerca do trabalho único deste incansável artista.
Foquemo-nos, então, em Youngs e Bower, sendo que o último vem mostrar o seu mais recente projecto, uma monumental aglutinação com Marcia Bassett, mística dos Brooklynitas Double Leopards (figuras de proa da actual cena de noise novaiorquina), e o primeiro conta interpretar a sua primeira peça, a totalidade do histórico álbum “Advent”, em ambos os concertos em solo nacional. Tratam-se de artistas cuja obra urge conhecer, descobrir ou redescobrir, que merecem bem mais que admiração a posteriori, mas sim que se criem muitas mais avenidas para as suas actuações e para a divulgação da sua música, na mais urgente forma possível.
Depois de um considerável boom de interesse nos Estados Unidos pelo seu inovador primeiro álbum “Advent”, que durou sensivelmente até meados da segunda metade dos anos 90, Richard Youngs, dos mais importantes criadores do último par de décadas para alguns, tornou-se alguém que esta lá mas a quem não se presta muita atenção para outros, e é um desconhecido para uma fatia considerável de pessoas que começou recentemente a prestar atenção as movimentações da musica independente mais extrema.
“Advent”, gravado em 1988 quando Youngs tinha 20 anos e editado dois anos depois (mas mais ouvido em 1997, quando reeditado pela Table Of The Elements), acabou por se vir a tornar num dos álbuns tidos como dos mais importantes para a formação de alguma da mais interessante música que viria a surgir em Colónia poucos anos depois (pense-se nos Oval, por exemplo). O uso que dava aos erros de material e à desintegração do som, acoplado com o primitivismo da natureza Sonora do disco e com os meios empregues, surgiu como uma revelação que se estende até aos dias de hoje
Detectam-se alguns padrões no seu trabalho. Pode-se falar no regular uso de longas extensões temporais em muitas das suas peças, numa forte componente ritualista, normalmente de cariz meditativo.
É dono de uma extensíssima discografia, onde se contam participações na mítica A Band (espécie de supergrupo do underground britânico dos anos 90), ou colaborações com Matthew Bower, Simon Wickam-Smith, Makoto Kawabata (Acid Mothers Temple), ou a magistral e mais recente, com o músico Alex Nielsen. Tocou também na histórica primeira aparição pública do eremita Jandek, enquanto baixista, no Instal Festival em Glasgow, que teve lugar há poucos meses…
Em discos como “Sapphie” (escrito para uma amiga falecida) ou “Making Paper”, Youngs usa padrões circulares de textura, harmonia e cadência em piano e voz. Através de uma repetição propositadamente imperfeita, cria lentas sequências de desintegração melódica e lírica. As palavras parecem desfalecer-se e renovar-se continuamente, de forma circular, até à narrativa dos álbuns chegar ao seu terminus na mesma estrutura em que começou, mas com novos significados.
Lançou no ano passado a que será porventura a sua obra maior, o sublime “River Through Howling Sky”. Usando um espanta-espíritos como instrumento de percussão, guitarra eléctrica de fuzz lânguido e lancinante, traça com estes elementos campos de som aberto onde as suas palavras parecem erguer-se meditativamente no ar como haikus de métrica desfigurada, cujos significados se vão subtilmente alterando de forma pausada e sacra, plenos de sabedoria mística e terrena.
Youngs é também autor de um exemplar livro de culinária, “Cook Vegan”, editado em 1994. Reside na Escócia, em Glasgow, com a sua esposa, onde trabalha como bibliotecário. Figuras como Ben Chasny (Six Organs of Admittance), Charalambides ou o colectivo Jewelled Antler têm-no como referência maior para a música que cruza idiomas de música folk com a experimentação, sempre a partir de fontes orgânicas e analógicas. Deve, em pelo menos uma das suas actuações, apresentar “Advent”, que acaba de ser novamente reeditado, pela primeira vez desde uma actuação na novaiorquina Knitting Factory em meados dos anos 90. Devido ao seu trabalho fora do mundo da música raras vezes realiza concertos, sendo que há alguns anos que não realiza nenhuma digressão. Aguarde-se e fale se destas duas actuações como oportunidades únicas e históricas para um dos artistas maiores do último par de décadas, seja em que campo for.
O duo The Hototogisu, criado algures entre 2003 e 2004, após a extensa digressão norte americana de Jackie-O Motherfucker, Vibracathedral Orchestra e Sunroof!, alinha duas figuras seminais que permanecem em elevados graus de produtividade, alinhando o melhor da exploração do ruído e do drone no Ocidente.
O trabalho de Matthew Bower gira à volta de três principais nomes: Total, Skullflower e Sunroof!. Habitou durante mais de dez anos a Cumbria rural britânica, tendo vindo a oscilar, desde o início de actividade dos Hototogisu, entre Nova Iorque e Leeds. O centro de todo o seu trabalho, do mais antigo ao mais recente, está posicionado na exploração das propriedades hipnóticas da música repetitiva. Seja através dos drones celestiais plenos de fuzz sujo e cintilante dos Total, a crueza dos riffs primitivos e circulares dos Skullflower, até às movimentações cristalinas de electrónica analógica e guitarra espacial dos Sunroof!. É proprietário da celebrada editora Rural Electrification Program e artista plástico.
Marcia Bassett é uma figura muito especial e discreta do underground norte-americano dos últimos dez anos. Iniciou o seu percurso numa banda de rock heroínamo, infinitamente melancólico – imagine-se os Velvets, suburbanos, em quatro pistas – os Un. Banda de Filadélfia, contou na segunda metade da sua vida criativa com a presença de Tara Burke (Fursaxa), editando um álbum para a fundamental Siltbreeze, bem como algumas cassetes e um 7”. Permanecem das mais mágicas e esquecidas bandas daquele período no tempo, música que qualquer puto adolescente com uma afeição particular por guitarras oblíquas e lancinantes devia poder ouvir mais facilmente. Partilharam palcos e digressões com a nata das bandas do underground da altura, caso dos Tower Recordings, Pelt ou Shadow Ring.
Saiu de Filadélfia para se vir fixar em Nova Iorque, onde o seu mais relevante e visível projecto, os Double Leopards, viria a nascer. Como o jornalista Marc Masters deles falou na Wire recentemente, é como se a música dos Leopards fosse “um búzio do tamanho da Terra”. O ruído interno das movimentações do subsolo aglutinado com alinhamentos estelares do mais profundo espaço sideral. “Halve Maen”, a sua obra-prima, permanece dos mais invulgares e fantásticos discos da música urbana do novo milénio.
A música The Hototogisu é profundamental ELEMENTAL, existindo em harmonia com elementos vivos. Hototogisu é o nome dado a um rouxinol que apenas existe no Oriente, pássaro sagrado cujo canto anuncia a chegada da Primavera. O cruzamento da música de Bower e Bassett resulta num drone ancião, de ressonância secular e propriedades meditativas monstruosas. Através de guitarra, microfones e demais parafernália processada em tempo real, criam mundos de som livre abrasivos como uma tempestade de gelo, sábios como Matsuo Basho no cimo da mais alta montanha de neve perpétua, plenos de gloriosa sujidade subterrânea. No pouco tempo que compreende a sua existência rapidamente se tornaram uma das mais altas entidades da “experimentália” ocidental, sendo que a sua vinda a Portugal para estes dois concertos marca as suas primeiras actuações fora dos Estados Unidos e das ilhas britânicas. Um raríssimo momento no tempo em que dois espíritos livres, de sensibilidades irmãs, se encontram em suprema empatia criativa.
Entrada: 7,5 €
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Sexta-feira dia 25 Fevereiro às 23h00
Stockhausen on the 49th year_sessions
PAULO RAPOSO
RUI COSTA
ANDRÉ GONÇALVESPaulo Raposo + Rui Costa + André Gonçalves
Para celebrar não apenas o quadragésimo nono aniversário da seminal peça de Stockhausen: “Gesang der Jünglinge” e o duplo CD que a editora SIRR lança em Fevereiro com 21 compositores internacionais, mas também o quarto aniversário da editora, Paulo Raposo com Rui Costa e André Gonçalves irão dar a escutar à audiência da galeria ZDB uma série de remisturas e variações sobre o CD em questão.A seminal composição para tape (fita) “Gesang der Jünglinge (Song of the Youths)” – de Karheinz Stockhausen foi composta em 1956 e é a primeira peça a integrar sons electrónicos (ondas sinusoidais) e concretos (a voz de um rapaz a recitar versos da Bíblia, particularmente do livro apócrifo de Daniel) e simultaneamente fazendo uso da espacialização (quadrifónica) no interior da própria escrita musical. Esta peça influenciou várias gerações de músicos de várias escolas, inclusivé a música popular, desde os Beatles até aos Sonic Youth.
André Gonçalves é licenciado em Design Visual e trabalha como designer e programador. Actualmente tem desenvolvido projectos em diversos campos desde vídeo e instalações intermédia, à manipulação sonora e improvisação em vários projectos musicais, incluindo os seus projectos a solo: ok.suitcase e etch. Encara os seus projectos como criações efémeras para determinado site-specific no qual o objecto audível/visível tem o papel de acelerador entre espaço e sensações.
Paulo Raposo vive em Lisboa, Portugal. Artista sonoro e visual, depois de estudar cinema e filosofia, tem apresentado desde os anos 90 o seu trabalho tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, em performances, instalações e composições. A sua abordagem envolve captura e manipulação de field-recordings através de software construído pelo próprio. Fundou a editora discográfica SIRR em 2001 que se dedica a promover novas formas sonoras e musicais.
Rui Costa exerce a sua actividade como artista sonoro desde meados dos anos 90. Desde 1998 iniciou uma colaboração estreita com o músico espanhol Iñaki Ríos, com o qual forma o duo ja_dijiste em 1999, e no qual explora técnicas de composição/improvisação baseadas em computador e desenvolve projectos de cariz conceptual apresentados em diversos palcos e galerias de arte do país vizinho. Desde 2002, faz parte do colectivo [des]integração, liderado por Paulo Raposo, e colabora com o selo musical SIRR. O trabalho ao vivo de Rui Costa privilegia a recontextualização de matéria sonora captada no meio ambiente e no dia-a-dia humano, construindo ambientes sonoros abstractos, mais ou menos fluidos e complexos.
Entrada: 5 €
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Sábado dia 26 de Fevereiro às 23h00
Staubgold_Sound_System_Sessions
MINIT
DAVID MARANHA
STAUBGOLD SOUND SYSTEM
Formado em Sidney mas hoje sedeado em Berlim, o duo Minit é composto por Jasmine Guffond e Torben Tilly. Tem dois álbuns editados, um pela Sigma, e o mais recente, Here Right Now, pela Staubgold.O seu mundo sonoro navega por territórios próximos daqueles explorados por artistas igualmente nascidos na Oceânia como Oren Ambarchi, Birchville Cat Motel (Campbell Kneale) ou Rosy Parlane. Tratam-se de drones sedosos, escuros e elegantes, experimentações em textura. O aspecto melódico é muito subtil e discreto, sendo que as propriedades harmónicas da sua música surgem como uma entidade estruturante do corpo das peças, como espectros. Recorrem a gravações de campo, utilizando formas tanto digitais como analógicas para planificarem as suas incursões por idiomas electroacústicos.
É hipnose subtil para abstracções acordadas e madrugadas meditativas, que pede um concerto contemplativo por parte de artistas e público. O projecto Minit tem tido uma vida activa ao vivo, tendo partilhado palcos com Kim Hiorthoy, Paul Wirkus, Rosy Parlane, Pimmon, Porter Ricks, Francisco Lopez, Chicks On Speed ou Hecker.
David Maranha nasceu na figueira da Foz 1969, iniciou a sua actividade como músico em 1984. Faz regularmente apresentações do seu trabalho na Europa e nos estados unidos. Trabalha a solo e com o grupo osso exótico do qual é fundador.
A sua música parece imbuída, em abstracto, de um léxico emocional português, sendo que obras de Alvin Lucier ou alguns trabalhos para órgão de Terry Riley são possíveis pontos de contacto.Tim Tetzner nasceu em 1974 na capital alemã do free-jazz Wuppertal.
Com duas mesas de mistura e um laptop, Tim Tetzner apresenta uma colagem eclética de sons, misturados por ouvidos abertos e mãos sensíveis, partindo da Nova Música e Avantgarde, Exotica e Strange Music do séc.20, até às mais recentes experiências post-techno do underground de hoje.
Tim Tetzner é metade do Staubgold Soundsystem, projecto formado com Markus Detmer. Juntos, foram anfitriões mensais de Klanggold – noites no mais fino clube de Berlin NBI, oferecendo um leque de todos os tipos de música experimental, electrónica e pouco usual. Aparte disto, em conjunto com Annibale Picicci, dirige a conhecida loja de discos Dense, a primeira escolha em Berlim para música experimental e electrónica. Tem feito a primeira parte de concertos de artistas como Kim Cascone, Farmers Manual, Arnold Dreyblatt, Rechenzentrum, David Moss, Alexander Balanescu, Xiu Xiu, Devandra Banhart, entre outros.Entrada: 5 €
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Sexta-feira 4 Março às 23h00
weird_electronic_sessions
DJ OLIVE
THE PRODUCERS
HANA BI
NOT SODj Olive, filho de realizadores de filmes etnográficos, foi criado entre Rhode Island, Nova Escócia, Trindade e Austrália. Em 1990, depois de ter vivido na Grécia, mudou-se para Brooklin, tornando-se num membro activo do movimento Williamsburg, acabando por co-fundar a Lalalandia Entertainment Research Corporation.
Em 1994, cria a Multipolyomni.com, começando a produzir eventos de música ambiente em Brooklyn e Manhattan.
Em 1999, juntamente com Toshio Kajiwara, funda a Phonomena Audio Arts & Multiples, evento semanal, que decorre no Sub-Tonic, que serve de plataforma para dj’s e “beatmakers” desenvolverem electrónicas abstractas, e de espaço electro acústico de improvisação, para artistas internacionais.
Nesse ano, cria por brincadeira o termo: ”illbient”.
Em 1999, funda com James Healy a editora Agriculture.
Em 2003, após muitos anos de colaborações com artistas como Sonic Youth, Ikue Mori, Kim Gordon, Christian Marclay e John Zorn, decide editar o seu primeiro trabalho a solo “Bodega”, bem como o seu recente álbum “Emulatory Whoredom”. Estes discos são uma reconciliação de sons e texturas de toda a sua experiência como viajante; banda sonora perfeita para tardes de verão quentes e sessões de chill out sub harmónicas.Producers, nome sob o qual Miguel Sá e Fernando Fadigas se apresentam como músicos, produtores e representantes da sua própria editora, Variz.
A sua música é fruto do uso bem sucedido de ‘soft-ware’ e ‘hard-ware’, cruzando a linguagem dos ‘blips’ e ‘beats’ com digressões por superfície texturada, dissecações rítmicas e experiências de cisão molecular.
Editaram o álbum “7/10” (Fundação Calouste Gulbenkian, 2001) e a compilação “Metrómetro” (CD, Variz, 2003) criticada na WIRE magazine – 2003 Rewind (Janeiro 2004) por Chris Sharp. Participaram ainda na compilação “Air Portugal” (CD, 00351, 2001) e “Sonic Scope 04: The Portable Edition” (CD, Grain of Sound/Fonoteca Municipal de Lisboa, 2004).“Os Producers (…) fazem mexer o ar com uma espécie de tecno arty, físico, caprichoso e duro, sacado a uma linha de montagem vintage especializada em inventar fugas de gás em unidades fabris fantasma.”
Jorge Manuel Lopes“Não são só as amostras de ultra-sons, assim como não são os lugares de Hana Bi nem os “kicks” variados. Tudo junto funciona e a sensação final é que estive perante uma das combinações de sons e de estruturas mais bizarras que vi nos últimos anos.”
João da ConcorrênciaHana Bi vive e trabalha em Lisboa. Frequentou o curso de cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, realizou o curso de Produção e Gestão das Artes do Espectáculo pelo Forum Dança, e em Julho passado concluiu o curso de pós-produção audiovisual na Restart – Escola de criatividade e novas tecnologias na área do audiovisual.
Hana Bi desenvolve trabalho com diferentes frequências, utilizando o vídeo como injector de tópicos cromáticos que sugerem narrativas fugazes, recorrendo a conceitos visuais imediatos.
As estórias instalam-se num quotidiano veloz, ao qual os Producers emprestam uma banda-sonora.
Com a experiência da realização de um video clip do àlbum “Fabulous Muscles” do projecto de Seattle Xiu Xiu (Tom Lab), integrado no workshop da dupla de Colónia Graw Böckler – Raum für Projektion, Hana Bi estabelece-se nas novas abordagens de vídeo sob a condução de uma banda sonora ao vivo, criando um encontro experimental entre as duas linguagens.Not So
Pedro Mota vive no Bairro Alto e trabalha como designer. Iniciou há um ano o projecto Not So onde procura explorar os paradoxos do som. A melodia através do caos, a construção pela desconstrução, o recurso aos broken beats e os ambientes naïve são o ponto de partida das suas experimentações.
Not So deu origem a um EP e ao álbum “Solutions/Revolutions”, ambos edições limitadas muito bem recebidas junto da crítica especializada. O Cd “Fórmula Electrónica #1” editado pela Fonoteca de Lisboa inclui o tema “Breakinin”, do EP.
Além de No So, Pedro Mota é o mentor de outros projectos peculiares como: “Frank Lee”, “Dabster”, “4__20SEX”, “Cadeira Eléctrica” e o trabalho “Debaixo da Escada” (de 2001) teve uma edição de autor de 50 cópias em CD-R.
Nas apresentações ao vivo, Pedro Mota usa o Laptop como instrumento.
Sobre o projecto, o Blitz escreveu “Speed-Broken-Beats em paisagens ambientais, ensaio sobre o paradoxo sonoro por Not So”.Entrada: 7.5€
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Sábado dia 5 Março às 23h00
electronic_pop_sessions
HIPNÓTICA
BANDEX
Hipnótica
CD / Livro & A DIGRESSÃO DE APRESENTAÇÃO
Hipnótica, composto por João Branco Kyron, Bernard Sushi, António Watts e Sergue, é um dos projectos mais interessantes da música portuguesa, onde a electrónica se confunde com a pop e o experimentalismo.
Na Galeria Zé dos Bois apresenta-se o percurso dos Hipnótica nos seus primeiros 10 anos, em CD, Livro e concerto.
Ao vivo, os Hipnótica estarão acompanhados pelos já habituais, Abdul MoiMême no sax e Eduardo Raon na Harpa, Sintetizadores e Metalofone. A sua actuação será concentrada nas músicas do seu mais recente álbum Reconciliation, mas a propósito da edição pela Fnac do seu novo livro/cd, também revisitarão alguns temas dos álbuns anteriores.«Breves histórias sob o efeito de Hipnótica 1994 – 2004»
“Estarmos receptivos a diferentes ângulos de visão sobre a música é algo que sempre fez parte da nossa essência como Banda.
É redescobrir novas abordagens a estilos e linguagens que muitas vezes não se revelam em todo o seu fulgor à superfície e perceber que a aprendizagem tem que ser constante – parar a meio do caminho para auto-contemplação implicaria no crescimento de raízes que em muito dificultariam o retomar do passo.
A aprendizagem é bagagem que se carrega, mas a caminhada não pode parar. Foi justamente esta ideia que quisemos também transportar para este livro. Que o seu conteúdo não fosse meramente o fruto de contribuições e ideias de membros da banda, mas que também apresentasse outras visões e opiniões, dos últimos 10 anos dos Hipnótica, dos movimentos musicais a nível nacional e internacional, enfim, dos diversos rumos possíveis que se fundem no aqui e agora.
Gostávamos de ter tido muitas mais participações, mas como devem compreender as ofensivas de “clube de combate” DIY (do it yourself) têm algumas limitações $. Resolvemos, assim, convidar três Amigos que são jornalistas, como nós apaixonados por música e que acompanham o nosso percurso praticamente desde o início.”Bandex é um quarteto de Lisboa, formado em Março de 2003, por Nuno Gelpi (sampler), Miguel Gelpi (contrabaixo), Mario Moral (guitarra) e Daniel Meliço (bateria), que tem tido desde essa altura, uma agenda bastante preenchida.
Provavelmente por causa da realização de actuações regulares (20 concertos em 11 meses) os Bandex têm desenvolvido a capacidade de executar longos espectáculos, tanto em quarteto, como com convidados, em quinteto.
Para estes concertos, que podem chegam a durar 2 horas, o grupo consolidou um reportório crescente de cerca de 25 temas, que vão mudando de forma e conteúdo. Ao vivo, os músicos pegam nos temas construídos e improvisam a partir dos sons e das estruturas originais.
As bases da música dos Bandex são, por um lado, a colagem de sons através do sampler como na tradição do hip-hop, por outro, as técnicas de mistura dub, com o destaque dado à secção rítmica e aos filtros e efeitos característicos deste tipo de sonoridades.
Durante o Verão de 2003, o quarteto acabou as misturas do álbum de estreia homónimo ‘Bandex’, produzido e misturado pelo próprio grupo e lançado em Setembro de 2004. ‘Bandex’ conta com 13 temas originais e convidados como o vocalista Vicki Love, madrileno residente em Nova Iorque, co-autor de algumas das letras, e o percussionista porto-riquenho Julio ‘Panzer’ Perez.Entrada: 7.5€
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Quinta-feira dia 10 Março às 23h00
avant_jazz_sessions
TOWN AND COUNTRY
Para o seu quinto lançamento, Ben Vida (corneta, guitarra, harmónica)
Liz Payne (viola, sinos, Celeste), Jim Dorling (clarinete baixo, harmónica), e Jim Dorling (baixo), continuaram as suas expedições em torno da música natural. 5 foi gravado nos Club estúdios por Jeremy Lemos (Jim O’Rourke)em Maio de 2003.
Influenciada por música japonesa de Gagaku, John Cale e Syntonic Research’s Environments LP’s (apenas para nomear alguns), a base de Town and Country é composta por padrões de sons delicados. A música resulta rica em detalhes, embora forte e harmoniosa.
É importante ter em conta que em 5 não foi usada qualquer amplificação. Para criar esta música, não se recorreu a computador, sampler, ou electrónica de qualquer tipo. É puramente acústica. Os composições foram interpretadas praticamente ao vivo, o grupo simplesmente tocou sentado numa sala com alguns microfones. Não houve remisturas, apenas se seleccionou gravações das diferentes versões das músicas para se chegar à faixa final.
A faixa de abertura, “Sleeping in the Midday Sun,” começa com um trio intenso de baixo, viola e corneta. A dada altura, este espaço estático abre-se para se transformar num ritmo brilhante, que se demonstra pleno de fascínio excitante, composto por shakera, guitarra acústica e harmónica.
“Lifestyled” à partida oferece uma barreira de som acústico, que analisado de mais perto revela melodia e mistério.
Outro grupo de peças como”Aubergine”, “Old Fashioned” and “Non – Stop Dancer”, pode ser considerado como música de câmara. Disposição e melodia é o que move estas faixas.
Há pequenos momentos de tons melancólicos que soam a leveza e alegria.
As composições de Town and Country são completamente modernas.
Por vezes têm muito em comum com a música intensa de Autechre, Kevin Drumm, Phill Niblock, ou Mogwai.
O que separa uns dos outros é que as músicas de Town and Country são tocadas com instrumentos acústicos, em vez de computadores.
Bonito, único e rico.Entrada: 7.5 €
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Sexta-feira dia 11 Março às 23h00
avant_garde_sessions
VÍTOR RUA
RESSOADORES
MÁRIO VOLPE
Vítor Rua começou a sua carreira no final dos anos sessenta, como um dos músicos mais interventivos do panorama pop/rock português.
Em 1982, com Jorge Lima Barreto forma o projecto Telectu.
Em 1987, num acto de determinação autodidacta, decide ir estudar notação da música contemporânea.
No seu percurso como músico improvisador, encontram-se nomes como: Jorge Lima Barreto, Chris Cutler, Elliott Sharp, Jac Berrocal, Nuno Rebelo, Carlos Zíngaro, Jean Sarbib, Evan Parker, Paul Lytton, Eddie Prévost, Louis Sclavis, Sunny Murray, Ikue Mori, Paul Rutherford, Giancarlo Schiaffini, Barry Altschul and Daniel Kientzy.
Na ZDB, Vítor Rua apresenta Vítor Rua & os Ressoadores, projecto de improvisação Gótiko/ Akusmática.
Uma improvisação estruturada com muito haxixe pelo meio.
Há facas, guitarras, clarinetes e vozes… e corpos…
Fume bastante antes de ir… e depois…Ressoadores
Iana: facas, colete e luva
Gonçalo Falcão: guitarra eléctrica preparada
Paulo Galão: clarinete, clarinete baixo
Inês Oliveira: multi-instrumentista
Vítor Rua: processamento do som e direcção“A sua técnica instrumental caracteriza-se pelo recurso a patterns na execução de escalas baseadas na linguagem modal, sobretudo no desempenho de improvisações no âmbito do pop-rock. Na criação de música improvisada, recorre frequentemente a técnicas instrumentais menos comuns (designadas “instrumental extended techniques”) de modo a explorar as várias potencialidades tímbricas e texturais. É também frequente o uso do processamento electrónico do som. Com uma forte componente humorística (no uso de alguns timbres, nas técnicas instrumentais e vocais, nos textos, e.a.); o seu estilo composicional é igualmente caracterizado pela exploração de pequenos fragmentos (uma escala, uma sucessão de sons, uma pequena frase rítmica) e pelo recurso a técnicas instrumentais menos comuns (e.g. tapping no contrabaixo) para a obtenção de timbres específicos, não directamente associados à fonte sonora que os produz”.
Pedro RoxoMário Volpe “Jillo”, artista, performer, compositor, gráfico e sound designer, conduz “Art Brut Remix”- Wolfli version.
Uma homenagem afectuosa e desvairada à Art Brut, um tipo de expressão artística que segundo o pintor e escritor Jean Dubuffet, inventor do termo, representa algo que jorra sem condicionamentos, ou selvagem que vem do fundo, mais visível nos psicóticos e nas crianças.
Música improvisada, por vezes abstracta, líquido amniótico e por outras ainda, pulsante, saltitante, hipnotizante, com cut up de textos de Dubuffet, Wolfli e Landolfi, reelaborados e lidos, em forma de diálogo por Sandra Pires; Live painting de Marcello Maggi, também toca o trompete; Instrumentos tradicionais ironicamente descontextualizados, tocados por Katahrina (Didjeredoo) e Genito (Timbila), pistas invisíveis remixadas ao vivo por Jillo de Henry K e Miky Ry mais um vídeo preparado ad hoc pelo colectivo Dream Lab (Ape5, Pando e Jillo).
Esta é a “Art Brut Remix”- Wolfli version.
Adolf Wolfli, artista esquizofrénico, TommasoLandolfi, escritor patafísico, Jean Dubuffet, pintor anárquico.
Três homens heterogéneos e hiper-produtivos, inventores pacientes e divertidos.
Diferentes mas com o mesmo objectivo: desconstruir a língua.
Quando dizemos língua, referimo-nos a muitas coisas, entramos nos mais variados territórios: estético, político, social.
Artistas anti-institucionais por excelência, fizeram da própria arte uma óptima via de fuga (real, não sublimada, não há recalcamento nas suas obras) da gaiola (vazia) do sentido.
Basta ler os títulos das obras de Dubuffet, ou as partituras com seis linhas de Wolfli, ou ainda o primeiro conto de Landolfi (Dialogo dei Massimi ~Sistemi) para perceber imediatamente o jogo a que se brinca.
Este nosso projecto é dedicado a eles: aos seus passeios cósmicos, às suas incursões matéricas, aos seus delírios linguísticos.Entrada: 5 €
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Sábado dia 12 Março às 23h00
electronic_sessions
K.I.M.
DANYE77A
K.I.M. é um grupo activista vegetariano composto por Flokim Lucas e Jimi Bazzouka.
Bazzouka foi um famoso militante anti-capitalista, responsável pelo metódico processo de bombardeamento de vários edifícios institucionais nos Estados Unidos da América, (incluindo o do Chapel Hill Postal Office, em 1972); também conhecido pelo seu envolvimento no passado com guerrilhas em países como Nicarágua, Colômbia ou México.
Depois de ter virando as costas a lutas cruéis, violência gratuita e políticas sem rumo, Bazzouka encontrou lugar como jardineiro na comunidade hippie K.I.M. em Vik, na Islândia.
K.I.M. é um anacronismo criado originalmente para ilustrar a filosofia e o tipo de vida do pai da comunidade e celebridade alemã, Ulrich Vordstorm. Os membros da K.I.M. reconhecem-no como Kern.Im.Mordsee, uma luz inspiradora que guia os caminhos da comunidade K.I.M., num conjunto de preceitos e deveres que por contrato com a Tigersushi deverão continuar bastante obscuros e indecifráveis para as massas.
Segundo informações biográficas de diversas fontes, Bazzouka foi enviado para fundar uma sub-divisão da comunidade K.I.M. no sul de França, onde conheceu Flokim Lucas, uma refugiada coreana, bibliotecária de K.I.M, com vários registos musicais ao seu cuidado provenientes de diversos biscates e vendas de garagem.
Apesar do árduo trabalho que implica o desenvolvimento da segunda comunidade K.I.M., Bazzouka e Lucas decidiram alegadamente, usar os enormes lucros provenientes da venda de melões à beira da estrada, em dois esquemas diferentes. O primeiro: a produção industrial de bonecas de voodoo como parte de um plano maior para solidificar as outras comunidades K.I.M. no norte de Europa. O segundo, a edição de um álbum que remistura as suas próprias músicas e as suas canções favoritas de outros autores.
Apesar de Bazzouka e Lucas não incluírem qualquer tipo de mensagem subliminar e/ou propaganda neste álbum, a editora Tigersushi ( que optou por não o editar) nega qualquer responsabilidade nas consequências que possam advir da audição de K.I.M..
Continuamos sem saber quem são e onde vivem. Sabemos que formam uma seita chamada K.I.M. e que gostam de uma grande variedade de boa música como Moondog, Psychic TV, Larry Levan ou The Smiths… Todos estes músicos habitam no peculiar Panteão musical de K.I.M..Danye77a
Após duas apresentações na Galeria Zé dos Bois na “Noite às Novas” e na “Mostra de Musica Electrónica”, Danye77a apresenta k7, espectáculo performativo em que contribuem Kako (som) e Edgar M (vídeo).
Música edificada a partir da casa e do instinto primeiro e básico, partilha de um universo pessoal nu, da intimidade do quarto para os tímpanos do público. O trabalho de voz é feito de aparentes verbalizações internas, tão primitivas como a electrónica usada neste projecto, que envia ondas de estática como espectros, a contaminar e rodear o mundo de palavras e sons vocalizados de Danye77a.
Digitalização e transfiguração de solidão e de real, em música, reflectidas num espelho partido.Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 17 Março às 23h00
post_rock_sessions
JULIE DOIRON
BERG SANS NIPPLE
Julie Doiron, ex-baixista do grupo de noise-pop psicadélico Eric’s Trip – autores de vários álbuns pela Sub Pop no início dos anos 90 –tem vindo a aproximar-se de um folk caseiro e intimista que a coloca à altura de artistas como Hope Sandoval ou Kristin Hersh. Com sete discos editados, um dos quais vencedor do Grammy para Melhor Álbum em 2001, esta songwriter de Montreal consolidou-se como uma das mais expressivas da sua geração, conseguindo chamar a atenção de Howe Gelb (Giant Sand), que colaborou no álbum “Loneliest In The Morning”.
A sua capacidade inata de emocionar revela-se no mais recente LP “Goodnight Nobody”, um álbum repleto de músicas pop-folk, ora iluminadas, ora escuras; canções que invocam o passado e as pessoas queridas numa linguagem musical intensamente emotiva.
Com a escrita segura de Will Oldham – poder-se-ia dizer que a sua canção “Goodnight Nobody” é semelhante à poesia de “Viva Last Blues” de Palace – , e com a capacidade de encontrar tesouros na sensibilidade de um Nick Drake, Julie, congrega melodias que apesar de agridoces, espalham ternura triste e emoções directas. Desde a crepuscular “Dirty Feet” às sonoras “Last Night” e “No Moneu Makers”, passando pela nervosa “When I Awoke”, Julie entrega-se a um “tour de force” introspectivo que vai mais longe do que se espera normalmente de um songwriter habitual. Sabe distinguir a verdade da realidade, a sinceridade do exibicionismo e despojoar-se em público como já o fez em festivais como Tanned Tin 2003 e Primavera Sound 2004.Berg Sans Nipple é um duo parisiense formado por Shane Aspegren e Jerome Lorichon. Conhecemos Jerome como sendo um baterista excepcional, responsável pelo ritmo de bandas como Purr; e Shane através dos créditos de bandas como Songs:Ohia. Podemos ver como ambos apoiaram Nicolas Laureau na transmissão directa de Don Nino.
Isto foi no início de 2002, altura em que já se envolviam em experiências de som, armados com pequenos vibrafones.
Berg Sans Nipple suga a vida como um mutante fabricante de ideias através de “Marie-Madeleine”, um EP com a colaboração de Dominique A. que canta “Form Of …”. O seu início reuniu músicos como Luke Sutherland em “Long Fin Killie” e Ohad Benchetrit e Justin Small em “Do Make Say Think”. O primeiro disco é um surpreendente cruzamento de espontaneidade, talento e heterodoxia, perfeito para compreender o mundo de Berg Sans Nipple. Foi possível comprová-lo nas actuações espectaculares que fizeram a meias com L’Altra nos festivais Tanned Tin 2003 e Primavera Sound 2004. Qualquer coisa pode acontecer, quando dois multi-instrumentalistas estão frente-a-frente com possibilidade de improvisação, poder rítmico e instinto melódico.
“Play the Inmutable Truth”, o seu último EP, é a maior prova da essência iconoclasta de um projecto já por si quase impossível de classificar: sussurros pop, ritmo sincopado, ecos de vibrafone e melodias desencaixadas. Como sempre, um todo original, expressivo e eclético… Agora entre nós!Entrada: 7,5 €
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Sabado dia 19 Março às 23h00
experimental_electronic_sessions
HEIMIR BJÖRGÚLFSSON + HELGI THORSSON
DJ OLIVE + NUNO REBELO
Heimir Björgúlfsson e Helgi Thorsson nasceram ambos em Reykjavik,
Islândia, em 1975. São artístas plásticos e músicos de electrónica.
Vivem entre a Islândia e Amesterdão. Heimir Björgúlfsson tem numerosas edições a solo em editoras como Ritornell/Mille Plateaux, Staalplaat, Bottrop-Boy Records e, claro, FIRE.inc, que ele dirigiu de 1993 a 2003. Colaborou com diversos músicos improvisadores como Oren Ambarchi, Gert-Jan Prins, Jeff Carey e Pimmon.
Desde a sua saída dos Stilluppsteypa em 2002, trabalha com os The Vacuum Boys e com a starlet islandesa Jonas Ohlsson. Helgi Thorsson é membro dos Stilluppsteypa desde 2002 com quem lançou vários trabalhos em editoras como Staalplaat, Ritornell/Mille Plateaux, ATAK, Bottrop-Boy Records and FIRE.inc. e actuou na Europa e Estados Unidos. Colaborou noutros projectos com Pimmon e com a o famoso DJ Musician.Product 05
(Lançamento de crónica electrónica)
O quinto volume da série Product consiste em mais uma edição de um live act do Earational Festival, desta vez apresentamos os trabalhos: Freiband, projecto de Frans de Waard, e Boca Raton, projecto de Martijn Tellinga.Dj Olive + Nuno Rebelo
Dj Olive, filho de realizadores de filmes etnográficos, foi criado entre Rhode Island, Nova Escócia, Trindade e Austrália. Em 1990, depois de ter vivido na Grécia, mudou-se para Brooklin, tornando-se num membro activo do movimento Williamsburg, acabando por co-fundar a Lalalandia Entertainment Research Corporation.
Em 1994, cria a Multipolyomni.com, começando a produzir eventos de música ambiente em Brooklyn e Manhattan.
Em 1999, juntamente com Toshio Kajiwara, funda a Phonomena Audio Arts & Multiples, evento semanal, que decorre no Sub-Tonic, que serve de plataforma para dj’s e “beatmakers” desenvolverem electrónicas abstractas, e de espaço electro acústico de improvisação, para artistas internacionais.
Nesse ano, cria por brincadeira o termo: ”illbient”.
Em 1999, funda com James Healy a editora Agriculture.
Em 2003, após muitos anos de colaborações com artistas como Sonic Youth, Ikue Mori, Kim Gordon, Christian Marclay e John Zorn, decide editar o seu primeiro trabalho a solo “Bodega”, bem como o seu recente álbum “Emulatory Whoredom”. Estes discos são uma reconciliação de sons e texturas de toda a sua experiência como viajante; banda sonora perfeita para tardes de verão quentes e sessões de chill out sub harmónicas.Nuno Rebelo compõe para teatro e dança há vários anos, tendo obra editada em selos como a AnAnAnA e a OCV; fez parte dos Mler Ife Dada, Plopoplot Pot e Streetkids.
Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 24 Março às 23h00
avant_jazz_sessions
RUI FAUSTINO TRIO
PETER BASTIAAN TRIO
Rui Faustino Trio
O trio de música improvisada composto por Rui Faustino (Bat. e Perc.), Steffen Faul ( Trp. e Electronics) e Alexander Beierbach (Saxofones) teve início no Inverno de 2004 em Berlim.
O grupo é a consequência de um trabalho desenvolvido pelo baterista com os outros dois músicos em projectos distintos, onde a crescente necessidade destes músicos de se libertarem de formas musicais pré estabelecidas e a capacidade de composição em tempo real culminando quase sempre em composições de forma, discurso e sonoridade próprias, foram os ingredientes para a solidificação desta constelação.
O grupo teve desde o início uma actividade constante até no Verão de 2004 se fazer notar dando início às sessões de Free no Club LungoLounge em Prenzlauer Berg. O culminar desta temporada teve como resultado a gravação de um CD (não editado).
A música tocada pelo grupo só tem paralelo no encontro fortuito de alguém que se conhece e tem algo em comum, neste caso o Jazz, a Música Contemporânea ou Neue Musik e a Música Experimental, Improvisada.
Esta visita aos palcos portugueses será a sua estreia fora da Alemanha.
Peter Bastiaan Trio
“A cor do som” é a forma como Peter Bastiaan define o seu trio, composto por Peter Bastiaan (Sax, etc.), Pedro Gonçalves (Contrabaixo) eMaster Ndu (bateria). A origem da sua música situa-se algures no neolítico e chegou ao século XXI, há uma dezena de anos. Projecto que aproveita a multiplicidade de sons audíveis desta nave que é o planeta.
A intencionalidade da música sonora com a possível implicação matemática proporciona uma diversidade de sonetos (voz, cordas e precursão) que tem residido na cultura afro-americana, abrindo muitas portas para a descoberta sónica.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 25 Março às 23h00
broken_beat_sessions
DROP THE LIME
SICKBOY MILKPLUS
ROTATORDrop The Lime, aka L. Venezia, nascido e criado em Nova Iorque, é tido como uma coqueluche das mais recentes explorações no campo do digital hardcore norte-americano. Sendo simultaneamente das figuras mais visíveis da cada vez mais emergente editora Broklyn Beats, que tem lançado vários 7” e 12” de dança extrema. Enquanto crescia, tomou inspiração da cena local de raves, iniciando o seu percurso como músico em sets de drum’n’bass e jungle em festas.
Recentemente tocou na edição do Sónar, chegando a Portugal após datas no CMJ Music Festival @ Tonic e no Clinic.
Em 2004 lançou «Surrender To The Sound», surgindo na Galeria Zé dos Bois ao lado de Kid 606 como dois dos mais profícuos e delirantes produtores da Tigerbeat6, o centro da electrónica desenfreada pancontinental. Não há pastilha que aguente, portanto o melhor é perder o controlo ou mudar de sala.Sickboy Milkplus
A tradição de combinar perversidade com satisfação, transformando-a num verdadeiro choque sonoro, não abandonou a música pós-moderna, acabando por agir como uma “cultura-abutre” que percorre o seu caminho na produção de carcaças de megabits estaladiças e linhas agradáveis de samplings vigorosos.
Sickboy, aka Jurgen Desmet, nascido em 78 na Antuérpia, subiu a parada com este pedaço digitado de caos alucinante, onde nunca se sugere melodias ou ritmos funcionais, mas onde se equilibra entre devaneios sem remorsos na linha que divide o aceitável do cinismo. Acima de tudo, não é negligenciar a consciência humana, é antes de mais reunir um excitante impulso máximo que produz uma propositada reviravolta avassaladora em quem ouve: Imagine-se um maníaco de Manowar inveterado com um princípio de que “os fracos e esquisitos devem sair da sala” encarnado numa sinuosa representação de um breakbeat abundante… Arruma a sala mais rápido do que um alerta de bomba e seguramente deixa para trás as mentes patrióticas com um martelo enfiado na cabeça. Música que vai arrasar como um tufão todos os “ai! Jesus!”.Rotator: Imagina o maior rufia do bairro, que recolhe subserviência hardcore de quem quer, de uma forma que só ele pode prever…
Nada de cenas, este é o regresso de Rotator à sua potência máxima!!! Esmagando as ruas como uma Orquestra de beat de um só músico, com todo o poder que te é permitido imaginar visto que se trata de uma mera amostra do que estás prestes a testemunhar com a força dos grande e a capacidade cerebral do pessoal do “vai-te lixar”. Agora estamos todos nisto juntos, e tu, queres “beat down with the king”?Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 26 de Março às 23h00
american_folk_sessions
JOSEPHINE FOSTER
Josephine Foster, metade do duo Born Heller, vem pela primeira vez a Portugal, apresentar o seu último trabalho All the Leaves Are Gone, na Galeria Zé dos Bois .
Na última Primavera, fomos surpreendidos por numa mistura explosiva formada por arranjos sofisticados e sons folk acústicos da montanha, por parte da dissidente da escola de ópera Josephine Foster, em Appalachian. Para muitos, o efeito da sua voz – gravada e ao vivo – não originou mais do que leves calafrios desde que o duo se formou.
Depois de uma volta no estilo de 180 graus, Josephine Foster & the Supposed oferecem agora um golpe de exuberância escaldante.
Em All the Leaves Are Gone, Josephine assume a sua veia rock & roll e instintivamente retoma a essência da lendária Patti Smith e de Jefferson Airplane no seu período inicial de beleza desafiadora, enquanto conduz o apogeu de uma sessão de ritmos angular e fluida que triunfa tanto quanto o som clássico de Television, e ao mesmo tempo psicadélico de décadas passadasEntrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 31 Março às 23h00
experimental_electronic_sessions
MAR BEHRENS
PAULO RAPOSO
JOÃO CASTRO PINTO
Marc Behrens
Nascido em Darmstadt, Alemanha, Marc Behrens vive e trabalha desde 1991 em Frankfurt, recentemente também em Grimacco, Itália; é um cidadão dos reinos de Elgaland-Valgaland desde 1997.
Depois de começar os seus estudos em Jazz experimental e grupos de Rock no final dos anos 80, e após uma série de edições em cassete, gravações de feedbacks acústicos e trabalhos multimédia durante os anos 90, hoje em dia Marc Behrens é definido como “artista sonoro”, trabalhando em performances e instalações e editando peças gravadas.
Tem-se apresentado ao vivo e exposto por toda a Europa, Japão, Médio Oriente e América do Norte.
Marc Behrens cria peças electrónicas delicadas, a partir de “field recordings” editados e processados. Estes são captados em florestas, espaços arquitectónicos, subterrâneos e em construções. O material sonoro adicional é criado com objectos manipulados, como por exemplo bolas de borracha e blocos de madeira.
Ao vivo, ele usa por vezes microfones em contacto com o seu corpo…CDs de Marc Behrens foram editados pelas editoras Trente Oiseaux (D), Digital Narcis (JP), Raster-Noton (D), Edition… (EUA), Intransitive (EUA), SIRR (P), Absurd (GR) e Crónica (P).
Paulo Raposo
Paulo Raposo vive em Lisboa.
Depois de estudar cinema e filosofia, tem apresentado desde os anos 90 o seu trabalho enquanto artista sonoro e visual, tanto na Europa como nos Estados Unidos, em performances, instalações e composições.
A sua abordagem envolve captura e manipulação de “field-recordings” através de software concebido pelo próprio.
Fundou em 2001 a editora discográfica SIRR que se dedica a promover novas formas sonoras e musicais.João Castro Pinto
Depois de integrar vários projectos de outras áreas musicais, João Castro Pinto desenvolveu o seu profundo interesse por música experimental electrónica/electroacústica durante a segunda metade dos anos 90, tendo realizado as primeiras experiências de criação sonora neste âmbito.
Em 1999 foi seleccionado pelo concurso “Jovens Criadores” na área de Música, com a peça “Impressões Sintéticas”.
Paralelamente a este processo, desenvolveu interesse por Filosofia (cursa na FCSH, da UNL) e por múltiplas facetas da arte experimental: vídeo, instalação, intermédia, etc… É a título deste interesse que, em 2000, vence a 8ª edição da “Bolsa Ernesto de Sousa” com o projecto “A SENSE OF FLOW”, baseado na paisagem audiovisual do rio Tejo.
Realizou um estágio Intermédia na Universidade de Iowa e apresentou ” A SENSE OF FLOW ” na Experimental Intermedia Foundation de New York em 2001.
Tem apresentado performances e realizado residências artísticas em países como E.U.A., Alemanha, Áustria, Itália e Grécia.
Co-fundou em Janeiro de 2003 a ESPECTRO, uma organização não formal e não lucrativa que se dedica à promoção e incentivo das artes de carácter experimental contemporâneo.
Conceptualizou o “Hertzoscópio” – Festival de Arte Experimental e Transdisciplinar que já conta com duas edições realizadas.
Colabora com vários artistas portugueses e estrangeiros como Koji Asano [jp], Tom Hamilton [usa], Karlheinz Essl [at], Coti [gr], Boris Hauf [at], Emanuel Dimas Pimenta, Eduardo Reck Miranda [jp], Leonello Tarabella [it], o colectivo audiovisual [des]integração, entre outros.
A sua abordagem em termos audiovisuais centra-se numa estética experimental que procura evocar e recriar ambientes / cenários relativos a experiências relacionadas com a riqueza e diversidade contida nas paisagens: “sound/visual scapes”, procurando perspectivar narrativas e expressões não-lineares.
A utilização de meios informáticos é considerada um modus operandi que fornece inúmeras hipóteses de afirmação/(re)criação. A função interactiva que estes meios possuem e propagam, confirma o poder criativo que surge através do seu uso e exploração intensiva/experimental, facto que contribui inegavelmente para a transformação dos resultados e da representação das ideias e conceitos artísticos estabelecidos. Este contexto contemporâneo gera novas concepções sobre os conceitos, preconceitos, ideias e limites das fronteiras que delineiam os fundamentos e práticas da arte considerada em si mesma, invocam a urgência da interdisciplinaridade dos diversos meios e formas de expressão artística (intermédia).Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 1 Abril às 23h00
Dub_Reagge_sessions
PRINCE WADADA
A vibração é profunda, mas não tão profunda quanto a alma que se desprende da voz rouca de Prince Wadada , que tem presa ao seu timbre a cor própria de Angola e o doce balanço de uma terra imensa que se espraia em cada canto de “Natty Kongo”.
Prince Wadada é conhecido de todos os que seguem com um mínimo de atenção as sinuosas viagens do som reggae/dub em Portugal.
Como toaster de serviço ao Dubadelic Soundsystem, Prince Wadada tem percorrido todo o país, colocando certeiras palavras naqueles pontos em que o groove pede uma intervenção mais afirmativa. Com o microfone bem dominado, Wadada integra-se numa longa tradição de “deejays” que, desde a Jamaica clássica até à Zion global dos dias de hoje, tem feito muito para impôr uma vibração positiva neste planeta.
Mas mais do que explorar exaustivamente uma determinada tradição ou atitude mais específica, Wadada tem preferido abraçar a música com um entusiasmo puro que lhe permite coleccionar no seu currículo colaborações com gente tão distinta como os Kussondulola (com quem gravou em 1999), o “supergrupo” Linha da Frente ou, mais recentemente, os Mentes Conscientes, projecto paralelo dos veteranos hip hoppers Micro.
Para lá dessas colaborações gravadas, Prince Wadada foi pisando o palco ao lado de projectos como Gentleman and far east band, coolHipnoise, e General D. A ligar todos estes momentos o que se encontra é a procura de uma voz e um lugar próprio.
Primeiro com a edição de “Kem é Kem”, o seu registo de estreia em 1998, e agora, seis bem preenchidos anos depois, com a chegada de “Natty Kongo”.
As influências originais recebidas de Yellow Man ou Buju Banton continuam presentes, mas o mais interessante da estreia de Prince Wadada é o facto de ao adoptar a linguagem do Roots Reggae como ponto de partida, conseguir criar um som que cruza múltiplas referências culturais, geográficas, musicais e até espirituais. Claro que o balanço principal de “Natty Kongo” é puro Roots, mas há ecos de drum n’ bass, acid jazz, dancehall, hip hop e até de clássicas baladas rock and roll (escute-se, por exemplo, “Anabela Toi et Moi”).
Para tanto contribui o facto do disco ter sido gravado num descontraído ambiente “live” em Faro, no estúdio Air-Born, pelo técnico Edwin Spellbrink. A mistura final e a masterização ficaram a cargo do veterano Joe Fossard que será igualmente o responsável pelas versões dub que serão editadas mais tarde. A excepção surge no tema “Poder da Kriação”, com um beat e uma rima de D-Mars, que assim retribui a participação de Wadada em “A Cidade Respira” dos Mentes Conscientes. Trata-se de um tema de demanda espiritual sobre ritmos sintéticos cozinhados num sampler.
Homem capaz de aguentar o impacto de Soundystems, Wadada, não estranha a mudança de cadência de um disco construído essencialmente com o resultado da interacção de uma série de músicos.
A ponta de lança desta colecção de canções é, claro, “Táxi Para Luanda”, o single que tem coleccionado uma invejável carreira nas listas de airplay das mais significativas rádios nacionais. Hino à saudade dedicado a todos quantos, como Wadada, largaram Luanda à procura de um sonho.
Mas Wadada está de olhos bem abertos e “Natty Kongo” é uma conquista bem real. Acreditem…Entrada: 6 €
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Sábado dia 2 Abril às 23h00
avant_prog_electronics_sessions
SAMUEL JERÓNIMO + CARLOS SOUSA
ZERO LVX KRIEG NIHIL FIX
Samuel Jerónimo + Carlos Sousa
Depois de ter recolhido as melhores críticas vindas quer de Portugal, quer de outros países como da Itália, Reino Unido, França, Bélgica, Espanha ou Bielo-Rússia e de ter visto o seu álbum de estreia “Redra Ändra Endre De Fase” apontado pelo jornal Público como um dos melhores dez álbuns nacionais de 2004, o músico valadense Samuel Jerónimo junta-se agora ao artista alcobacense Carlos Sousa, na criação da exposição audiovisual “Redra” que estreou no dia 25 de Fevereiro no Museu Nogueira da Silva em Braga.
Samuel Jerónimo foi ainda recentemente convidado pelo percussionista Pedro Carneiro (Prémio Revelação Música Clássica na Gala SIC 2004, Prémio Jovens Músicos, Prémio Maestro Silva Pereira, Distinção do Presidente da Republica Jorge Sampaio em 2004. etc.) para lhe escrever duas peças que o mesmo irá estrear.
Outros projectos para o futuro incluem dois álbuns a serem editados em 2006. Um deles multi-timbrico e o outro inteiramente composto por peças para órgão de igreja.
A mudança impõe-se cada vez mais como a maior constante das nossas vidas. A actual dinâmica em que o obsoleto de hoje, foi o contemporâneo de outrora, apenas intensifica um processo contínuo que na verdade nos transcende, já que o universo onde a mudança se opera ultrapassa grandemente as dimensões de espaço e tempo onde o Homem viveu, vive e viverá.
Dentro do espectro da mudança humana é inegável o papel do erro. Tal foi estudado pelo sociólogo Robert Merton na sua obra “Arte do acaso” (…ou “serendipity” para Merton).
Desde Arquimedes, ao acidente que provocou a descoberta da penicilina por Fleming, passando pelo desenvolvimento de novos materiais como o teflon, o “acidental” na ciência é hoje um facto não só conhecido, como bem documentado.
A instalação vídeo “Redra” não se deixa contaminar por ideias preconcebidas, que permitem que inúmeros domínios escapem ao seu controlo ao tomar apenas em consideração actos explícitos, baseia-se sim em premissas mais simples e quase minimais, em erros. Preferencialmente em erros provocados propositadamente em máquinas.
Levar as máquinas ao erro, manipulá-las de modo a não fazerem aquilo para o qual foram projectadas, levá-las a fazerem algo de imprevisto, aleatório e irrepetível, criando assim algo de natureza abstracta tanto em conceitos como em conteúdos, algo que se desvia do controlo da máquina sobre o homem e do homem sobre a máquina e se centra numa “zona de contacto” que foge ao domínio do homem e da máquina.Zero Lvx Krieg Nihil Fix
“pvra dalem (lisboa, 1977), filha de realizadores, cresci um pouco em Portugal e a voar sobre a Europa.
Formei-me na área de som no conservatório nacional/estc.
Algures em 1996 comecei a trabalhar com experimentação sonora usandodiversos objectos de metal (incluindo lâminas), rochas, voz, e explorando diferentes espaços acústicos e possibilidades.
Em 1999 formei o projecto a solo imbolc, baseado na exploração do noise electrónico, com uma componente hermética e ritualística muito presente.
Entre 1999 e 2004 imbolc colaborou com diversos projectos, tais como karnnos, wolfskin, urdraum, sleeping with the earth, in gowan ring, sardonik grin, blood box, entre outros, tendo também actuado ao vivo em Portugal e nos EUA.
Formei o actual projecto a solo zero lvx krieg nihil fix, vulgo zlknf, em meados do ano passado; zlknf trabalha com paisagens sonoras dentro da música electro “anarco” acústica, trazendo paisagens oníricas que do quase silêncio mais planante aceleram até á intensidade mais acerada, em padrões de diferentes texturas, mas sempre dentro dum universo tudo menos ortodoxo. A componente electrónica ao vivo é acompanhada pela modulação sonora em directo, bem como à experimentação de objectos e voz em tempo real.
Juntamente com o primeiro trabalho de zlknf, apokruphos knvit, que é dividido em duas peças (apokruphos knvit e undaharia wuunkena), desenvolvi uma série de imagens para passar em background, que acompanham a progressão sonora.
No momento presente encontro-me numa série de “works in progress” em aceleração constante… comme la vie est lente et comme l’ésperance est violente”Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 7 Abril às 23h00
contemporary_experimental_sessions
PEDRO CARNEIRO
ZERN + GUILHERME RODRIGUES
Pedro Carneiro
Pedro Carneiro é um dos raros instrumentistas de percussão a dedicar-se por completo a uma carreira de solista. O seu percurso revela-o dotado de um rico valor artístico em ascensão no circuito internacional.
As suas interpretações expressivas pautam-se por uma criatividade que a par de um extraordinário desempenho técnico têm vindo a cativar plateias por todo o mundo, na Europa, na Ásia e nos USA.
Aos 29 anos já tocou em estreia absoluta mais de 70 obras e trabalha regularmente com um leque diversificado de prestigiados instrumentistas e compositores dos mais variados campos musicais. Os seus companheiros de música de câmara e compositores com quem tem vindo a trabalhar incluem a cravista Elisabeth Chojnacka, os pianistas Valentina Lisitsa, Alexei Kuznetsoff, Ruben Alves, Artur Pizarro e Filipe Ribeiro, o Quarteto Chilingirian, Steve Reich, James Dillon, Emmanuel Nunes, Egberto Gismonti e Django Bates.
Pedro Carneiro estudou piano, violoncelo e trompete desde os cinco anos de idade. Começou na Academia Luísa Todi em Setúbal e no Conservatório de Lisboa com o seu pai, para depois, como bolseiro da Fundação Gulbenkian no Guildhall School of Music and Drama, estudar com David Corkhill (Percussão) e Alan Hazeldine (Direcção de Orquestra), onde terminou a sua licenciatura em 1997 com a distinção Head of Department Award.
Pedro Carneiro estudou também, como bolseiro do Centro Acanthes, com o percussionista Sylvio Gualda e mais tarde em Londres, com o marimbista Leigh Howard Stevens.“Quattro Ritratti”
Hack
to break up the surface of…
To gain access to… illegally or without authorization
To cut or chop with repeated and irregular blows)Na era em que vivemos, o advento da música digital a um nível global, fez com que cada um de nós se tenha tornado num “hacker musical”. A facilidade de criar réplicas através de um simples “copy/paste” ou de partilhar o mesmo ficheiro de mp3 com milhares de pessoas de uma forma instantanea, fez com que o autor e intérprete (dessa mesma obra musical) se tenha tornado secundário. O valor do “ficheiro” audio é dado através de uma categoria nas playlists dos nossos leitores de mp3 ou nos site de partilha de ficheiros. Música instantânea para conduzir, esquiar, tomar banho, etc… Esses mesmos ficheiros são desprovidos de um autor, de um intérprete e perderam toda a magia da sua criação, a magia que lhes foi dada através do processo (por vezes longo e difícil) da composição.
Criar, questionar, escolher, deitar fora, começar de novo….
Tendo esta ideia como ponto de partida, procurei música que poderia “hackar” e que, cada um desses hacks fosse um retrato do carácter de quem o gravou.
Aqui o objectivo não é o hack à obra musical, mas sim à forma como o som se propaga e vive no espaço captado pelo/a tonmeister – que colocou os microfones, decidiu cuidadosamente a hierarquia que ouvimos e que, no fundo, nos realça permanentemente aquilo por ele/ela considerado o fio condutor da peça musical. Este personagem (que vive no anonimato) é responsável por captar o que ouve e fazer com que cada gravação, cada som gravado, se torne único e impossível de reproduzir novamente. Um momento único, apenas possível de reviver no rewind…
De um ponto de vista puramente técnico, esta peça inicia um trabalho pessoal mais aprofundado na àrea da electroacústica e foram “escritos” directamente em 4 canais, que envolvem o público e que o tentam colocar num espaço sonoro.
Quis apoderar-me desta música, reescreve-la, quebra-la em estilhaços e voltar a montar tudo de novo, noutra ordem.
Olhar de perto, ver como cada som explode/implode, ouvir o seu rasto….Zern + Guilherme Rodrigues
O duo formado por Ernesto Rodrigues (Piezos e CrackelBox) e Guilherme Rodrigues (Trompete de bolso e Rádios) elabora uma linguagem electroacústica, apoiada em texturas sonoras produzidas pelos instrumentos tocados de uma forma não convencional.
Não existe uma produção de “notas” mas sim um jogo de acontecimentos onde os pormenores e o silêncio são preponderantes na forma de improvisar. Ligada a uma estética “reducionista”, a escuta torna-se vital na composição dos elementos que formam o desenvolvimento musical.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 8 Abril às 23h00
poesia_sessions
JAAP BLONK
COPO
ACUR
Jaap Blonk
Considerado internacionalmente como uma das eminências na poesia fonética e improvisação vocal integra a programação de mais uma poesia_sessions na ZDB.“Sem querer diminuir o mérito dos poetas que fazem parte da antologia, temos de reconhecer a ousadia primorosa do holandês Jaap Blonk. A sua performance vocal levanta uma dúvida: será que todos esses sons saem realmente de sua boca? Os deslocamentos dos pontos articulatórios são tão radicalmente desafiados que cai por terra tudo o que aprendemos em fonologia. Passa-se de um nível de realização mais sincopada para outro mais distendido, marcado por ritmos e harmonia. Voz, ritmo, harmonia, ruído conjugam a mesma equação.” in
O vocalista improvisador e poeta fonético holandês Jaap Blonk é uma das mais destacadas figuras da cena musical e poética holandesa, tendo iniciado a sua carreira musical, na composição de jazz e para teatro, além de ocupar um lugar de referência na área da música improvisada.
Na actualidade explora o âmbito da interacção da voz com a electrónica, utilizando sampling e processadores de som. A sua pesquisa procura a riqueza entre a poesia e a música, identificando novos sons e suas combinações sem abandonar por completo a semântica da linguagem.
As suas performances ao vivo integram assim, em simultâneo, música, poesia e performance.
Trabalhou enquanto solista com nomes como Paul Lytton, Mats Gustafsson, Michael Zerang, Fred Lonberg-Holm, Melvyn Poore, Paul Dutton, Nicolas Collins, the Netherlands Wind Ensemble and the Ebony Band. É, de resto, mentor dos projectos Braaxtaal e Splinks, lugares de cruzamento destas correntes, com os quais gravou vários Cds na sua própria editora, a Kontrans.
A sua concepção da poesia sonora é em muito devedora das vanguardas históricas, em particular do movimento Dada e da figura de Hugo Ball, autor que Blonk homenageia e interpreta num dos seus discos (Six sound poems of Hugo Ball ’by baba-oemf,Kontrans,1998) e que já marcava presença em Flux-de-Bouche (1993,da Staalplaat), disco de Jaap Blonk para voz solo dedicado à poesia sonora. Participou em inúmeros festivais de poesia sonora, música improvisada, poesia-acção, etc.Crítica de discos na página do Rui Eduardo Paes
“O vocalista improvisador e poeta fonético holandês Jaap Blonk continua a lançar no seu próprio catálogo discográfico autênticas pérolas da associação da voz com instrumentos convencionais e electrónicos, utilizada como um instrumento mais (ele jura que é o contrário que usualmente acontece: «Em muitas das minhas peças com instrumentistas, as texturas instrumentais foram motivadas por aspectos da parte vocal») ou de acordo com a sua vocação teatral – afinal, trata-se de um antigo empregado de escritório que, farto dessa vida, subiu para cima de uma secretária num “open space” com cerca de 300 funcionários e começou a interpretar Kurt Schwitters a plenos pulmões. Na colecção Improvisors aí o temos com Ingar Zach e Ivar Grydeland, com a também “cantora” Maja Ratkje e com Carl Ludwig Hubsch e Claus van Bebber. Fora desta, encontramo-lo em «Off Shore» com Bart van der Putten e Paul Pallesen. Não deixa de ser interessante que em duas destas edições emparceire com nomes da nova improvisação norueguesa. Zach e Grydeland, respectivamente baterista e guitarrista (aqui também no banjo), são já dois dos mais interessantes músicos em actividade nesta área, a nível internacional, e confirmam isso mesmo neste trio que prova que é possível aliar uma certa “drive” com a abstracção sonora. Ratkje, membro do grupo feminino anarquista Spunk, está perfeitamente à altura da visceralidade expressiva do seu parceiro, e isso apesar de não partilhar os mesmos interesses pela poesia sonora, o movimento Dada e o “teatro da crueldade” de Antonin Artaud. Já com conterrâneos seus, num trio de voz, tuba (Hubsch) e gira-discos (van Bebber), é precisamente o ineditismo da formação que explica o sabor a “descoberta” desta música que justifica e honra por inteiro o termo aplicado a tal tipo de prática: “experimentalismo”. Fica claro para o ouvinte que os executantes estão, de facto, a experimentar. Em «Off Shore», outras figuras da cena dos Países Baixos, van der Putten (clarinete, saxofone alto, harmónica) e Pallesen (guitarra e banjo, cordofone que está decididamente em alta) contribuem para um trabalho de improvisação atomista e desconstrucionista que, nova surpresa, quase “swinga”, tendo Blonk achado por bem colocar um aviso na contracapa a dizer que neste registo não há sobregravações. Aqui, o homem que cruza Hugo Ball e Phil Minton utiliza a electrónica de forma mais positiva do que lhe havíamos escutado antes, na medida, até, em que não se fica pelo mero efeito ou por uma estratégia de colagem a sonoridades estabelecidas.
Bart van der Putten/Paul Pallesen/Jaap Blonk: Off Shore, Kontrans
Maja Ratkje/Jaap Blonk: Majaap – , Kontrans
Jaap Blonk/Ingar Zach/Ivar Grydeland: Blonk, Zach & Grydeland – Improvisors, Kontrans
Carl Ludwig Hubsch/Claus van Bebber/Jaap Blonk: Hubsch, van Bebber & Blonk – Improvisors, Kontrans
Copo
Leituras esquisitas
“COPO é, são, Nuno Moura e o Paulo Condessa. O COPO faz leituras esquisitas, diz coisas, falinhas mansas, ameaças, encontrões e palavras altas de conhecidos e desconhecidos graçados e desgraçados, deitados no regaço são prosas, senhor, são poesias, são grossas heresias! sem favas na língua! são histórias contadas! Às vezes o COPO transborda e rebenta as regras da poesia.
Não é só garganta. Também é boca, olhos, braços, tronco, orelhas e muito prazer em conhecer (oops) ler. Com uma ingenuidade quase infantil, uma descontracção quase absurda. Somos muito básicos, é verdade. Acreditamos no princípio do prazer. Ida e volta. Interessa-nos tanto o espírito como a letra, o som como o sentido, o gesto e o ruído e até pessoas sem ouvido. Já lemos para surdos, para chiques, para meninas, para Manuéis e Joaquinas, de muita raça e muita idade, em teatros, em bares, em escolas, no campo e na cidade. Mas sempre com um livro numa mão. Na outra, um molhinho de improvisação: o que nos interessa é subir para uma bóia durante uma hora e flutuar com aqueles espectadores pelas florestas que as palavras transportam. Do mais clássico ao mais contemporâneo, do mais conservador ao mais irreverente, em tom sério, boémio, contido ou contente, seguimos o rasto da fada transparente que abria a boca fininha e soprava pelo buraco da fechadura: “a poesia está mais perto da vida do que da literatura”. É uma proposta decente, não é verdade?”
aCUR
aCUR é o novo projecto do músico, performer e designer Pedro Almeida, sobre sons, expressões e improvisações.
Tendo como ponto de partida a voz — dispositivo susceptível de produzir sons e meio de expressão musical — este projecto surge no campo da experimentação audiovisual, a poesia sonora e a electrónica, onde o conceito do sampling, expressões faciais e corporais, interactividade visual e a relação com o espectador são os principais ingredientes.Amante de sons-ruídos-e-afins, cidadão do mundo, escolheu a guitarra, a voz e as percussões acústicas como primeiras ferramentas sonoras (1980), confraternizando desde então com os mais variados instrumentos musicais, até chegar aos samplers e computadores. O conceito do sampling leva à exploração extrema da voz como ferramenta sonora, numa atitude de performance no projecto “Mute Life dept” (MLd)(www.virose.pt/mld) que fundou com Pedro Tudela, em 1992, no Porto, onde logo se juntam o músico Alex Fernandes e Nuno Tudela (video). Aqui explora o som que os objectos podem emitir, onde arte, tecnologia, informação, improvisação e o som, se misturam com o trabalho de estúdio no sentido de criar pelo prazer. É através do design gráfico (ESBAP,1986 +jornal PÚBLICO, desde 1989) que começa a explorar o computador como ferramenta criativa nas artes audiovisuais. Durante o percurso e processo da experimentação e improvisação que os MLd desenvolvem na década de 90, conhece Miguel Carvalhais (zzzzzzzzzzzzzzzzzp!) que com Pedro Tudela fundam os @c (www.at-c.org)(2000) depois de algumas jam sessions de electrónica e onde participa até 2003. É co-fundador e um dos elementos da media label CRÓNICA (www.cronicaelectronica.org)(2003). A conjugação das várias áreas criativas em que se move levou a criar o projecto “larapal.org” (com Lara Silva) que tem por lema “art4fun” (leia-se “art for fun”) e que serve como principal conceito de criação artística.
Actuou na Expo98 (Lisboa), Centro Cultural de Belém (Lisboa), 2001-Odisseia das Imagens (Porto), Teatro Viriato (Viseu), Lovebytes 2003 (Sheffield, Reino Unido), Ultrasound2003 (Huddersfield, Reino Unido), Atlantic Waves (Londres, Reino Unido), Sonic Light (Amesterdão, Holanda), IFI (Pontevedra, Espanha), Offf (Barcelona, Espanha), Número festival (Lisboa), ZDB (Lisboa), EME (Setúbal), Blue Spot (Porto), BRG2000 (Braga), Co-Lab (Porto), Museu de Serralves (Porto), Balleteatro (Porto), Centro de arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Teatro Campo Alegre (Porto), Festival Internacional de Música Electroacústica de Aveiro, Auditórios da FNAC (Porto).
Tem obras editadas pela Crónica, Variz, Symbiose, Kami ‘Khazz, Galeria Atlântica/ Nasoni, Galeria Canvas & Companhia (Portugal) e Vinylvideo (Aústria)
Entrada: 6 €
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Sábado dia 9 Abril às 23h00
Noise_Rock_sessions
LOOSERS
FISH & SHEEP
Loosers
Criadores e porta-estandartes de algum do rock mais arrojado, descontrutivista e vibrante produzido em Portugal na última década, os Loosers apresentam-se ao vivo no espaço que albergou os seus ensaios, sob o tecto e o selo (zdbmüzique) que editaram o seu CD de estreia Six songs – EP (2003).
Inicialmente interligada à música de bandas como Suicide ou Liars, a arte dos Loosers tem vindo progressivamente a ser depurada numa identidade discursiva cada vez mais de si própria, sem qualquer tipo de derivativismos. Pleno de músculo, suor, expressão física extrema, o som actual dos Loosers acaba por ser uma recontemporaneização do som da no wave nova-iorquina, agrupando elementos performativos (concertos houve com pratos de bateria a caírem ao chão, máscaras de luta livre mexicana).
O aspecto visual e «extra-curricular» dos Loosers estende-se até à parafernália que vendem nos concertos, com produtos certificados conceptualizados pela banda – é possível não respeitar quem vende tubos para fazer bolas de sabão do rock?
Já donos de um considerável currículo de espectáculos ao vivo, compreendendo várias localidades em Portugal, bem como actuações na Irlanda do Norte e na Ásia, os Loosers fizeram também parte do programa de 2004 do festival Atlantic Waves, que os viu a tocar em Inglaterra ao lado de numerosos artistas nacionais.
Música inteligente e dedicada no seu habitat natural, bloco operatório e incubadora original.
Obrigatório trazer desodorizante.Fish & Sheep
Fish & Sheep é um duo onde percussão e guitarra se juntam em improvisação . Composto por Afonso Simões, que se apresentou recentemente sob o seu alter-ego, Phoebus, na ZDB e Jorge Martins.
O tipo de música que criam no momento não é institucionalizada nem comunal: é música que abraça, por um lado, tanto o ritmo linear quanto o arrítmico e o abstracto, por outro, tanto a obliquidade harmónica quanto a melodia.
O estado embrionário do seu som é parte integrante do seu centro, que tanto deve ao free jazz feérico como às guitarras espaciais freeform pós-anos 90.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 15 Abril às 23h00
Electronic_sessions
JORGE HARO
RAFAEL TORAL + CÉSAR BURAGO
Jorge Haro
Compositor e artista sonoroaudiovisual.
Jorge Haro é investigador no campo da música experimental, criou diversas peças audiovisuais e instalações sonoras, tem três CDs editados: Fin de siècle (CD extra, Fin del mundo, 1999), Música 200(0) (CD extra, Fin del mundo, 2001) www.findelmundo.com.ar/musica2000) e u_2003 (CD extra, Fin del mundo, 2003) http://netart.org.uy/u2003
Tem ainda peças de música em diferentes compilações Argentinas e Europeias.
Realizou concertos acústicos, concertos audiovisuais e instalações na Argentina, Uruguai, Brasil, Peru, Estados Unidos, Espanha, Portugal, França, Suiça e Holanda.
Em paralelo com a música, é co-director de Fin del Mundo e do projecto LIMb0 (Laboratorio de Investigaciones Multidisciplinarias Buenos Aires ø)Rafael Toral + Cesár Burago
Space Study 3
Gerador de ruído branco controlado por Theremin modular.
Estreia absoluta deste solo de ruído branco, controlado por theremin, joystick e osciladores de baixa frequência.
Este instrumento, já utilizado no Quarteto de Sei Miguel, tem um papel importante na futura obra “Space”.
Marcando o início de um novo período no percurso de Rafael Toral, “Space Studies” é uma série de obras com uma estrutura formal indefinida e sobre a qual são aplicados modos de escuta a uma articulação em tempo real de silêncios com eventos sonoros.
Rafael Toral é um músico e artista que desenvolve uma abordagem a múltiplos dispositivos electrónicos, tendo em comum o facto de serem construídos ou modificados por si e de terem sempre um comportamento algo imprevisível. Utilizando controladores gestuais (Theremin, luvas midi, sensores ópticos), Toral tem explorado a dimensão visual da performance de música ao vivo, questionando a invisibilidade dos processos criativos em práticas correntes na música electrónica contemporânea.
César Burago é um percussionista com vasta experiência em técnicas e instumentos de percussão. Contando com orientação de Sei Miguel, nos últimos anos tem desenvolvido um estudo aprofundado das estruturas, formas e modos de escuta que constituem o terreno criativo onde “Space” também se desenvolve. O seu domínio da técnica, do tempo e do silêncio tornam-no um verdadeiro virtuoso, cuja síntese de rigor e intuição é única no mundo.
Explorando relações entre fenómenos sonoros como a ressonância ou as frequências diferenciais e a capacidade humana da escuta criativa, Toral desenvolveu um universo sonoro integrando música ambiental, rock, improvisação e “sound design” em múltiplas práticas experimentais.
Usando desde 1984 a guitarra eléctrica como parte de um instrumento electrónico complexo, Toral colaborou com Jim O’Rourke, John Zorn, Sonic Youth, Rhys Chatham e Phill Niblock, e já tocou em vários países europeus, EUA, Canadá e Japão. A sua música é publicada por editoras de seis países e é membro da orquestra electrónica MIMEO, com Keith Rowe e Christian Fennesz.
Desenvolve, desde 2004, o vasto “Space program”, um programa de trabalho em música electrónica que engloba toda a actividade de concerto, estúdio, solo e colaborações em qualquer formação, e que toma como base o silêncio e um leque de especializações instrumentais numa abordagem experimental ao jazz.Entrada: 5 €
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Sábado dia 16 Abril às 23h00
Rock_Roll_sessions
FLUX
LOLLY AND BRAINS
Flux nasce em 2001, altura em que Samuel Palitos (bateria) -depois de projectos como os Censurados, Lx-90, Kick out the Jams ou Lulu – se junta a Richard Pedroso (guitarras), com que já tinha colaborado em projectos anteriores. O grupo fica completo com a entrada de Manuel Costa (baixo), Nuno Gabriel de Mello (voz e guitarra) e João Gomes (teclados, sampling).
“A primeira impressão que recolho de uma gravação é sempre condicionada, fico com a garantia que mais cedo ou mais tarde, o futuro tratará de clarificar esses impulsos iniciais. No caso dos Flux, a ideia que recordo, e que hoje ao ouvir o debutante “Roulette”, me ocorre, é a de que nada se alterou.
A primeira demo que o Samuel me apresentou algures em 2001, teria que resultar nesta galáxia rock. Tudo o indicava. Tinha que ser um disco com mil caras. Seja dama ou tigre. Descobre-se neste disco e nestes músicos, um claro exemplo de lapidação de electricidade.
A paciência e o domínio que têm sobre a sua música, confere-lhes essa ambição. O lapidário de electricidade.
Não consigo imaginar as horas que foram dedicadas a cada compasso, a cada segundo, a cada som. Calculo que no fim desta hipnótica viagem, o título “Roulette” lhe assente na perfeição.”
Henrique AmaroLolly And Brains
Os Lolly and Brains são Sérgio Lemos (DJ LOLLY; MISS LOLLY LAB) e João Barroso (DJ BRAINS; NEUROMAN).
A base musical é essencialmente computorizada, marcada pela utilização de ‘software’ que permite a incorporação de instrumentos virtuais, loops esamples. Sobre a base, são adicionados outros elementos sonoros, como guitarras eléctricas, drum pads, sintetizador, vozes, loops, brinquedos musicais, percussões, etc.
Ao vivo, o formato acaba por resultar numa espécie de Karaoke Cibernético, onde 60% do produto é reproduzido e os restantes 40% são executados no momento.
Atenção: Neste concerto os Lolly and Brains apresentarão uma mão cheia de temas novos!!!
Musicalmente, não há rótulos assumidos. Não existe orientação estilística dominante nem factores condicionantes. Há uma vontade de experimentação, sem experimentalismos… de jogar com a amálgama sonora que lentamente se foi entranhando e alimentando as ideias, sem qualquer tipo de pudor estético. A música de Lolly and Brains recorre a clichés, ironias, provocações, insinuações, e por vezes, atreve-se em versões de AC/DC, Suicide, Peaches, The Cramps, Serge Gainsbourg, Man Or Astro Man?, entre outros.
“X-Wife (…) foi um dos projectos impulsionadores em Portugal, ao lado dos Loosers ou dos Lolly And Brains, de uma música rock electrónica maquinal que continua a alimentar discussões: revisionistas de atitudes do passado ou criadores de novas abordagens estéticas?” – Vitor Belanciano in Y, PÚBLICOEntrada: 5 €
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Quinta-feira dia 21 Abril às 23h00
Cine_music_sessions
ALEJANDRO GONZALEZ NOVOA
MANUEL MOTA
FALA MARIAM
CÉSAR BURAGO
A CONCHA E O CLÉRIGO
La Coquille et le Clergyman, França 1928Direcção: GERMAINE DULAC
Guião: ANTONIN ARTAUD
Protagonista: ALEX ALIN
Música, Desenho Sonoro, Violoncelo e Meios Electrónicos: ALEJANDRO GONZÁLEZ NOVOAA jóia do surrealismo A Concha e o Clérigo, é uma das suas últimas obras cinematográficas mudas.
O desenho sonoro e a composição musical, que para esta obra são criados, constituem, de algum modo, uma homenagem, como que antecedendo todos os sons que viriam mais tarde.
Se no cinema convencional, três níveis operam separadamente: a palavra falada, a banda sonora e a música; aqui, todos os sons flutuam no limite música-ruído.A obra foi encomendada pelo Museu de Arte Moderna da Cidade de Buenos Aires MAMba no ano 2000, pela ocasião de um ciclo de cinema mudo com música ao vivo, e foi remixada na Escola Superior de Arte em Multimédia de Colónia, ZKM, Alemanha.
Alejandro Gonzalez Novoa
Compositor, violoncelista concreto, performer e artista sonoro oriundo de Bueno Aires.
A sua obra transita entre a performance, a deconstrução electrónica e a new phonic improvisation.
Novoa tem mais de setenta obras estreadas, muitas delas encomendadas pelo Museu de Arte Moderna da cidade de Buenos Aires, pelo Guggenheim Foundation, e pela Dance Screen Monaco, entre outros.Manuel Mota
Guitarrista, nascido em Lisboa, 1970.
Desenvolve actividade pública desde 1989, apresentando-se ao vivo na Europa e nos Estados Unidos.
Entre 1989 e 1997 estudou e experimentou com guitarra preparada (quase sempre acústica). Desde então tem-se concentrado no desenvolver de uma linguagem para guitarra eléctrica fingerstyle.
Trabalha regularmente com a contrabaixista Margarida Garcia e com o trompetista Sei Miguel (ambas colaborações desde 1997). Fundou a editora ‘Headlights’ em 1998.Fala Mariam. Trombonista. Natural de Lisboa. Alguma formação académica não lhe suscitou interesse pela criação musical. Em 80, durante uma viagem pelo norte da Índia, intuíu o fogo sagrado da verdadeira música, que reencontra no jazz mais iniciático e na gratificante descoberta de diversos trombonistas. “Sideman” de Sei Miguel desde 83, participa em todos os trabalhos deste.
César Burago. Percussionista. Angolano. Dedica-se inteiramente às actuais músicas do jazz pois vê nelas o espírito e a técnica indissociáveis. Presença regular nas orquestrações de Sei Miguel, tem dimensionado com o trompetista desde 97 um plano de possibilidades e impossibilidades métricas, ambas expressas em trabalhos onde a percussão (principalmente a pequena percussão) ganha um enigmático valor melódico.
Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 22 Abril às 23h00
Folk_Rock_sessions
NINA NASTASIANome cada vez mais consagrado da canção norte-americana, a nova-iorquina Nina Nastasia apresenta-se nesta série de datas pela primeira vez em Portugal .
Ao lado de figuras como Carla Bozulich, Faun Fables ou Cass McCombs, Nastasia faz parte de uma linhagem de autoras de canções situadas no campo estético a que se tornou comum denominar de American Gothic (não o gótico que se veste preto, atente-se). A canção de Nina Nastasia é uma de êxodo urbano de mente e alma, onde fantasmas de tribulações amorosas e discretas elegias de esperança dolente conseguem respirar com maior plenitude na ficção de quietudes rurais, bem longe do quotidiano irreflectido “nem-tenho-tempo-para-pensar” das maiores urbes dos Estados Unidos. Uma forma de contar histórias e musicar as coisas que descende de um country bastardo, urbanizado, onde vozes solitárias ligeiramente banhadas em bourbon se fazem ouvir por entre guitarras arenosas. Violinos e violoncelos que rangem com a madeira e o aço que as faz soar coexistem com a sua voz, mais madura a cada ano que passa, que exala a confiança que só as mais conseguidas confissões possuem.
Contando com três álbuns na sua discografia, Nina Nastasia viu o que porventura será o seu mais emblemático álbum, o disco de estreia «Dogs», ser reeditado no ano passado. Apresenta o seu currículo de intimidades, metáforas e doces melancolias na Galeria Zé dos Bois na formação de trio. Dos melhores concertos este ano em solo nacional para se afogar mágoas de formas doces.Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 23 Abril às 23h00
Acoustic_sessions
COLLEEN
De muitas formas, partindo de um ponto de vista situado no exterior, Paris parece nunca ter recuperado de forma saudável dos notáveis «brainstorms» da década de sessenta. De Débord, Godard, Truffaud, de Miles Davis a beber café com Juliette Gréco, de Gainsbourg ou da partida do Art Ensemble of Chicago.
Paris, a cidade da «inteligentsia» europeia de há mais de trinta anos, deixou-se datar, parar; mas, pior que tudo, dividiu-se. A miscigenação artística evaporou-se, e, no que concerne à música exploratória francesa, voltamo-nos quase sempre para as mesmas figuras de há vinte anos para cá, sejam elas Brigitte Fontaine, Joëlle Léandre, Louis Sclavis ou Jac Berrocal.
Colleen, o projecto a solo da parisiense Cécile Schott, possui a parte positiva dessa insularidade: o recolhimento, a intimidade e a idiossincracia. É música de amor, quietude, do processo de abrandamento progressivo das coisas, que só a experiência e a compreensão trazem.
O seu primeiro álbum, «Everyone Alive Wants Answers», pela Leaf (exemplar editora britânica que lançou emblemáticos álbuns de Murcof, Asa-Chang & Junray e Susumu Yokota, entre outros), surgiu vindo do nada em 2003. Todo ele foi feito a partir de samples captados do arquivo da Mediateca de Paris. Dedicado ao falecimento do seu irmão, «Everyone Alive Wants Answers» é um disco sem tempo, como memórias que distorcemos, tristezas que tornamos mais doces. Treze pedaços de música circular, que respiram numa repetição enganosa, em que os loops que a constituem parecem alterar-se ligeiramente cada vez a cada nova repetição. Um álbum mágico e imaculado, para as vigésimas quintas horas que tocam a todos.
Pondo fora de questão a opção de actuar perante um público com um laptop, Cécile Schott decidiu alterar o «modus operandi» para a sua arte poder encaixar num contexto de um concerto ao vivo. Começou por apresentar as peças do disco, originalmente todas feitas a partir das supramencionadas gravações, em variadíssimos instrumentos que foi aprendendo ao longo dos anos, com um resultado totalmente coerente com o registo que havia editado. O desligamento de qualquer fonte digital estava consumado em consonância com um cada vez maior apreço da sua parte por tudo o que é analógico e humano, com concertos inteiramente realizados a partir de instrumentação acústica (violoncelo, caixas de música, jogos de sinos, guitarra clássica, melódica ou concertina), que por sua vez eram coordenados e processados por pedais.
O seu próximo álbum, «The Golden Morning Breaks», com data de lançamento prevista para pouco depois de um mês após os seus dois concertos em Portugal, prossegue esta abordagem inteiramente acústica de Schott. Nomeado a partir de um trabalho do compositor britânico do séc. XVI, John Dowland, reflecte o crescente interesse da artista em músicas pancontinentais e na tradição barroca, da qual herdou um gosto moderno pelo ornamento, que, de forma elegante, oferece a esta música outro adensamento e brilho aos seus padrões delicados e minimais.
É um álbum de sensibilidades eminentemente francófonas, de coração exposto mas sem nunca andar perto de qualquer tipo de facilitismos emocionais ou beleza gratuita. «The Golden Morning Breaks» abraça as componentes espirituais da melodia pura, das cadências de ritmos harmónicos circulares, imerso em líricas etéreas.
Olhando para as extensas listas no website oficial do projecto (link mais abaixo), podemos encontrá-la em admiração de músicas tão díspares e interculturais quanto a hipnose horizontal de Hamza El Din, o metodismo descontrutivista dos This Heat (cujo brilhante primeiro disco fez com que Schott parasse de fazer música durante dois anos), o gamelão indonésio, Satie, Amália, ou My Bloody Valentine. Paralelos contemporâneos relativos podem ser encontrados no trabalho de William Basinski, Oval ou Susumu Yokota.
As actuações de Colleen marcam a sua estreia em Portugal na Galeria Zé dos Bois.Entrada: 7.5 €
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Domingo 24 Abril às 23h00
streetfigthers_sessions
STREETFIGHTERS
Um mural de revolução feito por Francisco Vidal e Nuno Valério, que aproveitam a escola de pintura mural portuguesa desde 74. Celebram com pintura e música a revolução que tem que ser feita todos os dias, pela liberdade de expressão.“Assim Lembramos desenhadores desde Abel Manta, até aos train-bomber artists, Exas, Wise, Yssuk, Youth, Mase, Cuspe, etc. Graffiti writers, que no inicio dos anos noventa começaram a bombar nas linhas das margens do Tejo. Lembramos também os anos 80 e SAMO, em N.Y.”
Entrada livre
ZDBizion Prezents
“ABRIL-BRAZZZIL!”Video-jammer João Gomes I
Filmes Super 8 de Edgar Pêra
musicados ao vivo por João MadeiraNova e recentíssima kolecção de cine-diários rodados no passado mês de Março no Brasil.
Depois do último e inesquecível CINE-CONCERTO TRIBUTO A CARLOS PAREDES, eis outro fresquíssimo cine-concerto de Edgar Pêra na ZDB, desta vez por ocasião da comemoração de mais um 25 de Abril.
Imagens inéditas, captadas em película super 8 em Niteroi, Parati e Rio de Janeiro, remisturadas por João Gomes I e musicadas ao vivo pelo bossa nova men João Madeira.Edgar Pêra
Para além do seu reconhecido percurso como realizador de ficção e documentário, Edgar Pêra apresenta espectáculos ao vivo em interacção com músicos e actores desde 1990.
Em 2004 iniciou uma residência na Galeria Zé dos Bois, onde desde então tem apresentando mensalmente os seus cine-concertos.
Cine-concertos são objectos únicos e irrepetíveis, por vezes funcionam como laboratório de pesquisa de filmes futuros ou apresentações de ante ante estreias, outras vezes são remixes de filmes já estreados ou partes de processos work in progress ou então são muito simplesmente interpretações visuais e sonoras improvisadas em conjunto com músicos.João Madeira
Guitarrista e cantor, tem-se dedicado a tocar música portuguesa e brasileira em bares de música ao vivo, tocando a solo durante 3 anos no Café-Bar do Teatro Taborda como músico residente e em várias formações musicais como “Côr da Lua”, “Marabá” ou “Carioca Express”.
Na sua música podem-se esperar o impacto e o reflexo que as tonalidades amenas/tropicais de Tom Jobim, Edu Lobo ou Chico Buarque tiveram do lado de cá do Atlântico.Sponsor Melllu Foundation
Entrada: 5 €
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Quinta-feira 28 Abril às 23h00
Weird_America_sessions
EXCEPTER
GALA DROP
Excepter
Projecto e conceito iniciado por John Fell Ryan, ainda enquanto parte do mais mítico e carismático ensemble de improvisação comunal novaiorquina, No-Neck Blues Band, foi também a razão que despoletou a sua saída do colectivo, corriam os últimos anos da década passada.
Excepter, sabe-se agora, é tanto máquina quanto entidade, um impressionante conjunto de mesas de mistura, «drum machines» e demais maquinaria «hi-tech» (independentemente da visibilidade «underground da banda», nada aqui é realmente «lo-fi»), capaz de criar uma nova estranheza através de novos sons, novos espaços de sentir e percepções-execuções de fisicalidade e espiritualidade em som. Nos anos entre a saída dos No-Neck e o início da actividade em estúdio e ao vivo dos Excepter, Ryan investiu quantidades avolumadas de tempo e dinheiro a construi-lo.
Um dia descrito como o «Jarvis Cocker de Nova Iorque» ou «o tipo que era estranho demais para a No-Neck Blues Band» (é, de facto, uma proeza), Ryan lembra, em performance e postura, a intensidade do Genesis P. Orridge dos primeiros Throbbing Gristle coagulada com o tédio psicótico de brilhante verborreia de Mark E. Smith.
Ryan, eterno interessado pela mais audaz cultura pop e celebrado criador de palíndromos, começou a alinhar este projecto quando, na parte final da década de 90, descobriu Detroit e o melhor house que pela altura circulava perto de si, em festas nos clubes do «meatpacking district» e Lower East Side novaiorquinos.
Dan Hougland, membro fundador que trabalha há largos anos na seminal loja de discos Other Music, lembra-se de ter ficado entusiasmado de ver Ryan a comprar resmas de 12” de dança por lá, sendo que, pouco depois, estariam os dois a criar música juntos.
A seguir à primeira dúzia de concertos em espaços locais, houve uma actuação de afluência particularmente desoladora em que apenas duas pessoas, Caulder Martin e Caitlin Cook, estavam na assistência. A meio, decidiram subir ao palco e começar também eles a actuar. Estava formado o quarteto-base inicial do primeiro par de anos dos Excepter. Martin era amigo de infância dos tempos de Seattle de Ryan, enquanto que Cook exerce actividade há já vários anos enquanto bailarina e coreógrafa. Nos últimos doze meses, um novo membro, Nathan Corbin, principalmente ocupado com funções de bateria e programação, juntou-se ao projecto.
O seu som nasce de improvisação total, mas, pelas audazes matrizes estéticas e inauditos meios empregues (neste contexto improvisatório), conseguiram criar um universo completamente seu, eternamente por explorar em tempo e dimensão.
Nos seus momentos mais marciais lembram o rock fracturado e realinhado dos This Heat do primeiro disco e os mais diabólicos Throbbing Gristle. A guitarra e sintetizador de Dan Hougland assemelha-se vagamente à estranheza do noise humanóide dos Black Dice, enquanto que os gritos e cantares de Cook e Martin estão totalmente emaranhados na sua gutural «performance» física. Três vozes, uma miríade de mesas de mistura e estações de processamento, guitarra, sintetizadores analógicos e uma bateria. Um som que só poderia ter vindo da Nova Iorque contemporânea, imerso no lodo e assombramento subterrâneo da cidade; uma música tão real quanto o sangue, tão inefável quanto amor e ódio, tão incrivelmente aberrante quanto o mais profundo medo, tão suja e gloriosamente confusa quanto a cidade que a viu nascer. O som de corpos e almas em estados de completa nudez, liberdade, abertura e comunicação emocional, autêntica cerimónia de ser.
O ponto em que os Excepter se encontram neste momento, a nível de notoriedade, é um de eminente transição. Com apenas um longa duração, o notável «Ka» (editado pela «brooklynita» Fusetron) nas lojas, preparam-se para lançar álbuns neste ano pela Kill Rock Stars e Load Records (carismático selo de Providence, casa dos Lightning Bolt, Arab On Radar ou Sightings). Está também planeada uma série de datas pelo seu país com os Double.
Estão no cume na vanguarda novaiorquina com Black Dice, Animal Collective ou Double Leopards, a par de nomes emergentes como Mouthus e Wooden Wand & The Vanishing Voice.Gala Drop
Duo de Tiago Miranda (Loosers, Dezperados) e Nelson Gomes (ex-Act-Ups), os Gala Drop são a primeira formação nacional de explorações texturais «freeform» (que com eles tragam uma tradução para esta palavra), movimentando-se totalmente no domínio da electricidade analógica pura. A partir de uma guitarra estendida no chão a alinhar ritmos desencontrados em nuvens de som harmónico, um microfone a canalizar vocalizações abstractas celestes e uma «tape machine», de onde Tiago Miranda lança ruído orgânico e fracções de beats de selva urbana abrasiva através de uma série de cassetes pré-gravadas, o som dos Gala Drop passa por uma miríade de pedais que torna os seus sons originais em drones fragmentados e oblíquos.Tomando inspiração nas ruminações de electricidade livre de projectos como Black Dice, Double Leopards, The Hototogisu ou do trabalho mais espacial de Panda Bear, o que os Gala Drop fazem roça o inédito em Portugal. Pela primeira vez estamos perante uma série de projectos nacionais, onde se podem incluir Loosers ou Fish & Sheep, que respondem em tempo real às movimentações da vanguarda parente do rock do panorama urbano ocidental. Mas não só. Longe de qualquer tipo de mimetização, o mais importante de tudo isto é o próprio discurso emocional e estético distinto que este duo, numa fase tão inicial do seu percurso, já conseguiu criar. Expectativas em alta.Entrada: 7.5 €
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Sábado 30 Abril às 23h00
ZDBeatnik_sessions
DAZKARIEH
CABINDEÇOM
Dazkarieh é um encontro de artistas, músicos e músicas.
A música dos Dazkarieh é caracterizada por um manancial rico e diversificado de sons inspirados em várias culturas musicais do planeta, partindo do uso, da exploração e da fusão de instrumentos e de elementos musicais com origens distintas. A heterogeneidade musical, assumida pelo grupo, é patente num conjunto de composições que, pela síntese de materiais musicais tão diversificados, podem ser apontadas como singulares ou exóticas, mas sempre cativantes e originais. Por outro lado, a formação musical diferenciada dos seus instrumentistas (música tradicional, jazz, flamenco, pop-rock, música erudita, etc.), contribui igualmente para o enriquecimento do processo criativo do grupo.
Formados em 1999, por Vasco Ribeiro Casais (cordofones e sopros), Filipe Duarte (guitarra e voz), José Oliveira (baixo e sopros), o grupo passou por duas grandes etapas na sua sonoridade, como resultado das diferentes sensibilidades musicais dos músicos que por ele passaram. Este facto explica a conotação dos Dazkarieh com o que o jornalismo musical e a indústria de comércio de fonogramas apelidaram de “som celta”, ou até mesmo de “sonoridade folk-gótica” (conotação patente nalgumas franjas de mercado europeias, sobretudo na Alemanha), na primeira fase da existência do grupo, fase essa que culminou com o lançamento do primeiro fonograma (Ed. Bigorna, 2002) e a sua apresentação em concerto nas Ruínas do Convento do Carmo em Lisboa.
O período que antecedeu a composição e a produção do segundo registo discográfico, pode ser apontado como o início de uma novo ciclo na existência do grupo. A constituição dos Dazkarieh alterou-se radicalmente (5 novos elementos num espaço de poucos meses), assim como se alterou também a filosofia e a atitude do colectivo em relação à sua orientação musical e à sua integração no mundo do espectáculo.
A Associação Bigorna, estrutura criada previamente para apoiar material e logísticamente o projecto Dazkarieh (assim como outros projectos), foi ampliada, passando a funcionar com maior profissionalismo (por exemplo na organização de espectáculos, como o concerto nas Ruínas do Carmo; na gestão financeira do grupo; na produção do fonograma, etc.).
Neste novo ciclo criativo do grupo é ainda de salientar a concepção de canções em língua portuguesa (até então o Dazkariano constituiu a base de todas as canções), com letras de autoria de Tiago Torres da Silva e de Ricardo Gouveia e Helena Madeira. Como resposta a algumas críticas, o grupo introduziu também a língua materna no seu processo compositivo, mesmo em canções cujas bases sonoras estão longe das tradições musicais de Portugal (p.ex.: Pássaro Andarilho).
Deste modo, a partir do segundo registo discográfico (Ed. Bigorna, 2004), a música dos Dazkarieh, devido à fusão de materiais musicais tão diferenciados, passou a ser conotada com o que a indústria vulgarmente designa por world-music, apesar dessa franja de mercado ser ainda muito incipiente em Portugal. Esta circunstância motivou o estabelecimento de contactos internacionais, culminando no verão de 2004 com concertos no norte de Espanha (Alcañices, Zamora, Festival Folk de Aliste; Moiños, Galiza, Festival Folk).Cabindeçom
A rota dos Cabindeçom cruza os quatro pontos cardeais numa viagem auditiva pelo mundo da música tradicional proveniente dos diversos povos e culturas do planeta. Mistura-se a mestria dos executantes originais com as influências dos intérpretes, adicionando-lhes instrumentos tocados in loco e a batida electrónica que acentua a vertente dançável. Cria-se assim uma sonoridade inovadora mas claramente influenciada pela ancestralidade da música do mundo. Unem-se mares e continentes num roteiro sonoro único e diversificado. Na música tradicional projecta-se a electrónica, a melodia da flauta transversal, as vozes, a guitarra eléctrica e o ritmo das tablas. Seja na vertente mais DJ ou na remistura e transformação das raízes musicais, o grupo transmite rapidamente a energia singular das composições apresentadas, desdobrando-se em acrobacias musicais que enriquecem as fontes tradicionais e as divulgam entre os mais diversos públicos.
Composição:
Luís Girão – flauta transversal
Nelson Gomes – guitarra eléctrica, programações e DJ
Nuno Oliveira – tablas, sintetizadores e DJEntrada: 6 €
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Quinta-feira dia 5 Maio às 23h00
Post_Guitar_sessions
MATT ELLIOTT
MANY FINGERS
Matt Elliott
Inicialmente visível enquanto membro da seminal banda de space-rock britânica Flying Saucer Attack, Matt Elliott, enquanto Third Eye Foundation e agora em nome próprio, vem progressivamente sedimentando o seu espaço na música independente britânica da última dúzia de anos.
Se há um elemento emotivo que percorre toda a sua obra é o da dolência, de uma melancolia elegíaca. Alinhou astros com musgo nas guitarras cósmicas dos Flying Saucer Attack, pragmatizou o seu crescente interesse nas movimentações do jungle nos finais dos anos 90 onde encontrou um novo espaço para o etéreo, e, desde «The Mess We Made», o primeiro registo em nome próprio, datado de 2003, voltou-se – sem nunca a ter deixado longe –, mais de que nunca, para a canção.
O novo «Drinking Songs», que Elliott apresenta na ZDB depois de uma aplaudida passagem pela Galeria no ano passado, é uma visível maturação de todos estes discursos e campos de sentir. No plano lírico, encontramos muito visíveis os imaginários das titulares canções ébrias, de homens do mar e de errantes anónimos. Guitarras eléctricas em «loop» cruzam-se com «jungleisms», enquanto um «sampler» manda transmissões de transístor de orquestras fantasma, afundadas há décadas, em embarcações espectrais. A voz de Elliott assenta em melodias tão simples quanto o mais virado cantar de tasco, intersectadas com assobios que parecem soar há seculos, em portos e tascos pelo mar fora. Violinos, piano e guitarra clássica parecem mais assombrações que instrumentos tocados por seres vivos e palpáveis.
Um exercício ou um exorcizar de episódios trágico-marítimos, «Drinking Songs» é uma série de recolecções nebulosas, plenas de mágoa e impulsos de ascensão, num concerto que deverá apelar a quem se interesse tanto por Hood, Mogwai, Kurt Weil, «Lunar Caustic» de Malcolm Lowry ou, muito simplesmente, nuns copos de noites onde o tempo há muito se evaporou.Many Fingers
Matt Elliott será acompanhado por Many Fingers, projecto de Chris Cole, que se tem revelado como o colaborar directo de Elliott e membro do grupo de post-pop británico Movietone, apresenta as suas próprias canções entre Yan Tiersen y Disco Inferno.Entrada: 7.5 €
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Sexta-feira dia 6 Maio às 23h00
Electro_Jazz_sessions
L.I.P. vs MICRO AUDIO WAVESLisbon Improvisation Players
Rodrigo Amado – saxofone
Eduardo Lalla – trombone
Pedro Gonçalves – contrabaixoMicro Audio Waves
Cláudia Ribeiro – voz
Flak – programações, instrumentos
Carlos Morgado – programações, instrumentosApesar da crescente relevância da improvisação nas mais diferentes áreas, e do número cada vez maior de músicos “improvisadores”, são ainda raras as ocasiões em que se cruzam as diversas linguagens e projectos. Neste concerto, que reúne duas das mais importantes formações da cena de vanguarda nacional, irão ser confrontadas as vibrações eléctricas pop destiladas por MAW e as linhas orgânicas de improvisação livre dos LIP. Groove eléctrico com solo bebop ou swing livre contaminado pela improvisação electrónica são duas das inúmeras formas que poderão surgir deste encontro.
Os Lisbon Improvisation Players são um colectivo de improvisação, de formação variável, liderado por Rodrigo Amado, que pretende funcionar como um pólo de experimentação colectiva para os diversos músicos que desenvolvem projectos nesta área. Ao longo de cerca de 7 anos realizaram inúmeros concertos, tendo tocado em alguns dos principais festivais de jazz, nacionais e internacionais, nomeadamente “Jazz em Agosto”, “Jazz ao Centro” e “Atlantic Waves”. Têm dois discos gravados para a editora Clean Feed (“Live_LxMeskla” e “Motion”), e um terceiro, gravado em quarteto com Amado, Dennis Gonzalez, Pedro Gonçalves e Bruno Pedroso, que será editado no início de 2006. Rodrigo Amado tocou com musicos como Steve Swell, Ken Filiano, Steve Adams, Paul Dunmall, Joe Giardullo, Alex Cline, Bobby Bradford, Vinny Golia, Dominic Duval, Kent Kessler, Paal Nilssen-Love, Chris Jonas, Lou Grassi, Mark Whitecage, Carlos Zíngaro, Phill Niblock, Sei Miguel, Rafael Toral, Carlos Barretto, Ulrich Mitzlaff, entre outros.
Os Micro Audio Waves (originalmente um duo) surgiram na viragem do século começando por desenvolver composições de natureza minimal e experimental, cujo resultado foi apresentado no primeiro álbum (“Micro Audio Waves”), lançado em 2002. Com a entrada de Cláudia Ribeiro (voz), o projecto ganha novos contornos. A electrónica mais “purista” dá lugar a composições electro-acústicas estruturalmente mais clássicas, sem descurar a vertente experimentalista.
Com passagem por vários festivais nacionais e internacionais (Londres, Madrid, etc.), os Micro Audio Waves são neste momento um projecto incontornável no panorama da música “avant-garde” nacional, tendo apresentado em Junho de 2004, o seu novo disco (“No Waves”) no Festival Sónar de Barcelona, com honras de transmissão na BBC Radio One. Desde então, o novo disco do projecto português foi uma presença regular no programa do famoso radialista britânico John Peel, que culminou com a eleição de “No Waves” como um dos melhores discos do mês de Julho da estação inglesa. “No Waves” foi lançado em Portugal no final de Setembro de 2004.Entrada: 5 €
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Sábado dia 7 Maio a partir das 19h00
experimental_electronics_sessions
Laptop Don’t Stop com:
Vítor Joaquim, Miguel Carvalhais, Pedro Tudela, Carlos Santos, Emidio Buchinho, João Hora, Pedro AlmeidaLaptop NON STOP é uma pequena tournée de três concertos a acontecer em três cidades portuguesas: Lisboa, Setúbal e Porto. Em comum, o facto de todos os músicos usarem o laptop como instrumento de criação sonora ou visual.
“Qualquer músico acústico está ciente disso por estes dias: para que a execução de um instrumento, ou de um grupo de instrumentos, se torne num evento, ou seja, tenha um carácter de festa ou cerimónia comunitária, é necessário que algum equipamento electrónico lhe dê essa projecção, mediante o conjunto de um sistema de microfonia e amplificação, uma misturadora e pelo menos um par de colunas de som mais monição. Amplificar é sinónimo de tornar público, como se sabe desde que foi salientada a importância do “sound system” na Jamaica dos anos 1950 e tal mensagem se espalhou pelos Estados Unidos, pelas ilhas britânicas e depois por toda a parte onde houvesse uma tomada de electricidade. Tocar ao vivo significa, desde então, contar com os préstimos de um PA, o meio que permitiu a efectiva socialização da música. A tecnologia evoluiu, com os primeiros sintetizadores deixámos de separar os mundos da produção e da reprodução sonora, os grandes computadores de parede foram diminuindo de tamanho, surgiram o conceito de “sampling”, que consiste, basicamente, em fazer um som a partir de outro som que lhe pré-exista, e a síntese, esta acrescentando novos sons à natureza. Até que chegámos, finalmente, à era do laptop, um pequeno mas todo-poderoso produtor e reprodutor de sons e simultaneamente instrumento e “sound system”, dado que pode ter a sua própria mesa de mistura virtual e até, à escolha do utilizador, um “set” de altifalantes. O novo utensílio personalizou-se, ficou com o tamanho suficiente para se transportar numa mochila às costas, mas ao mesmo tempo ganhou dimensão colectiva, ou, como assinalou a compositora electroacústica Laura Spiegel, tornou-se num instrumento folk. O festival planetário Hip Chips comemora essa vertente comunal – dezenas, centenas, milhares talvez de laptops em funcionamento concertado pelo mundo, tal como acontece com a computação em rede de tantos e tantos anónimos em vários continentes que recolhe dados do espaço e os envia para a NASA – e os concertos portugueses Laptop Non-Stop têm como propósito tornar local uma acção pensada globalmente: com esta iniciativa uma coisa é certa, os computadores portáteis não serão usados para actividades estatais e corporativas, mas como utensílios de liberdade social.” Rui Eduardo Paes
Entrada:
até às 23h00: 1 €
a partir das 23h00: 5 €****************************************************************************
Festival Where’s The LoveQuinta, Sexta e Sábado dias 12, 13 e 14 de Maio às 23h00
Mais do que um festival, o Where’s The Love Fest é um pretexto feito de um acoplar de conceitos, intenções, acções e coincidências. Sem querer ser um espelho particularmente heterogéneo das movimentações da zdbmüzique, como o foram as datas da celebração dos dez anos da ZDB, o Where’s The Love Fest foca-se em dois particulares espectros, em cuja infinita riqueza criativa a programação de concertos da zdbmüzique do último ano tem vindo a apostar em força.
Por um lado temos uma bipolaridade transcontinental clara, entre as movimentações do rock já desconstruído, fragmentado e realinhado, e da música textural «freeform» com um novo discurso, caso dos norte-americanos Gang Gang Dance, Jackie-O Motherfucker e Magik Markers, com correspondência de atitudes por parte dos portugueses Loosers, Gala Drop e CAVEIRA. Por outro, escolheu-se também dar espaço a acções criativas exploratórias de meios digitais, com Phoebus e Nad Spiro, em noites diferentes, como exemplos conseguidos do que de novo de vai fazendo nesse campo.
O propósito de tudo isto, contudo, é o de realizar três noites preenchidas por alguma da música mais relevante que se vai fazendo em Portugal e no estrangeiro, como meio da Galeria Zé dos Bois e do seu público crescerem juntos em associativismo. Existirá um bilhete de 20€ que dá acesso às três noites de concertos, com a particularidade importante de oferecer ao seu comprador o estatuto de sócio da ZDB com cotas pagas até ao final do ano de 2005; momento ideal para o espectador assíduo – ou com intenções de o ser – , ocasional ou recém chegado às actividades musicais da Zé dos Bois tratar de se afiliar e poupar algum dinheiro. O estatuto de sócio oferece informação regular por correio e descontos na ordem dos 20% relativamente a todos os eventos pagos da Galeria. Como alternativa existirão também bilhetes válidos para uma só noite, ao preço de 10€, sem direito às regalias supramencionadas.
Entradas:
Passe para 3 dias + cartão de sócio: 20 €
Bilhete para 1 dia: 10 €****************************************************************************
Quinta-feira dia 12 Maio às 23h00
Festival Where’s The Love
GANG GAND DANCE
LOOSERS
GALA DROPGang Gang Dance
Torna-se cada vez mais claro que a pop e a vanguarda da mesma funcionam – até ver, irremediavelmente – em ciclos de 20 anos. Em 2005, os Gang Gang Dance parecem contemporaneizar um eterealismo que ficara perdido nos meados dos anos 80. Saber que um dos membros da banda é DJ na noite de Smiths num dos clubes mais «trendy» nova-iorquinos, o Dark Room, passa a fazer muito mais sentido. Existe uma nova escuridão, uma actualização com duas décadas de música e evolução estética em cima para o que em Portugal se denominou como os «vanguardas», pivoteada pelas «torch songs» de Antony, pela bruxaria de seda dos White Magic de Mira Billote, e por este estranho e universal som dos Gang Gang Dance. O impacto e as repercussões ainda estão para vir cá para fora, mas o «buzz» é fortíssimo.
A música dos Gang Gang Dance, documentada de forma irregular (os álbuns anteriores, um homónimo e «Revival Of The Shittest», foram gravados há mais de dois anos, sendo que o novo «God’s Money» reúne gravações feitas ao longo do último ano) apesar de lançada num espaço de tempo relativamente curto, deu um salto tremendo, que só quem assistiu aos seus concertos ao vivo (lembre-se da actuação o ano passado em Lisboa, na comemoração dos dez anos da ZDB) podia prever desembocar em «God’s Money», editado pela Social Registry.
«God’s Money» está imerso em aproximações de líricas orientais, de misticismos por descortinar, cerimónias pagãs e códigos secretos.
O que antigamente pareciam fragmentos alinhados de forma «non-sequitur» em narrativas oníricas, agora adquirem uma forma bastante mais aproximada à canção, embora mantendo, de um modo bem mais estruturado , esses atributos. Liz Bougatsos soa a um cruzamento entre Liz Frazer (há muito de 4AD «vintage» no álbum, diga-se) e Yoko Ono, por entre guitarras mutantes a passar por pedais e processamento MIDI, enquanto teclados – não completamente distantes dos de «Haus der Lüge», dos Einstürzende Neubauten – feitos de todo o tipo de circuitos alinham estruturas harmónicas. A percussão, cada vez mais complexa, trabalhada e dura, incorporando polirritmias africanizantes, é uma autêntica cerimónia tribalista urbana, lembrando a espaços os Neu ou os Swans mais marciais.
Depois de uma digressão com os Animal Collective há poucos meses e de recentemente terem aberto para a reunião dos Slint no Irving Plaza, em Nova Iorque quase que já não há sala onde não esgotem. O resto do mundo da música independente aguarda.
Loosers
Criadores e porta-estandartes de algum do rock mais arrojado, descontrutivista e vibrante produzido em Portugal na última década, os Loosers apresentam-se ao vivo no espaço que albergou os seus ensaios, sob o tecto e um selo em que editaram o seu EP da estreia, pela zdbmüzique.
Inicialmente interligada à música de bandas como Suicide ou Liars, a arte dos Loosers tem vindo progressivamente a ser depurada numa identidade discursiva cada vez mais de si própria, sem qualquer tipo de derivativismos. Pleno de músculo, suor, expressão física extrema, o som actual dos Loosers acaba por ser uma recontemporaneização do som da no wave nova-iorquina, agrupando elementos performativos (concertos houve com pratos de bateria a caírem ao chão, máscaras de luta livre mexicana). O aspecto visual e «extra-curricular» dos Loosers estende-se até à parafernália que vendem nos concertos, com produtos certificados conceptualizados pela banda – é possível não respeitar quem vende tubos para fazer bolas de sabão do rock? Já donos de um considerável currículo de espectáculos ao vivo, compreendendo várias localidades em Portugal, bem como actuações na Irlanda do Norte e na Ásia, os Loosers fazeram também parte do programa de 2004 do festival Atlantic Waves. Música inteligente e dedicada no seu habitat natural, bloco operatório e incubadora original. Obrigatório trazer desodorizante.
Gala Drop
Um dos primeiros concertos do duo de Tiago Miranda (Loosers, Dezperados) e Nelson Gomes (ex-Act-Ups), os Gala Drop são a primeira formação nacional de explorações texturais «freeform» (que com eles tragam uma tradução para esta palavra), movimentando-se totalmente no domínio da electricidade analógica pura. A partir de uma guitarra estendida no chão a alinhar ritmos desencontrados em nuvens de som harmónico, um microfone a canalizar vocalizações abstractas celestes e uma «tape machine», de onde Tiago Miranda lança ruído orgânico e fracções de beats de selva urbana abrasiva através de uma série de cassetes pré-gravadas, o som dos Gala Drop passa por uma miríade de pedais que torna os seus sons originais em drones fragmentados e oblíquos.
Tomando inspiração nas ruminações de electricidade livre de projectos como Black Dice, Double Leopards, The Hototogisu ou do trabalho mais espacial de Panda Bear, o que os Gala Drop fazem roça o inédito em Portugal. Pela primeira vez estamos perante uma série de projectos nacionais, onde se podem incluir Loosers ou Fish & Sheep, que respondem em tempo real às movimentações da vanguarda parente do rock do panorama urbano ocidental. Mas não só. Longe de qualquer tipo de mimetização, o mais importante de tudo isto é o próprio discurso emocional e estético distinto que este duo, numa fase tão inicial do seu percurso, já conseguiu criar. Expectativas em alta.****************************************************************************
Sexta-feira dia 13 Maio às 23h00
Festival Where’s The Love
JACKI O-MOTHERFUCKER
NAD SPIRO + POP EYE
FRANGO
Jackie-O Motherfucker
Um erro de interpretação recente e reincidente a que se tem assistido quando se fala dos artistas e grupos, confortavelmente rotulados como «freefolk» ou «freakfolk», é a ideia de que apareceram todos de repente, fruto de uma moda impulsionada por uma mão cheia de figuras. Como uma série de outros projectos duradouros neste campo, caso dos No-Neck Blues Band, The Tower Recordings, Charalambides ou os Sunburned Hand Of The Man, os Jackie-O Motherfucker e o seu início remontam até há praticamente uma década. Enquanto o olhar menos aprofundado à música independente se focalizava, no final dos anos 90, nas cavalgadas transcendentais dos Godspeed You! Black Emperor ou nas descargas eléctricas dos Mogwai, todos estes grupos já tinham lançado uma série de registos em editoras de menor visibilidade ou em formatos de mais pequena circulação.
Os Jackie-O Motherfucker, de várias formas, foram a primeira bandeira realmente visível de todas estas movimentações. Quando há alguns anos apareceram na capa da revista britânica The Wire, deu-se o acordar da Europa e um adensar de consciencialização nos Estados Unidos em relação a toda a exploração que estava a ser feita nesta área. O próximo passo foi realizar uma digressão da banda pela Europa com os incríveis britânicos Volcano The Bear, meses antes de outra também ela transcontinental, já de volta à América do Norte, com os ingleses Vibracathedral Orchestra e Sunroof!.
Cada álbum dos JOMF é um caso aparte, modulado por uma formação eternamente em mudança, num colectivo itinerante que funciona à volta de uma única figura central – Tom Greenwood. O que liga todos os álbums dos Jackie-O, contudo, é a união – recorrente em toda a grande arte dos Estados Unidos – entre idiomas telúricos e metafísicos. De Whitman, Kerouac, Grateful Dead aos JOMF há uma ligação quase pré-natal à terra, ao solo, mas também à viagem e à circulação e trânsito perpétuos; um nomadismo tão literal quanto espiritual. Simultaneamente coexiste, intimamente ligada a essa movimentação, uma vontade tão grandiosa quando clássica nos seus moldes, de ascender a um universo cósmico, onde as verbalizações rectas perdem a força e se entra no domínio do inominável.
Assim, de discos como o seminal «Fig. 5», a «Liberation» ou «Change», podemos ouvir espirituais, blues fracturados, canções de abandono e mágoa lado a lado com tripes comunais, coaguladas com guitarras eléctricas espaciais em peyote, tão lânguidas e planantes que se transformam em drones. Estão lá Robert Johnson e Skip James, cantares do livro da Sacred Harp e «Moonshiner», lado a lado com os Can mais estratosféricos e os Spiritualized do início, sempre lá em cima das nuvens.
Os Jackie-O Motherfucker deverão editar um novo álbum nos próximos meses pela All Tomorrow’s Parties Recordings. Deles é especulativo dizer o que se pode esperar, para lá do facto que pelo menos cinco membros vêm a caminho nesta orquestra vagabunda de guitarras, cordas, percussão variada, gira-discos e cantares. Das maiores e relevantes figuras da música independente norte-americana da última década, em estreia absoluta no nosso país.Nad Spiro + pOp EyE
Projecto da espanhola Rosa Arruti, Nad Spiro mistura uma série de universos raramente acoplados simultaneamente em música. Arruti trabalha diversos samples, quer de gravações de campo, guitarras ou vocalizações, num universo digital fragmentado, em intimidades electrónicas que lembram AGF ou Laub. Encontram-se também reverberações estéticas distantes da década de 80, com recorrentes ecos dos Human League e Throbbing Gristle processados por uma década de «laptopping», minimalismos e filtros estéticos.Para além de uma recente colaboração com Kim Cascone, Rosa Arruti tem um álbum editado, «Fightclubbing», em cujo tema-título desconstrói o original «Nightclubbing» de Iggy Pop. Uma transfiguradora e reconfiguradora de iconografias, pela primeira vez entre nós.Frango
Banda da Margem Sul e da Grande Lisboa existente há já mais de um par de anos, em estreia na Zé dos Bois.
Deles apenas conhecemos uma velhinha maqueta algures entre os Mogwai mais letárgicos e a secura dos June of 44, mas os anos passados entretanto, o contacto com as pessoas em questão, relatos de concertos recentes, bem como as actuações de Jorge Martins (membro dos Frango) no duo Fish & Sheep que se têm vindo a realizar, fazem-nos esperar algo bem mais distinto e fresco. Expectativas altas.
N.B.: À altura de ir para imprensa, um novo registo da banda, intitulado «Sitting San», estava prestes a sair na emergente (e, ao que sabemos, pioneira em Portugal) «netlabel» test tube, ligada ao selo mono¨cromatica.****************************************************************************
Sábado dia 14 Maio às 23h00
Festival Where’s The Love
MAGIK MARKERS
CAVEIRA
PHOEBUSMagik Markers
“Os Teenage Jesus & The Jerks reencarnados”, “um bocado caóticos demais” ou “a melhor banda da história de sempre” são três razões para se adorar, ou não, os Magik Markers, das bandas mais incríveis da actualidade.
Três miúdos que cresciam no meio de nenhures, nos Estados Unidos sem nome onde o tédio é o maior catalizador, começaram a fazer um barulho que ensurdecesse a vida. Uma bateria manhosa, provavelmente uma guitarra partida e outra que já só faz mau contacto, uns microfones e um gravador de cassetes. Do melhor hardcore herdaram o «fuck it», dos discos de Sonic Youth ouvidos aos 13 anos a liberdade primordial, dos Harry Pussy o ruído e a explosão contínua, de Blake e Melville a poética gutural, de Débord o confronto e a verborreia assassina, do século XXI as coisas a mais para dizer. São Elisa Ambrogio, Leah Quimby e Pete Nolan, os Magik Markers, e é muito possível que nunca tenham visto nada tão assustador em cima de um palco.
Nem um ano volvido após a Sub Pop ter voltado a acordar para a vanguarda ao assinar os Wolf Eyes, a sempre «passé» Spin tentar articular um artigo sobre o novo «noise» nova-iorquino e a maratona de ruído vivo que é o «brooklynita» No Fun Fest se ter tornado um marco histórico na música contemporânea, a América extrema começa realmente a ver princípios de uma difusão mais coadunada com o mérito artístico que possui.
Hoje em dia espalhados por Seattle, Montreal e Brooklyn, os Magik Markers são um trio de improvisação total e um dos pontos máximos das explosões que Bush detonou junto aos seus próprios pés. Thurston Moore apaixonou-se imediatamente, tendo-os convidado para uma digressão com os Sonic Youth. Já partilharam concertos com espíritos livres como os drones em direcção ao vazio infinito dos Double Leopards, o fogo puro pela via do free jazz do sax de Paul Flaherty e da bateria de Chris Corsano ou os esquizofrénicos filmes de terror dos Wolf Eyes. Há CD-R’s, cassetes e LP’s (o último, editado no selo de Moore, a Ecstatic Peace!, é «I Trust My Guitar, Etc.», tem do mais fantástico «artwork» de que há memória), mas, mais que isso, o que há é pressa.
Não é raro vê-los sair ensanguentados de um palco, ou, pelo menos, completamente exaustos. É ainda menos raro uma guitarra não sair partida, mas se isso um dia se tornar um cliché os Markers nem pensam duas vezes. Trata-se de inventar vontades, inventar momentos e inventar emoções, quando se olha para milhares de anos de música e acções, e por segundos tudo parece feito e o que resta fazer é gritar confusão até o corpo ficar esquecido e o sol obliterar a alma.
Pela primeira vez em Portugal, a melhor banda do mundo (sempre que precisarem dela), os Magik Markers.
CAVEIRA
Trio-entidade que une moradores do percurso Cascais-Bica-Alameda, CAVEIRA tem desinquietado e entediado espectadores, avisados ou surpreendidos, pela Grande Lisboa e arredores desde o ano de 2003.
A formação é composta por Joaquim Albergaria (toca bateria, canta nos Vicious 5, era straight, agora bebe cerveja da garrafa), Rita Vozone (toca guitarra, faz pins, chateia-se) e Pedro Gomes (toca guitarra, escreve, chateia-se). Em disco, a única coisa que se lhes conhece é uma versão para a lenda do FM nacional «Sharon Stone», dos Delfins, reconvertida a desconstrução rock, assemelhando-se a um «stoner» transferido do deserto do Arizona para as planícies de um Alentejo da mente, com explorações de ruído primitivo pelo meio.
Influências para o seu som actual incluem «Transmaniacon» dos RTX, os discos que valem dos Dead C e o trabalho de vozes dos Crosby, Stills & Nash «unplugged» de Woodstock. É o primeiro concerto da banda mencionado numa agenda cultural.
Phoebus
Phoebus é o projecto do português Afonso Simões, que no início do ano lançou o seu primeiro registo na estreia do selo Test Tube, editora de lançamentos em formato áudio electrónico pertencente à lusa mono¨cromatica, sob a forma do EP «Peri Sable». Empreendimento a solo nascido de um contínuo interesse pela música, Phoebus trabalha a improvisação através do uso do laptop, utilizando sons de origem orgânica, normalmente provenientes quer de gravações previamente efectuadas, quer de percussão captada por microfone em palco, ambas processadas em tempo real por meios digitais. Em «Peri Sable», contudo, encontramos a veia do seu trabalho mais associada aos drones, em que massas de som se parecem desintegrar e «redesintegrar» continuamente.
Pontos de contacto podem ser encontrados em vários projectos que dão elevado grau de importância ao som orgânico em contextos experimentais, como o trabalho de Fennesz, os colectivos de improvisação AMM ou Thuja, bem como música de uso extremo e exploratório de percussão dos domínios da improvisação e do free jazz.****************************************************************************
Quinta-feira dia 19 Maio às 23h00
Polish_Country_ sessions
MITCH AND MITCH
Dados biográficos reais é coisa com que Mitch & Mitch não se parecem alguma vez ter preocupado, mas é algo para ser levado a mal.
Fantasia criada por vários Mitch’s, cidadão polacos, a partir de imaginários ranchos situados em apartamentos citadinos, o projecto aqui apresentado é simplesmente um exercício assumidamente «fetichista» e lúdico de uma estética conscientemente desterrada. Mitch & Mitch, muito basicamente, são homens polacos a pragmatizarem a sua paródia humorada e jocosa dos blues eléctricos e do country norte-americanos, observados e adorados à distância, em celebração assumidamente primária.
A ZDB dispõe-se alegremente em poder conviver com este alargamento plural de manifestações de arte/entretenimento sem compromissos. Festa rija é na Zé dos Bois, com Mitch & Mitch.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 20 Maio às 23h00
Cine_music_sessions
“HER”
Diogo Valério e Gonçalo Silva, ambos membros dos In Her Space(que possuem uma sala de ensaios na Galeria ZDB), formam o projecto “her”composto para duas guitarras temperadas. Ao escolher o filme North by Northwest para musicar, aceitaram o convite da ZDB para estrear estas Cine_music_sessions.North by Northwest (1959) -136 minutos
Alfred HitchcockDecifre-se a lógica do sonho e do desejo.
Oculta no olhar da bela agente dupla.
Para além das falsas identidades e de facínoras a soldo de potências estrangeiras.
Ainda que a razão se exerça em vão.
Ainda que Mr. Kaplan não exista.
Ainda que O. signifique absolutamente nada.Entrada: 5 €
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Sábado dia 21 Maio às 23h00
Rock_n_Roll_sessions
EX MODELS
THE VICIOUS 5
Ex Models
Quando se olha para a cronologia de concertos dos Ex-Models no website oficial da banda e se vê que nos primeiros meses, corria o ano de 2001, dividiam noites com Liars, Yeah Yeah Yeahs, Peaches, Black Dice ou Arab On Radar, percebe-se que dali teria que sair algo com relevo e impacto. Nos anos que passaram, quase que não há dia em que a banda não toque, partilhando palcos com Tortoise, The Locust, Beans, Erase Errata, Holy Molar ou Oneida.
Nascidos no meio underground nova-iorquino do final dos anos 90 e início do novo milénio, os Ex-Models têm vindo a desenvolver as suas muito próprias variações para a desconstrução do rock. Pegando na matriz do «math-rock» deixada pelos Brainiac, os Models reúnem a precisão frenética dessa banda em complexos padrões rítmicos fragmentados, a angularidade fresca dos Liars mais dançáveis e o esquizoidismo dos senhores do r’n’roll. Toda a energia é condensada até ao limite em peças que raramente passam dos três minutos.
A banda tem obra editada em alguns dos mais emblemáticos selos do panorama independente DIY norte-americano e europeu, caso da ThreeOneG, X-Mist ou Ace Fu. Apesar de pontos de contacto com o revivalismo do pós-punk, cuja morte já há bastante tempo foi anunciada, nunca chegaram a apanhar essa boleia porque o que fazem sempre esteve muito para lá disso, como comprovam as parecerias acima mencionadas e a música que já deixaram para trás.
Por entre guitarras oblíquas, bateria diabólica e descargas de electricidade provenientes de osciladores analógicos, a máquina ao vivo dos Ex-Models, pela prática e mecanização, rola à velocidade de corações em speed.The Vicious 5
Incendiando palcos ibéricos há mais de um ano para cá, os Vicious 5 apresentam-se na ZDB, por esta ocasião, algumas semanas após gravarem o seu novo álbum, a sair nos próximos meses pela Loop Records.
Se «The Electric Chants Of The Disenchanted», o EP de estreia, dos melhores registos de rock nacional da última década, deixou muita gente entusiasmada, quem tem acompanhado o percurso da banda em palco sabe o quanto evoluíram. Estão lá os MC5, os Who (sem as partes parolas e os discos conceptuais), os Kinks se tivessem ouvido a música angular dos JR Ewing, bem como um soul disfarçada de punk rock revisto e modernizante, tudo condensado num discurso que já é só seu. As canções estão cada vez mais melódicas, um pouco mais longas, sem que com isso a música perca a sua imensa fisicalidade e descarga eléctrica.
Depois de várias actuações dentro e fora das movimentações Kid City (activadores de eventos por vários espaços lisboetas), a ZDB volta a receber os Vicious 5 para mais uma ode à desidratação. Já se sabe que é para dançar.Entrada: 7.5 €
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Terça-feira dia 24 Maio às 22h00
Grandmaster_Merzbow_sessions
DÄLEK
ODDATEE
Dälek
De um ponto de vista estético, seria praticamente impossível colocar os Dälek numa editora mais apropriada que a Ipecac de Mike Patton, onde editaram os seus dois álbuns mais recentes em nome próprio, «From Filthy Tongues Of Gods And Griots» e «Absence».
Tal como os Dälek, é em duas das linhas mais importantes que podemos começar a desvendar a coerência o trabalho de Patton, dos Faith No More aos Fantômas, dos discos a solo na Tzadik até às colaborações com John Zorn e Ikue Mori ao vivo. Assentam no cruzamento em sobreposição de estéticas, e num tipo muito particular de escuridão de desenho industrial.
O trio Dälek, de Hoboken, New Jersey, tem traçado um caminho muito idiossincrático no hip hop. O mundo da música independente aprendeu primeiro o nome deles com a muito celebrada colaboração que encetaram com os reis do kraut e da experimentação germânica, os Faust (que culminou na gravação do disco Faust Vs Dälek, denominado «Derbe Respect Alder»).
Contudo, podem ser alinhados de várias outras formas. Por um lado, inserem-se na linhagem de um hip hop sério, politizado, duro mas – e principalmente – um que encaixa estéticas fora dos cânones a que o hip hop normalmente se liga, caso dos Disposable Heroes Of Hipocrisy ou mesmo dos Public Enemy. Podemos encontrar paralelos com congéneres da mesma geração, caso dos extintos Anti-Pop Consortium, o colectivo Anticon e algum do trabalho mais abrasivo da Def Jux de El-P.
Em «Absence», o seu novo álbum, os Dälek dão um passo em frente no refinar do seu som. Encontramos muralhas imensas de som vibrante, edificadas por guitarras que tanto reportam a Glenn Branca, como ao industrial corrosivo dos Neubauten dos anos 80, ou ainda aos hinos oblíquos da no-wave nova-iorquina, dos DNA, Mars e Teenage Jesus & The Jerks. As rimas e os MC’s estão em fogo, lançando uma miríade de visões apocalípticas, crítica social e motins, sob batidas fortíssimas em marcha.
Música pronta para a batalha, num dos raros momentos (cada vez mais regulares, contudo) em que alguns dos mais relevantes artistas da vanguarda do hip hop se deslocam à Península Ibérica. Segunda visita em Portugal de um grupo que já fez datas e digressões com gente como os De La Soul, The Dillinger Escape Plan, The Roots, Prince Paul ou DJ Spooky.Oddateee
Celebrado pela Blow Up como “um dos performers mais dinâmicos dos últimos anos em concertos de hip hop”, o nativo de Nova Iorque Oddateee estreou-se com «Steely Darkglasses». Apenas o segundo lançamento de hip hop na Gern Blandsten Records, «Steely Darkglasses» continua a expandir o trilho traçado pelo seu predecessor, «Negro Necro Nekros» dos Dälek. A comparação é devida, em grande parte, à produção do álbum, que é uma colaboração entre Oddateee e os Dead Verse, a equipa de produção Dead Verse (Dälek, Oktopus, Still, Joshua Booth e Balthizar). O dinâmico cruzamento de sons resulta numa colecção heterogénea de faixas agressivas que, de forma fluida, mistura ritmos espessos e definidos com texturas de rock exploratório, ondas de som «shoegazer» e linhas de baixo vindas do dub. Após ter-se ligado a Komplex (R.Vega), um produtor talentoso vindo de Union City, New Jersey, Oddateee tornou-se num membro fundador e veterano de dez anos dos Labteks, uma crew de 30 unidades responsável por alguns dos álbuns de hip hop mais inovadores que provavelmente nunca ouviram.
Seguindo a iniciativa dos Komplex e influenciado pelo resto da crew, Oddatee familiarizou-se com a criação de faixas para lá de fronteiras em oposição a insistir em repetir convenções experimentadas e batidas.
Desde a edição de «Steely Darkglasses» no fim de 2001, Oddateee colaborou ao vivo e em estúdio com artistas e projectos como Dr. Israel, Dälek, Cherry Valence, Sofa Surfers, Mike Ladd, Anti-Pop Consortium, Smut Peddlers, DJ Spooky ou Prince Paul.Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 26 Maio às 23h00
Noite_às_Novas_sessions
LEMUR
MUSGO
RATS UN THE UPPER STORY
Terceira etapa para as Noites às Novas na Zé dos Bois, em que novos artistas nacionais de mérito assinalável tomam o palco do aquário da Galeria, para mostrarem alguma da mais interessante música de cariz exploratório a aparecer em tempos recentes.
A primeira iniciativa incluiu Danye77a, Sandra e Lolly And The Brains, e a segunda, Fish & Sheep, We Shall Say Only the Leaves, A A Tigre e António Contador.
Agora, ocasião para conhecer Lemur, Musgo e Raats in the Upper Story…Lemur
Os Lemur são de Lisboa e começaram a tocar em 2003. A formação original manteve-se até hoje: Vasco Furtado: bateria. João Brandão: guitarra,baixo, João Marques: baixo, guitarra, Pedro Rodrigues: violoncelo, teclas. O estilo musical é ainda uma incógnita para todos os elementos da banda que, quando interrogados, só conseguem dizer duas palavras: rock instrumental.
Partilharam o palco, em diferentes ocasiões, com bandas como os Bypass, Ölga, Brainwashed by Amalia e Allstar Project. Em 2004 editaram uma maqueta com seis temas.Musgo
Musgo nasceu por via de Eduardo Ricciardi, Rodrigo Alfacinha e João Osório, em Lisboa no dia de Santo António de 2002.
Musgo é textura, ambiência e experimentação de elementos orgânicos e electrónicos. Move-se através de sintetizadores regressivos, samplers rasgados, glockenspiele frenéticos, teclados de computador percussivos, guitarras cantantes de 4 bits, baixos minimais e diversos outros objectos. Cruzam-se estradas rurais mediterrânicas com motores-rotores germânicos guiados por um laranja-far-west resguardado numa terna bolsa subaquática.
De momento, Musgo, encontra-se a preparar um novo trabalho.
Rats In The Uper Story
Quarteto lisboeta, cujo projecto venceu a edição do ano de 2004 dos Jovens Criadores, constituído por Ruben Costa, Nuno Monteiro e Nuno Pessoa, circundando maioritariamente composições de Rodrigo João, que é também o vocalista.
Rats In The Upper Story, tanto o nome quanto a música, remetem para um estado perturbado de mente, em que canções surgem como um analgésico soro da verdade. As letras tratam de passados, arrependimentos e amarguras, sendo que o suporte sonoro encontra com sucesso um elemento lúdico e luminoso no meio de disputas emocionais internas.
Ouvem-se guitarras etéreas, sintetizadores analógicos e um vocoder dos antigos, xilofones à procura do onírico e percussão como penas a caírem em tarola e pratos.
Se o registo de canção é original e bastante distinto, conhecem-se influências no projecto no kraut em forma de comprimido pop (ver a faixa «Grotesk», a fazer lembrar os Neu), ouvindo-se também reminiscências da languidez dos primeiros Red House Painters de «Down Colourful Hill» na guitarra etérea de «In The Attic».
Será interessante ver como o projecto evoluiu passados mais de doze meses após o fim das gravações da maqueta inicial que ganhou o supramencionado concurso, na sua primeira apresentação pública ao vivo em Lisboa. Fica-se a aguardar pelas canções de demência de noite profunda da banda.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 27 Maio às 23h00
Mellow_Out_sessions
DAMON AND NAOMI
A história é das mais sabidas da música independente dos últimos vinte anos. Das cinzas dos Galaxie 500, banda que criou algumas das mais fabulosas canções do último par de décadas ao longe de uma carreira imaculada, surgiram dois projectos: por um lado, os Luna, de Dean Wareham; por outro, o projecto Damon & Naomi (inicialmente denominado de Pierre Étoile), de Damon Krukowski e Naomi Yang, baterista e baixista dos Galaxies, respectivamente.
Após uma década ligados à Sub Pop, onde se tornaram nomes da casa do «indie» norte-americano, Damon & Naomi vêm a sua primeira edição em selo próprio, na 20/20/20 Records (editado, na Europa, pela madrilena Acuarela). O álbum novo é «The Earth Is Blue», que, apesar de neste ponto da história, já não ir deixar nenhum fã de longa data particularmente surpreendido, tem vários «twists» novos, num discurso criativo cada vez mais maduro, refinado e elegante, desenhado com mestria.
Cinco anos volvidos depois da muito celebrada colaboração com os históricos «psych-rockers» nipónicos Ghost, «The Earth Is Blue» conta com a participação a tempo inteiro do guitarrista Michio Kurihara, membro de longa data da formação japonesa. Podemos encontrar o baixo planante característico de Young, a bateria de Krukowski agora focada em elegias amenas, com a guitarra eléctrica de Kurihara a desenhar obliquidades e interrogações tão abrasivas quanto doces. De sublinhar a participação em algumas faixas de Greg Kelley e Bhob Rainey, o fantástico duo de improvisação «near silence» orgânica Nmperign, prova de que apesar de continuarem sempre a trabalhar a canção, Damon & Naomi continuaram sempre entusiastas de alguma da música urbana mais extrema que se vai fazendo.
Para além das colorizações oníricas «prog-escas» de Kurihara, denotam-se pigmentações harmónicas vindas do Brasil, evidenciadas pela versão que o duo faz de «Araçá Azul», de Caetano Veloso. É um álbum de brisas, que respira como manhãs de sol e céu limpo, pleno de intimidades e levezas que só a calma sazonada consegue potenciar.
Damon & Naomi fazem-se acompanhar nesta data por Kurihara, na que será a primeira aparição em Portugal de dois incontornáveis da canção independente moderna.Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 28 Maio às 23h00
noite_bart-maris_granularBART MARIS SIX
Bart Maris – trompete, Fluegelhorn
Paulo Curado – saxes soprano e alto, flauta
Rodrigo Amado – saxes alto, tenor e barítono
Nuno Rebelo – guitarra
Francisco Rebelo – baixo, percussão electrónica
João Gomes – teclados, electrónicaBART MARIS STRING PROJECT
Bart Maris – trompete, Fluegelhorn
Paulo Galão – clarinete, clarinete baixo
Carlos “Zingaro” – violino
Ulrich Mitzlaff – violoncelo
Miguel Leiria Pereira – contra baixo
Miguel Carvalhais – computadorBart Maris, trompetista Belga que esteve entre nós com os X-LEGGED SALLY numa coreografia de Wim Wim Vandekeybus – Bereft of a Blissful Union – tem tido uma actividade continuada em formações diversas que vão do avant-rock ao jazz, da improvisação à composição para cena. Fez parte de grupos como Fukkeduk, The Simpletones, Kamikaze, colabora com Olla Vogala e Jaune Toujours nas áreas da world – folk e participa em projectos de Fred Frith, Han Bennink, Ikue Mori, Rene Lussier, Zeena Parkins, Chris Cutler, Jean-Marc Montera, David Moss, John Zorn, David Shea, Butch Morris, Charles Gayle, e no ROWO Project de Christina Wodraska com Michael Wimberly, Carlos “Zingaro” e Yves Romain. Actualmente faz parte do The Flat Earth Society de Peter Vermeersch e compõe música para Meg Stuart, David Hernandez e Pe Vermeersch. É professor convidado de improvisação no Conservatório de Ghent. Tem estado recentemente em Lisboa em colaboração com o coreógrafo / bailarino António Tavares.
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Segunda dia 30 Maio às 22h00
Domino_sessions
HOOD
ADRIAN CROWLEY
Hood
Torna-se cada vez mais claro que o que sempre mais interessou aos Hood foram e são as canções. A lançar discos desde os primeiros anos da década de 90, por mais actualizações e mutações que sofram com os tempos, influenciados pela música contemporânea de cada edição, o que atravessa toda a carreira dos Hood são canções tristes, uma guitarra lânguida em melancolia sem fim.
Provenientes de Leeds, os Hood começaram a dar que falar dentro de alguns círculos da música independente «guitar-based» em meados e finais dos anos 90. Discos como «Silent ‘88» ou especialmente «Rustic Houses, Forlorn Valleys», aglutinavam uma dinâmica semelhante aos Pavement mais esparsos e derrotados, às guitarras emergentes do pós-rock da época, caso dos Mogwai, seus confessos admiradores. Ao lado de projectos como os Movietone (que apareceram em cena uns anos mais tarde), durante meia década os Hood foram das melhores coisas que se podiam ouvir no que a angústia anglo-saxónica concerne.
O primeiro salto verdadeiramente visível, contudo, só chegou em 2001, com «Cold House». Um álbum que mistura os aspectos supramencionados com a banda, num abraçar do «glitch» e da batida, em que colaboraram o colectivo de esquizóides da Anticon.
É na sequência desse álbum, que surge, após um hiato de quatro anos, «Outside Closer». Ao lado de projectos como Notwist ou Four Tet, o que os Hood fazem é miscigenar a canção com manifestações estéticas recentes camaleónicas. Cada disco dos Hood, sem ser «fashionista» e mimetizante, é simplesmente um verdadeiro actualizar de uma raiz através de abraçar estéticas contemporâneas. É no assimilar da música que os Hood ouvem hoje em dia que a banda conseguiu encontrar o fio que os permite evoluir, continuar e reinventar-se, permanecer actuais com o que acontece nas áreas com que mais se identificam.
O álbum, editado mais uma vez pela britânica Domino, tem recebido muitas críticas positivas de todos os espectros – da Rolling Stone à Dusted Magazine, da Mojo à Pitchfork.
Os Hood regressam pela primeira vez a Portugal depois de uma atribulada passagem pelo Festival do Porto, há alguns anos, em que viram o seu material ficar retido no aeroporto de origem e dado a emergência, tiveram que se desenvecilhar com guitarras e bateria obtidas à última hora. Esperemos então que o bom karma de «Outside Closer» se alastre à logística.Adrian Crowley
Oriundo de Galloway na Escócia, Adrian Crowley começou no mundo da música em 1999 com o lançamento, sem distribuição oficial, de “A Strange Kind”, álbum gravado durante vários meses na Fusebox, um centro de recursos musicais em Finglas. Para este trabalho juntaram-se a Adrian, Kate Ellis no violoncelo, e Thomas Haugh na bateria.
“When you are here you are family” foi gravado e misturado numa semana, tendo sido auto-editado na Irlanda em 2001. No ano seguinte, a editora independente nova-irquina Ba Da Bing editou ambos os álbuns nos Estados Unidos. Desde então, Crowley tem feito tournés nos Estados Unidos e Reino Unido, sendo noticiado em revistas como Alternative Press, TimeOut New York e The New Yorker.
O terceiro álbum de Crowley, “A Northern Country”, foi acabado há pouco tempo e gravado por Thomas Haugh (aka Hulk) e co-produzido por ambos.
A instrumentação inclui guitarras, violoncelo, harmónio, violino, acordeão, sons captados, saxofone, piano e baixo, entre outros. “A Northern Country” possui lançamentos simultâneos na Ba Da Bing Records nos Estados Unidos, na inglesa Misplaced Music e na irlandesa Catchy Go Go Records.Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira 2 Junho às 23h00
tango_sessions
MILONGA ALTERNATIVAAlejandro Laguna
A propósito da apresentação do novo blog de tango tangoblog, Alejandro Laguna (Argentina) e os Tangoblogueros propõem para a ZDB uma noite alternativa.
Serão apresentadas duas coreografias de dança contemporânea com tango electrónico por Alexandra Salgado e Melanie Sorin + Alejandro Laguna.“… assistimos à aparição de uma nova corrente do chamado tango electrónico ou nova música de Buenos Aires com influências do Tango, desde o Rio da Plata e em direcção a todo o mundo, desde Astor Piazzolla e os Gotan Project, uma nova geração de músicos está a funcionar desde há uns 3 anos, tango com o latin, rap, jazz, candombe, house, hip hop e a electrónica …”
Com imagens de Buenos Aires e com som de novos grupos de música como Tango crash, Bajofondo, Narcotango, San Telmo lounge, Buenos Aires nómade, Ultratango, Tanghetto, BA Tango beat, Samalea….
Pretende-se uma noite para ouvir, dançar e ver dançar!Entrada: 6 €
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Sexta-feira 3 Junho às 23h00
Free_Folk_and_Other_Music_Sessions
MATT VALENTINE % ERIKA ELDER
FISH & SHEEP
MANUEL MOTA + MARGARIDA GARCIA
Matt Valentine & Erika Elder
Por meras questões de difusão e timing, à época do lançamento da capa da Wire que anunciava a vinda da «New Weird America», Matt Valentine e todo o seu trabalho não apanhou a boleia de visibilidade (sempre relativa) que projectos como os Charalambides, Six Organs Of Admittance, Sunburned Hand Of The Man ou No-Neck Blues Band encabeçaram como algumas das mais relevantes entidades artisticamente manifestantes no dialecto espiritual primitivo norte-americano. Matt Valentine, MV ou os Tower Recordings (nome, heterónimo e banda, respectivamente) não tiveram nenhum lançamento de maior circulação, ou particularmente exaltado pela crítica, e Valentine ficou só mais um nome em listas de coisas a ouvir para muito boa gente, interessada em conhecer.
Nada mais imerecido. Matt Valentine é um «free spirit» e um pensador sem limites, autêntica versão contemporânea, mais íntima, de todos os cidadãos livres e transcendentalmente americanos, sejam eles Walt Whitman, Jack Kerouac, Charley Patton ou Albert Ayler. Matt Valentine é um mágico, e isto é para se dizer sem simbolismos ou metáforas. Não há gravação sua disponível que não largue rastos de poeira lunar, a tal de que Buda, Platão e Wordsworth falavam e deixavam entrever, que só os seres realmente voadores possuem.
Iniciou actividades enquanto parte dos míticos Tower Recordings, corriam os meados dos anos 90, um «ensemble» que girava à volta de três pessoas: o próprio Valentine, P.G. Six e Helen Rush. Manipulações de cassete andavam de mãos dadas com gravações de folk reinventada com «tape hiss» de quatro-pistas, colagem com canção estelar. Helen Rush era o amor, P.G. Six a ordem, Valentine o sonho. Tower Recordings, do passado e presente, possui elenco de músicos que se alargou a artistas como Samara Lubelski, ao fantástico percussionista Tim Barnes, a Barry Weisblat, até, numa encarnação mais recente, Margarida Garcia, contrabaixista lisboeta agora residente em Nova Iorque, colaboradora regular de músicos locais como Sei Miguel ou Manuel Mota. Se se quiser encontrar referências para o som dos Tower Recordings pode-se remontar até ao Sun Ra de «Heliocentric Worlds» ou «Strange Strings», a «Jack Orion» de Bert Jansch, a Jandek num dia de sol, aos Creedence Clearwater Revival no espaço sideral, o trabalho de Angus MacLise ou a poesia e acção de Ira Cohen.
Dissoluto o trio fundador dos Tower Recordings (apesar de Valentine ainda utilizar esse nome, o ensemble sobrevive com P.G. Six e Helen Rush fora), Matt Valentine mudou-se para o estado do Vermont. Nos últimos anos tem-se centrado no seu fantástico selo de CD-R’s, a Child Of The Microtones, em que cada edição é limitada a 99 exemplares, enquanto edita aqui e ali discos de maior visibilidade. Tem obra editada como MV & EE (formato em que se apresenta na Zé dos Bois, com Erika Elder, sua companheira e exemplar instrumentista), The MV & EE Medicine Show ou só em nome próprio. Duas das suas colaborações mais regulares têm sido com o notável baterista de free Chris Corsano, bem como com o maior «yodeller freeform» de todo o universo do independente norte-americano, a instituição que é o mago Dredd Foole.
Enquanto guitarrista, poeta ou cantor, é único em misticismos e espacializações telúricas. O seu universo é de densidade eterna e brilho infinito, tudo aquilo em que toca ganha vida e vibração. Uma instituição norte-americana ambulante, obrigatória para quem quer sentir a obliteração divina de um sol na terra. Estreia nacional.Discografia seleccionada:
The Tower Recordings – «Folkscene» (Communion, 2001)
Matt Valentine – «Space Chanteys» (Fringes, 2002)
The Tower Recordings – «The Futuristic Folk Of… Vols. 1 & 2» (Time-Lag, 2004)
The Tower Recordings – «The Galaxies Incredibly Sensuous Transmissions Field Of…» (Communion, 2004)
Matt Valentine – «Lunar Blues» EPs (Child Of The Microtones, 2004)Fish & Sheep
Fish & Sheep é um duo composto por Afonso Simões (responsável pelo bem amado projecto Phoebus) e Jorge Martins (dos barreirenses Frango), onde percussão e guitarra se juntam para improvisação total.
O tipo de improvisação que criam não é tanto a já institucionalizada nem a comunal. É um «free» que não é só rock nem é só jazz, que consegue traduzir um amor profundo por todas as músicas livres em expressão física
e espiritual completa, própria e distinta.
Traços marcantes do trabalho de Afonso Simões podem ser encontrados nas polirritmias africanizantes por via dos Art Ensemble of Chicago, Milford Graves ou da riqueza tímbrica do Elvis Jones dos tempos de Coltrane, nos Can e o «kraut» da hipnose «motorika», bem como das arritmias e contra-intuitivismos que buscam vozes tanto nos This Heat como na improvisação europeia mais fogosa.
Por outro lado, a guitarra de Jorge Martins é um turbilhão de som total, capaz de invocar o ruído fresco dos «brooklynitas» Sightings, o Sonny Sharrock de «Black Woman» e o Keiji Haino dos Fushitsusha mais explosivos, num raríssimo exemplo de verdadeira amplitude de expressão em guitarra.
A empatia entre os músicos consegue ser tremenda, sendo que os seus concertos têm arrasado públicos um pouco por todo o país. Instintos e criatividade à solta, em alguma da música mais viva e edificante que se
vai produzindo em Portugal.
Manuel Mota + Margarida Garcia
Manuel Mota é um celebrado improvisador de méritos reconhecidos transcontinentalmente, que tem vindo a desenvolver uma linguagem de guitarra eléctrica «fingerstyle» ao longo dos últimos. Incorporando intuitivismo e contra-intuitivismo, intersectados com um conhecimento íntimo da fisicalidade do instrumento e do corpo, a lírica de Manuel Mota tanto alinha constelações quanto encontra vozes nos momentos e pormenores mais humildes que as mais variadas situações musicais oferecem.
É proprietário da editora Headlights, tendo já tocado com luminários das seis cordas de aço como Tetuzi Akiyama, Annette Krebs ou Noël Akchoté.
Margarida Garcia tem vindo a trabalhar o seu discurso no «double bass» (contrabaixo eléctrico) de há alguns anos para cá. Com total fluidez, pragmatiza o tacto delicado e as expressões mais oblíquas de um instrumento a que parece eternamente abraçada. Resolvendo interrogações, criando espaços e não-espaços, através do uso do arco por dentro e por fora do «double bass», bem como usando-o em microfones de contacto nele colocados.
Actualmente residente em Nova Iorque, já actuou com músicos livres como Matt Valentine, Tim Barnes ou Fred Lonberg-Holm.
Ligação criativa que vem de há largos anos, o trabalho que Manuel Mota e Margarida Garcia têm vindo a realizar nas mais variadas formações pauta-se por uma empatia discursiva de dimensões tremendas. Essas formações incluíram numerosas actuações com músicos como Sei Miguel, Toral, Fala Mariam, Ernesto Rodrigues, César Burago, pL ou Alfredo Costa Monteiro. Ouvem-se para lá do hábito e da partilha estagnada, continuamente perfurando por instáveis espaços de ser até
sítios onde as coisas vibram em beatífica quietude pálida.Entrada: 7,5 €
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Sábado dia 4 Junho às 22h00
Poesia_Sessions
AMÉRICO RODRIGUES E CÉSAR PRATA
MARTA MORGADO
SARA GRAÇA
Continuando a difusão de arte transversal, a ZDB promove mais uma poesia_sessions, onde se pretende uma abordagem diversificada de diferentes formas de destaque da poesia….declamada, gritada ou sugerida, musical, visual, sonora ou gestual, uma vez por mês na Zé dos Bois.Américo Rodrigues e César Prata
Apresentação de “Aorta tocante”, o primeiro disco de música vegetal criado em Portugal.“Aorta tocante”, editado pela “Bosq-íman:os records,” é o novo disco do poeta, actor e músico Américo Rodrigues.
Para além da voz, A.R. utiliza, em todos os temas, um instrumento popular vegetal (pecíolo de aboboreira), cujo som inusual é uma “espantosa” descoberta musical.
Neste trabalho participam como convidados especiais: o índio wichi-mataco Nohién, o grupo Coco de Zambê de Tibau do Sul (Brasil), o músico e inventor de instrumentos brasileiro Antúlio Madureira, o grupo guardense Deity of Carnification e César Prata (responsável pela mistura e masterização).
A orientação gráfica é de Jorge dos Reis e a fotografia da capa é da autoria é de Susann Becker.“Nos temas incluídos neste meu último trabalho discográfico, uso a minha voz, electrónica e um instrumento vegetal chamado popularmente “trombone de aboboreira”, que é, simplesmente, um pecíolo de aboboreira. Esse “trombone” é um brinquedo efémero, cuja curta vida provoca um desafio estimulante aos seus utilizadores. Começa-se por cortar esses tubos de uma aboboreira, de forma que preservem uma membrana que, com o sopro, vibra de forma inigualável. Cada tubo tem, pois, a sua voz. Às vozes dos tubos juntei a minha própria voz, as minhas próprias vozes.
Os tubos/pecíolos internamente viscosos são parecidos com as artérias que atravessam o nosso corpo, levando sangue, outros fluidos e vozes. Dessa associação entre os tubos vegetais e os tubos do nosso corpo (alguns deles, levam o som da fala) é que nasceu a proposta “Aorta tocante”. Ao que faço agora chamo-lhe poesia sonora e música vegetal. Para construir estes temas, estudei também as tradições xamanísticas de diversas partes do mundo. O meu trabalho vocal inspira-se nessas práticas. No projecto referido, uso palavras na minha língua natal (português) e vozes do mundo, numa espécie de comunicação cósmica. O pecíolo da aboboreira é fonte de som, usado como instrumento de sopro mas também como utensílio de percussão, num ritmo que induz a procura do êxtase. Usei mais de cem tubos em “Aorta tocante”, criando assim um grande órgão de tubos. Utilizei também o som da fricção de uns nos outros e o som da sua própria destruição”.
Marta Morgado
Primeira apresentação na ZDB de alguns dos seus poemas originais
Grande poeta Surda da nova geração, reconhecida a nível nacional pelas suas criações em Língua Gestual Portuguesa, de forte riqueza visual, impossíveis de traduzir para palavras.
Sara Graça
Depois de nos ter envolvido com Ruy Cinatti, Rui Knopfli e Ruy Belo, para esta poesia_sessions a actriz Sara Graça propõe-nos poemas de Alexandre O’Neill.Entrada: 6 €
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Quarta-feira dia 8 Junho às 23h00
Avant_Jazz_Sessions
RODRIGO AMADO
KEN FILIANO
LOU GRASSI
Rodrigo Amado
Líder da formação Lisbon Improvisation Players, com a qual gravou dois cd’s para a editora Clean Feed, Rodrigo Amado é um dos músicos mais activos na cena do Jazz de vanguarda nacional. Tocou e gravou com músicos como Steve Swell, Lisle Elis, Paal Nilssen-Love, Kent Kessler, Steve Adams, Paul Dunmall, Dennis Gonzalez, Joe Giardullo, Alex Cline, Bobby Bradford, Vinny Golia, Dominic Duval, Mark Whitecage, Peter Epstein, Carlos Zíngaro, Greg Moore, Phill Niblock, Sei Miguel, Rafael Toral, Nuno Rebelo, Manuel Mota, Ulrich Mitzlaff, entre outros.Ken Filiano
Considerado pela critica como “um músico de primeira linha”, Ken Filiano tocou e toca intensivamente nos Estados Unidos, Canadá , Europa e América do Sul, nos mais prestigiados festivais, e tem participações ao lado de nomes como Warne Marsh, Vinny Golia, Barre Phillips, Richard Grossman, Alex Cline, Nels Cline, Joelle Leandre, Bill Perkins, John Carter, Bobby Bradford, Roswell Rudd, Ted Dunbar, Jimmy Cleveland, Don Preston, Joe LaBarbera e o grupo Rova Saxophone Quartet.
Filiano grava habitualmente para as etiquetas CIMP, Cadence, Clean Feed ou Nine Winds, e é precisamente nesta última que gravou recentemente o seu primeiro disco solo, “Subvenire”, referenciado com 4 estrelas no prestigiado site All Music Guide.
Lou Grassi
Conhecido internacionalmente pelo seu trabalho em ambas as áreas do jazz, tradicional e de vanguarda, Lou Grassi desenvolveu uma actividade intensa que atravessa todo o espectro do Jazz, do Ragtime à improvisação livre. Dos anos 70 à actualidade, Lou trabalhou, entre outros, com Borah Bergman, Rob Brown, Roy Campbell, Eddy Davis, Charles Gayle, Vinny Golia, Burton Greene, Gunter Hampel, Johnny Hartman, Phillip Johnston, Chris Jonas, Sheila Jordan, William Parker, Roswell Rudd, Paul Smoker, Steve Swell, Mark Whitecage, e muitos outros. Gravou dezenas de discos e é unanimemente considerado como um dos grandes mestres do “drumming” moderno.Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 9 Junho às 23h00
Zdbeatnik_sessions
TORA TORA BIG BANDMiguel Gonçalves (Brasil), 1º trompete
Johannes Krieger (Alemanha), 2º trompete/composição/arranjo
Zé Maria (Portugal), sax alto/ sax tenor
Guto Lucena (Brazil), sax tenor/ sax barítono
Lars Arens (Alemanha), 1º Trombone/composição/arranjo
Peter Wetherill (EUA), 2º Trombone
Claus Nymark (Dinamarca), 3º Trombone
David Rodrigues (Portugal), Bateria
Francesco Valente (Itália), Baixo
Filipe Raposo (Portugal), Teclado
Hugo Menezes (Portugal), Percussão
André Pacheco “Junior” (Portugal), PercussãoOs Tora Tora Big Band são constituídos por 12 elementos de 6 nacionalidades diferentes.
Através dum repertório de originais que cruza o Jazz, World Music (com particular acento nos ritmos Latinos e Africanos), a sua aposta é renovar o velho conceito das antigas big bands que tocavam música para dançar, apresentado desta vez com elementos e tendências sonoras bem recentes como o Afro, Latin, Funk, Arabic, Trance, Reggae e Drum’n Bass.
Ao vivo são já conhecidos pelas injecções de calor sonoro e pela boa disposição proporcionada.Entrada: 7,5 €
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Sexta-feira dia 10 Junho às 23h00
Portuguese_Folk_Sessions
COMPLICADO
OLD JERUSALEM
Complicado
Após ter andado a viajar com os projectos Old Jerusalem e Neon Road, Miguel Gomes (também dos Mindelo) editou em 2005 o seu primeiro registo a solo, «Haunted», enquanto Complicado.
O álbum é uma amálgama de uma série de momentos, fragmentos, ideias e quase-canções, gravadas com Rodrigo Cardoso (o Sr. Bor Land)num 2º andar da baixa portuense. O site da editora fala de “dois ou três acordes e nenhum refrão”, e é praticamente disso que se trata.
Podemos encontrar eterealismos de guitarra a lembrar o trabalho de Mick Turner a solo e com os Dirty Three, blues acústicos de desbunda, canções de borda da cama às tantas da manhã gravadas em cassete ou outras um pouco mais ortodoxas aqui e ali.
Complicado apresenta-se pela primeira vez na ZDB.Old Jerusalem
Projecto de Francisco Silva, Old Jerusalem regressou este ano às edições (mais uma vez pela Bor Land) com «Twice The Humbling Sun», dois anos após o celebrado «April», estando a receber críticas extremamente positivas na imprensa nacional.
Se o debate de exclusivismos da língua portuguesa em formatos de canção anglo-saxónicos ameaça persistir, é relevante sublinhar o exemplo dado por Francisco Silva. Sem qualquer demérito à pátria e aos «seus» artistas, parece necessário compreender que a partir de determinadas gerações mais depressa se ouve Cohen ou Dylan que Zeca ou Zé Mário (ou, no caso de Francisco Silva, arrisca-se mesmo que mais depressa se ouve Fahey que Paredes), mas principalmente é importante saber diferenciar quem o faz reconhecendo o impulso, com propriedade e segurança, de centenas de dramáticos assaltos à mais básica gramática e ao mais rudimentar vocabulário da língua inglesa (factor lúdico), ou – pior ainda – ensonados cantares detonados por tique e facilitismo (factor sono, lúdico por tabela). Francisco Silva é dos (muito) poucos que encarrilha com autoridade na primeira variante.
«Twice The Humbling Sun», recolha emocional laboriosamente cuidada sob o ponto de vista composicional, é um disco de registo e intimidade distintas, como raras vezes se faz nestes moldes em Portugal, e um sólido disco de canções sem olhar a pontos geográficos. Ouvem-se Kozelek e os Red House Painters a assombrar uma guitarra etérea, um conhecimento profundo da discografia do que alguma da melhor canção americana da última década ofereceu – de Smog a Will Oldham -, detectando-se traços modernizantes de hibridização de electrónicas discretas da escola dos Hood e dos Notwist. A riqueza harmónica das composições denota ciência, reservada à minoria que sabe encontrar o ameno, onde a timidez consegue brotar com rasgo.
Do que de melhor se fez e faz na canção portuguesa, em inglês, de
regresso à ZDB.Discografia
Old & Alla (Ed. Autor 2001)
April (Bor Land 2003)
Twice the Humbling Sun (Bor Land 2005)
VA Cais do Rock 2002 (Low Fly 2002)
VA Your Imagination (Bor Land 2002)
VA Looking For Stars (Bor Land 2003)
VA 007 (Bor Land 2003)
VA Acuarela Songs 3 (Acuarela 2004)Entrada: 5 €
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Sábado dia 11 Junho
improvisa_sessions
Na Sala Verde às 22h00
ERNESTO RODRIGUES + GUILHERME RODRIGUES + ANDREW DRURYErnesto Rodrigues – viola
Guilherme Rodrigues – violoncelo
Andrew Drury – percussãoEste trio explora os conceitos da improvisação acústica. Pequenos ruídos e texturas são criados por Ernesto Rodrigues na viola e Guilherme Rodrigues no violoncelo e acompanhados por Andrew Drury na percussão, produzindo uma contínua busca de pequenos detalhes e significados. O som rompe do silêncio para nele voltar a mergulhar…
Tiersen_on_acid _sessions
No Aquário às 23h00
A HAWK AND A HACKSAW
NORA KEYESA Hawk and A Hacksaw
Não será a primeira e a última vez que a imagem é utilizada, mas é adequada demais para a não lembrarmos – A Hawk And A Hacksaw, ou como Yann Tiersen ficaria se comesse uns cogumelos mágicos numa bucólica tarde de Verão.
Membro de uma das mais originais bandas da vida final do indie rock, os Neutral Milk Hotel. Ouvindo «In The Aeroplane Over The Sea» da sua antiga banda, é curioso encontrar o quão bem Barnes se encaixava nesse monumental disco, pois a dose de loucura, com bases muito bem assentes numa forte aceitação do ridículo e do humor e urgência que nela residem, temperada por uma queda refinada pelo lúdico, percorrem toda a sua obra, desse álbum até aos dias de hoje.
Depois de se focar no seu projecto de percussão extrema – Bablicon – durante alguns anos, o projecto A Hawk And A Hacksaw apareceu primeiro pela mão da Cloud Recordings, selo focado na edição de alguns projectos do extinto colectivo da Elephant 6, um dos mais interessantes focos criativos da década de 90 no universo da música independente dos Estados Unidos, de onde saíram não só os Neutral Milk Hotel, como a pop psicadélica imaculada dos Olivia Tremor Control, o sol em canção de 3 minutos dos Apples In Stereo ou a pop clássica dos Minders.
O ano passado viu a estreia homónima de Barnes enquanto A Hawk And A Hacksaw ser reeditada pela britânica Leaf (casa de Colleen, Asa-Chang & Junray, Susumu Yokota, entre outros, num catálogo impecavelmente coerente e sólido).
«A Hawk And A Hacksaw» era um conjunto verdadeiramente alucinado de boas disposições criativas. Xilofones corriam como animais de quinta em fuga (é, aliás, o som de um galo que abre o disco), ébrios cantares de tascos tornavam-se epifanias com metais à mistura, enquanto tachos e panelas eram reconvertidos a instrumentos ideais de percussão. Jeremy Barnes, uma autêntica orquestra de um homem só (ao bom velho estilo do esquecido Lonesome Organist, editado pela Thrill Jockey), pragmatizava os seus delírios tão absurdistas quanto melódicos, tão hilariantes quanto melancólicos num discurso solista verdadeiramente acelerado e conseguido. De influências, falava-se de Pierre Schaeffer, Spike Jones e das músicas tradicionais ciganas da Europa de Leste.
No final da sua estadia em Inglaterra gravou um disco com membros dos fantásticos Volcano The Bear enquanto Guignol e chegou a voltar ao seu papel de baterista como parte integrante dos britânicos Broadcast.
Desde então, Barnes, que deu continuidade ao seu nomadismo, mudou-se de França para Praga e de Praga para o New Mexico norte-americano. A sua subversão de «folkismos» pancontinentais continua a trilhar novas aglutinações culturais, numa música que de tão fisicamente intensa, sublinha a necessidade de ser presenciada ao vivo para ajudar a completar o quadro rico que pode ser escutado nos seus registos. A Leaf/Flur acaba de editar «Darkness At Noon», álbum que vem apresentar na sua primeira passagem por Portugal.Nora Keyes
Crescendo numa casa assombrada na mais doente de todas as cidades do sonho e do pesadelo, Los Angeles, Nora Keyes cedo contactou com o mundo do fantástico da cidade que é engolida por Hollywood.
Como um velha tocadora de um empoeirado Wurlitzer Jukebox num cinema de início de século passado americano, o órgão de igreja portátil (é verdade) que Nora Keyes traz consigo range com o tempo e os fantasmas de assombro technicolor. «Songs To Cry By For The Golden Age Of Nothing», o seu primeiro álbum a solo, abraça o «vaudeville» onírico de elaborados palcos
e desolada plateia de L.A.. Keyes parece envolta num misto de iconografia:. de Rita Hayworth a fumar; a Yma Sumac a explodir escalas e partir vidros com a voz; até ao momento último do gótico urbano americano, o homicídio do mito citadino que se tornou Black Dahlia.
É, aliás, no tema de um filme que sairá proximamente sobre essa figura (Black Dahlia) que iremos poder ouvir a voz de Nora Keyes no grande ecrã, pois David J (Bauhaus, Love & Rockets) convidou-a para lhe dar voz à banda
sonora que realizou para o filme.
Em entrevistas podemos vê-la a falar de pessoas-dedo, espectros ou músicos e «performers» de rua particularmente excêntricos e invulgares. Sem cair em poses e teatralismos dúbios, é por pertencer a esse burlesco dos «derelicts» e dos lunáticos que Nora Keyes soa tão convincente e carismática. Antes da maquilhagem e do vestido, são as canções tristes que
realmente contam.Entrada: 7,5 €
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Quinta-feira dia 16 Junho às 23h00
Atum_ Luso_jazz_sessions
CORAÇÕES DE ATUM
Mais do que firmado no panorama sonoro universal, o Dr. Lello Minsk, conhecido também por candidato Vieira, vem deliciar-nos com grandes temas do jazz português. Carregando bastante menos na linguagem dura, do que aquilo a que nos habituou com outros projectos, o carismático Doutor Lello Minsk que adaptando a tradição latino-americana com a colaboração do maestro Shegundo Galarza, recuperando algumas das nossas melodias de sempre: «Triste e Cru», que era cantado por Ribeirinho em «O Grande Elias»; ou o «Deixa Lá Falar», do filme «O Tarzan do 5º Esquerdo». Além disso, chega mesmo a contribuir com alguns futuros clássicos para esta “panóplia de canções dignas dos mais fumarentos cabarés”, como o «Corações de Atum» que deu título ao disco, ou o mais levemente sórdido «O Atendedor»….
Uma soirée para dançar e reviver nostalgias com os – Corações de Atum.Entrada: 7,5 €
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Sexta-feira dia 17 Junho às 23h00
baile_funk_carioca_sessions
TETINEA verdadeira miscigenação estética, em oposição às tentativas frustradas de sobrepor (sem misturar), advém sempre de um esforço, consciente ou não, de abertura onde originalidade e exploração pertencem. Se nos anos 90 da música independente se acentuou, a pontos quase terminais, uma desaprovação de praticamente tudo o que saía do «mainstream» por queixas de gratuitidade, falta de originalidade e valentes quocientes de xaropada, quem (re)aprendeu a olhar para lá de estratificações sócio-intelectuais em música sem esse grave preconceito de certeza que anda muito mais bem disposto desde então.
As festas do baile funk existem no Brasil há largos anos. Contudo, o momento em que se internacionalizou verdadeiramente ocorreu em 2003, quando um dos seus expoentes máximos, DJ Marlboro, fez algumas datas na Europa e nos Estados Unidos. O «buzz», em nichos localizados, nasceu. Um dos criativos que nele viu vida, criatividade e liberdade, o DJ norte-americano Diplo, foi dos primeiros «de fora» a poder entrar, pela mão de Marlboro, nas grandes festas de favela onde o baile funk brasileiro nasceu.
O baile funk, como nos vem empacotado transcontinentalmente (chegam-nos de há um ano para cá transmissões filtradas; a suspeição não chega para travar o entusiasmo mas não deixa de existir por isso), é principal e marcadamente influenciado pelo «miami bass» dos 80s, e pelo electro (tanto funk quanto hip hop quanto pop). Pense-se em Afrika Bambaataa, Salt & Pepa, Eurythmics e 2 Live Crew metidos num caldeirão e bem misturados. A febre já se alastra por aí.
Olha-se para quem vai marcando o ano e vemos a fantástica M.I.A. (com muito do seu trabalho produzido por Diplo) em capa de tudo quanto é revista. Vemos, sem grandes problemas de classe ou pose, milhares de pessoas nos Estados Unidos rendidas em massa ao dancehall, seja o de Sizzla, Beenie Man ou Sean Paul, criando polémicas por letras homofóbicas suportadas por batidas de se fazer perder a razão de tão boas que conseguem ser. Vemos Lil’ Jon, um dos grandes cruzadores das novas músicas de dança urbana que surgiram na última década, a trazer o reggaeton porto-riquenho à América do Norte. Mas acima de tudo assiste-se a uma mistura sem preconceitos, verdadeiramente livre quando no seu melhor, de tudo o que faz a cintura (e restantes partes do corpo) mexer de forma diferente.Os Tetine, brasileiros que viveram o funk carioca, residem em Londres desde 2000. Tal como M.I.A. têm uma ligação de há vários anos não só com a música mas com as artes plásticas, tendo realizado na última meia década vários trabalhos em vídeo. Têm uma componente performativa muito forte, abordando de formas explícitas e positivistas o sexo explícito ou a parafernália transformista.
Possuem álbuns editados enquanto Tetine, caso de «Men In Uniform», álbum assumida e descaradamente de «synthpop» e «electro» gravado em 2003; um projecto de baile funk também afectado por essas correntes dos anos 80, mais do que pela secura do miami bass, utilizando o nome Bonde do Tigrão. São das figuras de proa desta primeira leva de nomes do funk carioca que nos chega através do Atlântico, mesmo que tenham andado por perto de Heathrow em tempos recentes.
A dupla Tetine, constituída por Bruno Verner e Eliete Mejorado, tem estado particularmente activa em novas plataformas no último ano. Realiza um programa de rádio na excelente Resonance FM londrina; escolheu temas de baile funk para uma das antologias até ver mais emblemáticas deste género, «Slum Dunk Presents Funk Carioca»; recentemente, numa edição Soul Jazz, organizou a colectânea «The Sexual Life Of The Savages», que reúne faixas do movimento underground pós-punk brasileiro, de inícios de 80.Apresentam-se na ZDB para um «live act» que será sucedido de um set de «DJing». A imprensa e os mestres da festa começam a não os largar. São os primeiros dias em que o funk carioca passa, em carne e osso, por Portugal. É para celebrar.
Entrada: 7,5 €
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Sábado dia 18 Junho às 23h00
Avant_Garde_Jazz_Sessions
FLOROS FLORIDIS + MARCO FRANCO
CLASSE DE IMPROVISAÇÃO
Floros Floridis + Marco Franco
Encontro de Floros Floridis, figura maior do jazz e da improvisação mediterrânicas e o português Marco Franco. O primeiro, celebrado soprador de saxofone, clarinete e flauta; o segundo, espasmódico baterista e livre percussionista.
Floros Floridis
Floros Floridis nasceu em Tessalónica, Grécia, dividindo actualmente o seu tempo entre essa cidade e Berlim.
Gravou o primeiro álbum de jazz moderno grego em 1979 com Sakis Papadimitriou, o duplo LP «Improvising at Barakos». Desde
então tem dado concertos e tocado em festivais na Grécia, Europa e nos Estados Unidos, com um vasto número de músicos europeus e norte-americanos, onde se incluem Andrew Cyrille, Peter Kowald, Conny Bauer, Evan Parker, Peter Brötzman, Günter Sömmer, Carlos Zíngaro, Barry Guy, Fred Van Hove e Nicky Skopelitis, entre outros, tendo participado, no ano de 1987, na Euro-American Orchestra de Cecil Taylor em Berlim.
Como líder e co-líder já colaborou com Peter Kowald, Paul Lytton, Paul Lovens, Phil Wachsman, Hans Schneider, Louis Moholo, Vincent Chancey, Ivo Papazov bem como com músicos gregos como Michalis Siganidis, Kostas Vomvolos, Dimitris Polizoidis, Yannis Mourtzopoulos, Ilias Papadopoulos, Savina Giannatou, Christos Nikolopoulos e Babis Papadopoulos, resultando no lançamento de mais de vinte CD. Nos últimos dez anos e de uma forma regular, os seus grupos fixos gregos (Jazz Quartet, Ethnic Sextet) têm como músicos Nektarios Karatzis (double bass), Nikos Psofogiorgos (bateria) e Vagelis Tsotridis (guitarra eléctrica).
Floridis é membro do grupo grego «Himerinoi Kolimvities» (Nadadores de Inverno) desde 1986. Ao longo dos anos tem tomado parte em várias produções de álbuns de artistas tanto gregos como estrangeiros. Fundou o Festival of Jazz and Improvised Music do município de Tessalónica em 1984, tendo sido director artístico e co-coordenador em sete das nove edições do mesmo. Em Março de 1997 foi o director artístico e coordenador dos 9 Days of Jazz para a organização de Tessalónica 1997, Capital da Cultura.
Tem composto e seleccionado música para filme, teatro e dança. Em 1997 escolheu a música para a peça «Splendid’s» de Jean Genet, bem como para «Chomata» de George Veltsos, ambas encenadas por Roula Pateraki. Compõs também a música para o filme «Anna’s Summer», realizado por Jeanine Meerapfel.
De 1995 a 1997 foi produtor para a rádio nacional. De 1997 a 1999 colaborou com a editora Lyra enquanto produtor, incluindo trabalho de produção para a Black Sea Orchestra e para a Florina Brass Band II. Desde 2001 recuperou a sua editora J.N.D. Re-Records, e em 2001 leccionou cursos em improvisação na Universidade
Aristotélica de Tessalónica.
Marco Franco
Marco Franco (bateria, sax alto e barítono) começou a tocar bateria em várias bandas de hardcore no início dos anos 80. Mais tarde os seus interesses movimentaram-se para a nova música e o jazz, começando a tocar saxofone.
Toca música improvisada regularmente com Nuno Rebelo eoutros músicos, que já incluíram Shelley Hirsch, Kato Hideki, Carlos
Bica, Gregg Moore, Manuel Mota, Gunther Müller, Carlos Zíngaro, Carlos Bechegas, Damo Suzuki ou Peter Kowald. Compõe também música para dança e teatro.
Classe de Improvisação – ConstruSons
Fundada em 2004 pelo professor e compositor Pedro M. Rocha na Academia de Amadores de Música, a Classe de Improvisação pretende ser um instrumento de experimentação e discussão musical.Este grupo de improvisação tem como objectivos fomentar a especulação sonora e/ou musical; o tratamento tímbrico não convencional de instrumentos, por sua vez convencionais; o tratamento de texturas musicais; o alargamento da noção de forma em música e o questionamento filosófico/estético em torno da criação musical.
Têm sido abordados vários conceitos actuais da música contemporânea como a aleatoriedade, o minimalismo, a música atemática, a música concreta, a interacção humana como objecto musical (acção e reacção individual na improvisação em grupo), a música programática, e por fim , o controlo dos vários graus de liberdade numa expressão improvisada.
Na sessão da Classe de Improvisação na ZDB, várias técnicas de composição tentam ser aplicadas em real time, tendo como objectivo criar uma música improvisada plena de discursividade e coerência.Pedro M. Rocha (Maestro)
Gonçalo Gato (guitarra clássica)
Rita Canhão (saxofone contralto)
Guilherme Canhão (guitarra clássica e fita)
João Carrilho (guitarra clássica)
João Lains (guitarra portuguesa)Entrada: 6 €
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Quinta-feira dia 23 Junho às 23h00
Avanti_Brasil_Sessions
HURTMOLD
M. TAKARA
Na edição recente da revista britânica The Wire foi possível ler uma introdução ao que se vai passando por debaixo do radar europeu e norte-americano, proveniente de parte da comunidade de música independente em S. Paulo. Tanto no que concerne a visibilidade como a produtividade, a recente filiação de Rob Mazurek (Chicago Underground, Isotope 217) na cidade veio dinamizar uma série de criativos cujo nome não ressoava além fronteiras.
Aquando da sua primeira vinda ao nosso continente, pela mão do Sónar (que no ano passado realizou uma edição do festival precisamente no Brasil), apresentam-se em algumas das suas primeiras datas fora de portas na ZDB, dois dos mais relevantes porta-estandartes dos projectos paulistas contemporâneos. Oportunidade única para se assistir ao que se vai passando nas rotas marginais da música brasileira independente.
Hurtmold
Principal bandeira da música independente actual de S. Paulo, os Hurtmold criam um interessante e trabalhado híbrido de músicas de arritmias soltas do independente americano do último par de décadas.
Se por um lado assumem o impacto fortíssimo que os Tortoise tiveram sobre a sua música, detectam-se também traços do punk rock mais inteligentemente politizado e musicalmente realizado. Podem-se escutar avarias percussivas descendentes dos Fugazi, bem como a escola de D. Boon, Mike Watt e os Minutemen (aliás, a faixa «Música Política Para Maradona Cantar» parece uma alusão ao «Political Song For Michael Jackson To Sing» de «Double Nickels On The Dime» do defunto trio punk rock da SST). Falam do interesse em outro tipo de influências, menos focalizadas na «experimentália» de putos do punk rock. Sun Ra, Black Sabbath e a melódica de Augustus Pablo são também destacados como vozes que impõem respeito e colocam influência. Canções de exploração pela voz da rua, politizantes sem apêgo ao óbvio, edificadas sob a égide das escolas da Dischord, SST e Thrill Jockey. Fãs de Tortoise, Ganger ou Fugazi não se devem acanhar.
M. Takara (vibrafone, trompete, bateria, metalofone, programação)
Mauricio Takara tem trabalhado na produção musical independente e mainstream, e, mesmo com 20 e poucos anos, Takara já emprestou o seu talento ao caldeirão de ritmos do colectivo Instituto (Fórum Social Mundial na Índia, Sonar
Sound em Barcelona e em São Paulo, bem como no Favela Chic em Paris ) ao hip hop de Xis, ao sotaque pernambucano de Otto (com quem já se apresentou em festivais como Womex em Espanha, Roskilde na Dinamarca e Optimus Hype,em Portugal, entre outros) e às experimentações dos hurtmold (com quem já gravou quatro elogiados discos em selos independentes).
Em 2003 lançou o seu primeiro disco a solo intitulado «m.takara» (Submarine Records), composto, produzido e tocado por ele próprio. Apesar de privilegiar a percussão, põe a seu serviço guitarra, vibrafone, trompete, teclados e computador. O resultado é inusitado, mostrando marcas de electrónica experimental, dub, jazz, música brasileira e pós-rock.
Em 2004 fez algumas apresentações pelo Brasil, entre elas no Festival Eletronika, em Belo Horizonte, e com o Chicago Underground Duo no Sesc Pompéia, São Paulo.
Em Novembro deste ano participou na instalação «Dragaaudio» (curadoria de Carlos Issa), para a edição brasileira do Resfest, e em Dezembro numa sessão de improvisação livre com os músicos Rob Mazurek, Miguel Barella, Tomas
Rohrer, Josh Abrams e Célio Barros.
Em Fevereiro passado apresentou-se no Club Transmediale em Berlim e em
vários eventos que tomaram lugar na Polónia.Discografia: m.takara – cd (submarine records) 2003
Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 24 Junho às 23h00
free_noise_sessions
WOLF EYESO papel que os Wolf Eyes terão a longo prazo na história é obviamente especulativo. Contudo, será difícil encontrar um punhado de artistas ou bandas nesta primeira década de milénio que possam vir a ter o mesmo peso deste trio. Pela simples razão de terem lançado um álbum pela Sub Pop (o fabuloso «Burned Mind», de 2004) depois de anos a editar edições limitadas em cassetes, CD-R’s, picture discs e LPs (com uns CDs pelo meio), a difusão alcançada por este lançamento, pode fazer muita cabeça insuspeita abrir completamente ao meio.
Não será um momento como o que a banda de Kurt Cobain viveu, ou mesmo os próprios Mudhoney quando «Superfuzz Big Muff» saiu (aliás, as vendas até agora são relativamente modestas), mas pelo simples facto de centenas ou milhares pelo mundo fora poderem reconsiderar questões tão básicas como a validade do ruído ou os limites do que é propriamente música parece salutar. Não deixa de ser curioso ver a Rolling Stone ou a Spin fazerem curto-circuito a tentar alinhar esta banda. Enquanto isso a Wire põe-os na capa de uma edição e Anthony Braxton, algures na Suécia num festival cujo cartaz partilhava com a banda, comprava todo o «merchandise» Wolf Eyes de que a banca dispunha.
Os Wolf Eyes são Aaron Dilloway, John Olson e Nate Young, três carismáticos cidadãos do estado de Michigan. Filhos da cena de Ann Arbor dos Couch de Marlon Magas (uma continuação raramente contada do no-wave) de meados dos anos 90 ou Universal Indians, bem como do festival de aberrações, ridículo e sujidade das várias encarnações dos Caroliner, os Wolf Eyes conseguiram edificar um universo único e riquíssimo, tanto em meios empregues quanto em resultados.
Os seus sons saem de uma parafernália de instrumentos sem par. Ao vivo, podemos vê-los com um tubo de aspiração de saliva «micado», um gongo amplificado, um maço medieval, uma guitarra com aspecto extra-terrestre e toda uma panóplia de caixas de ruído e pedais «homemade», em pilhas impressionantes. O som é puramente analógico, bafiento, assombrado; a música é pesadelos, filmes de terror levados a sério, sangue, medo, pavor. Ou como se o terror tivesse uma batida que desse para «headbanging».
Predecessores – até certo ponto, dada a idiossincrasia do projecto – podem ser encontrados nas ruminações mais oblíquas dos Butthole Surfers, nos britânicos Whitehouse, no ruído mitra do histórico Dylan Nyoukis (em nome próprio mas particularmente na sua obra enquanto Prick Decay), ou ainda nos míticos Smegma, anciões misteriosos do som puro, causadores de estranhezas multiplicas de há três décadas para cá (um par de colaborações entre o projecto e os Wolf Eyes saíram nos últimos dois anos).
O efeito surte há já algum tempo. Desde o início dos Wolf Eyes que a banda adensou ao impacto de um noise complexo, rico, real, vivo e humano. Veja-se o grau mítico a que o nova-iorquino No Fun Fest chegou (a banda foi cabeça de cartaz no primeiro ano), ou a quantidade de editoras de ruído analógico que surgiram em tempos recentes. Ao lado dos Hair Police, Double Leopards, Prurient, Sightings, Dead Machines ou To Live And Shave In L.A., são os pais e os porta-estandartes de um exército de miúdos disseminados pelos Estados Unidos, a encontrarem o seu próprio ruído e a compreenderem que som é música + infinito, enquanto tentam encontrar expressões físicas sónicas para a confusão que os corrói.Estreia absoluta em Portugal de uma das bandas mais revolucionárias do presente milénio.
Entrada: 7,5 €
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Sábado dia 25 Junho às 23h00
Rock’n’Roll_Sessions
BANANAS
THE ACT-UPS
Bananas
Banda de rock and roll de Pamplona, os Bananas mostram-se como uma das mais vibrantes propostas vindas da concorrida cena espanhola da música que Presley levou de Deus ao Diabo e vice-versa, ad eternum.
Deles, conhecemos o 7″ «Si Tu Eres El Diablo Yo No Soy Quien Cuenta Esta Historia». Rock repleto do «thump thump» que vive no garage primordial e na bateria dos Gun Club, encontrando riffs de «power chords» que lembram os Damned mais pop ou mesmo os Undertones, com guitarras que ficam num meio caminho onde o sol fica bem disposto e uma guitarra surf à Dick Dale
incapacitado dança (no bom sentido). Quarteto pivoteado pelas vozes (na língua mãe) de Agueda e Germán Banana, trazem o suor, a festa e o movimento de anca.The Act-Ups
The Act-Ups formaram-se no final de 2001, depois da dissolução dos Sullens, banda garage Barreirense, que correu o circuito underground nacional e mantém ainda alguma estima nesse mesmo circuito. Se os Sullens viviam num filme de Sérgio Leone, com banda sonora de Hank Williams a caminho do inferno, The Act-Ups são James Brown em conflito sangrento com os Mc5, um cadillac com o depósito cheio de soul, abastecido por Iggy Pop, numa estação de serviço perto de Detroit.
Nick Nicotine voz, guitarra e piano
Johnny Intense fuzz voz e theremin
N. Very guitarra
Tony Fetiche baixo
Hellso bateriaEntrada: 5 €
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Quinta-feira dia 30 Junho às 23h00
A_A_Sessions
A A TIGRE
TRESESTRELLAS
A A tigre
A Tigre é o projecto principal de Rafa del Pozo, membro dos Sandra (presentes na primeira Noite às Novas da Galeria Zé dos Bois), e La Turista. Apresenta-se a solo, acompanhado por um banjo, com as suas canções, vagamente reminiscentes do trabalho mais despido e esparso de Bill Calahan nos primeiros discos de Smog, Will Oldham, Lisa Suckdog ou Jason Molina (Songs:Ohia).
Cantigas de memória, repletas de noções déjà vu, perdidas de sentido e de história, são algumas das vibrações que poderão vir a encontrar no concerto de A A Tigre, na ZDB.
Tresestrellas
Recente aquisição da A A Records, selo filiado nas cidades de Gijõn e Hamburgo, o trio espanhol TRESESTRELLAS é constituído por Maria Valle, Javier e Carlos Aquilué.
Tendo dado o seu primeiro concerto já este ano, o que lhes conhecemos aponta para uma canção positivamente perdida, vagabunda, plena de pontas soltas simbióticas e forte aura. Lembram, da melhor forma, alguns momentos mais deslocados das canções dos neozelandeses The Renderers, Chris Knox e The Bats. Vozes empáticas, bateria, guitarra e mais alguns aerofones, numa proposta do que de mais desalinhado se vai fazendo no independente vizinho.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 1 Julho às 23h00
Suicide_sessions
MARTIN REV (SUICIDE)
Quem já viu e ouviu a declaração em vídeo de Thurston Moore (Sonic Youth) sobre o primeiro concerto dos Suicide que viu, jamais se irá esquecer. Ao longo de vários minutos de contextualizações e «storytelling», Moore descreve uma actuação da banda em Nova Iorque no final dos anos 70, na mesma noite em que uns muito jovens Cramps davam um dos seus primeiros concertos. Ouve-se que Alan Vega, num espaço que tinha várias mesas e cadeiras perto do palco, viu toda essa mobília ser utilizada como escudo de defesa aos copos, garrafas e demais objectos pouco simpáticos de se atirar, que arremessava continuamente num desvario profundamente louco e perigoso em direcção ao público.
Infelizmente poucos foram os que puderam estar lá para ver. As vindas da banda à Europa na sua fase mais fisicamente perigosa só se encontram em documentos, e o que se consegue entrever emana a verdadeira vertigem.
Se Vega era, aparentemente, o «wild one», quem criou todo o som que levava os Suicide do sangue à estratosfera foi sempre Martin Rev, armado com o seu sintetizador e «drum machine». O som de Rev marcou gerações desde então, com admiradores e seguidores como Spacemen 3, The Jesus & Mary Chain, Sonic Youth ou parte significativa de projectos inseridos no revivalismo pós-punk que agora esmorece. A dada altura até Bruce Springsteen os mencionou como importante referência.
Apesar da carreira dos Suicide ter baixado de tom à medida que a década de oitenta foi passando, o regresso deles há sensivelmente um par de anos reacendeu novos motins, em estruturas similares e moldes diferentes. O trabalho de Martin Rev, contudo, não parou com os Suicide. De uma forma regular, ainda que espaçada, tem lançado álbuns a solo desde há mais de vinte anos. As bases do que tornaram os Suicide persistem intocadas sem qualquer tipo de estagnação estética.
Acima de tudo, o confronto, a estranheza, a violência e a «performance» enquanto desagradabilidade (o «giving the streets back to the streets» de que sempre falou) construtiva. O ruído, os sonhos pop (sempre fortíssimos em toda a música de Rev), os óculos e aqueles teclados a soarem eternamente deslocados e sempre diferentes, independentemente da época, para sempre inadaptados.
Uma figura incontornável da música extrema dos últimos trinta anos, Martin Rev estreia-se, por via da ZDBmuzique, em actuações a solo neste país.Entrada: 10 €
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Sábado dia 2 Julho às 23h00
Pós_rock_sessions
ÖLGA
BYPASS
Ölga
Projecto nacional no seu quarto ano de actividade, os Ölga acabam de lançar «What Is», pela Bor Land em colaboração com a loja/serviço de «mailorder» portuense CDGO.
Neste novo registo, os Ölga cruzam excursões ambientais na escola menos espacial dos Mogwai e dos June of 44.
Suportada normalmente por ritmos pós-rockeiros, a banda viaja por entre várias gravações de campo de vozes humanas, arranjos de cordas, teclados orgânicos, baixo e guitarra.
Para quem não nunca ouviu o grupo, recomenda-se particularmente a sua actuação aos eternos curiosos do pós-rock lânguido e admiradores da editora nortenha.Bypass
Formação da Grande Lisboa que foi figura regular em palcos nacionais há pouco mais de um par de anos, volta agora a uma actividade de actuações mais regular depois de um hiato no que a apresentações públicas diz respeito.
Do que lhes conhecemos ficam as recordações dos seus espectáculos de há alguns anos e do seu EP de estreia, que tanto caminhava pela matriz base do pós-rock numa reformulação do som dos Talk Talk de «Spirit of Eden» e Laughing Stock», por «Tweez» e «Spiderland» dos Slint, da explosão de uns Mogwai mais «aggro» e da canção flutuante dos Bark Psychosis. A ver por onde andam hoje em dia.Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 7 Julho às 23h00
Minimal_electronic_sessions
PORTABLE
OUTERSITES V3
PRODUCERS
Portable
O projecto de Alan Abrahams, é a mais recente edição da ~scape, com o álbum «Version».
Oriundo da Cidade do Cabo e de um dos seus mais pobres e complicados bairros, as bases do seu som podem ser encontradas em alguns pontos seminais da música que o rodeou a crescer há um par de décadas atrás.
A soul dos anos 80, o highlife africano, o hip hop da época, bem como os primeiros discos do house de Chicago são influências tão claras quanto absorvidas e reformuladas para um discurso próprio. Se os clicks & cuts orgânicos na linha de Sutekh lá estão, o registo de Portable destaca-se da maior parte das electrónicas ocidentais contemporâneas baseadas na fundação do house. Uma dimensão futurista (que se via tanto em Afrika Bambaataa e no seu tripado reverb cortante, como em todas as escolas teológicas nascentes dos Nubianos) de África, plena de polirritmias e síncopas tanto encontradas em Fela como no mais digital dancehall contemporâneo, subvertendo o 4/4 clássico da house, mesmo que descendendo dele.
Se se torce o nariz a esta descrição imaginando sobreposições «world music»-escas de mau gosto emocional e facilitismo etno, nada poderia estar mais longe do resultado. O trabalho de Portable é uma hibridização extremamente conseguida e fluida de todas estas correntes simbióticas da música africana urbana e moderna das duas últimas décadas, onde gravações de campo encaixam em polirritmia afro electrónica e calimbas parecem respirar dentro de filtros no software de um laptop.
Residente em Londres desde 1997, Abrahams editou para selos como a Context e a Background Records antes de fundar a sua própria etiqueta, a Süd Electronic. Já partilhou palcos com gente como Juan Atkins, Farben ou Andy Vaz, tendo recentemente tocado nas celebrações dos 20 anos da revista britânica The Wire.
Outersites v3
O bom filho à casa torna. Apesar do projecto Outersites, criado pelo músico e sound designer Rui Gato, ter sido desenvolvido no âmbito da bienal Experimenta Design 2001, foi numa numa série de quatro actuações apresentadas ao vivo na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto, Lisboa em julho de 2001 que se deu a conhecer. Em março de 2002, este conceito conhecia nova evolução, com a versão 2 (Outersites v2), estando Rui Gato já acompanhado pelo videasta Tiago Martins. O projecto embarca então numa série de actuações, começando em Torres Vedras, e percorrendo algumas cidades do país, como Lisboa, Évora e Porto, e vários locais como o bar Op Art, os fórum das FNAC Colombo e Chiado, o espaço Maus Hábitos e o Alcântara Mar, entre outros. Esta mini-digressão serviu também para apresentar a compilação ‘Volun’, editada pelo selo lisboeta mono¨cromatica onde o projecto Outersites contribui com um tema.
Esta nova versão sonora de Outersites, rebaptizada para v3, passou já este ano pelo Teatro-Cine (Torres Vedras), onde foi apresentada e gravada para posterior edição em DVD, Festival BRG2005 (Braga) e pelo palco da Red Bull Music Academy, no Sónar 2005 (Barcelona), colhendo fortes aplausos por entre a manifestação de curiosidade à volta das construções sonoras apresentadas.
O regresso à ZDB, volvidos quatro anos, será concerteza um momento especial para o projecto.Producers
Nome sob o qual Miguel Sá e Fernando Fadigas se apresentam como músicos, produtores e representantes da sua própria editora, Variz.
A sua música é fruto do uso bem sucedido de ‘soft-ware’ e ‘hard-ware’, cruzando a linguagem dos ‘blips’ e ‘beats’ com digressões por superfície texturada, dissecações rítmicas e experiências de cisão molecular.
Editaram o álbum “7/10” (Fundação Calouste Gulbenkian, 2001) e a compilação “Metrómetro” (CD, Variz, 2003) criticada na WIRE magazine – 2003 Rewind (Janeiro 2004) por Chris Sharp. Participaram ainda na compilação “Air Portugal” (CD, 00351, 2001) e “Sonic Scope 04: The Portable Edition” (CD, Grain of Sound/Fonoteca Municipal de Lisboa, 2004).Entrada: 7.5 €
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Sexta dia 8 de Julho às 23h00
Electro_Revival_Sessions
POST HIT
Os Post Hit, grupo formado em Novembro de 2002 por Paulo Scavullo (voz), Rui Pires (teclas) e Sebastião Teixeira (guitarra), apresentam o seu primeiro álbum homónimo, produzido por Armando Teixeira (Bulllet, Balla).
Post Hit foi gravado no Estúdio Bullletproof entre Maio e Setembro de 2004.
Praticantes de um som pop de matriz electrónica, no universo musical dos Post Hit é patente a referência a certos modelos “retro” e algum fascínio por sonoridades que se iniciam em finais dos anos 70.
Partindo de exemplos como o de Giorgio Moroder e culminando no auge dos anos 80, com referências aos Human League, Duran Duran Depeche Mode ou até mesmo os Soft Cell, os Post Hit apresentam-se com um “andamento” dançável, provocador, capaz de criar atmosferas e efeitos que podem ser leves e evocadores, clínicos ou cínicos.
Poderiam ser uma revolução mas decerto serão uma revelação.Com vários concertos realizados ao longo de 2004, incluindo passagem por alguns festivais os Post Hit estão aí para colar, dançar e suar.
Entrada: 5 €
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Sábado dia 9 de Julho às 23h00
Experimental_sessions
FRANZISKA SCHROEDER + PEDRO REBELO + CARLOZ ZÍNGARO + ULRICH MITZLAFF
O.BLAAT
RANDOM GUITAR TRIOO quarteto com Franziska Schröder, Pedro Rebelo, Carlos Zíngaro e Ulrich Mitzlaff apresenta um espectáculo que vagueia entre as margens da música acústica e electrónica e o território interactivo entre o som e a imagem.
Nesta performance audiovisual são incluídas peças de composição conceptual bem como de improvisação livre.
O intercâmbio expressivo das diferentes personalidades influencia o acontecimento de um modo aberto e fora do habitual.
A articulação dos extremos opostos intensifica as afirmações e ambivalências das interferências sonoras e visuais.
O evento promete mostrar grande variedade na expressão de factos musicais que encontram um contrapeso em reflexões das imagens instantâneas, captadas no momento da actuação e processadas em tempo real.
Cada um dos membros deste quarteto contribui nos contextos construídos das linguagens artísticas com o seu background presente e culturalmente específico, mostrando a plasticidade do contraste na recepção e interpretação.Franziska Schroeder – saxofone
Franziska Schröder, de Berlim, é uma saxofonista que se tem dedicado a interpretar e desenvolver a música do séc XXI, especialmente em trabalhos que incorporam electrónica e multimédia.
Principalmente desde 1999, tem-se concentrado na música improvisada com electrónica.
Toca regularmente em U.K e noutros países da Europa, a solo ou em formação particularmente com o seu duo l a u t (com Pedro Rebelo)
Actualmente reside em Belfast, Irlanda Norte onde trabalha como compositora da música contemporânea conceptual e da improvisação.Pedro Rebelo – electrónica & imagem
Pedro Rebelo, de Viseu, é compositor artista digital que trabalha em música electroacústica, meios digitais e instalação.
Tem estado envolvido em inúmeros projectos em colaboração com artistas das artes visuais e criado um extenso corpo de trabalho explorando as relações entre a arquitectura e a música, criando performances interactivas e instalações.
Actualmente reside também em Belfast onde está integrado como docente para composição e processamento electrónico de som e imagem no SARC (Sonic Arts Research Center) da Queens University of Belfast. É também o director artístico do festival de música contemporânea “Sonorities”, que decorre todos os anos em Belfast.Carlos Zíngaro – violino & electrónica
Para além do seu conhecido trabalho enquanto compositor para teatro, cinema e dança (trabalho pelo qual Zíngaro já recebeu vários prémios) Carlos Zíngaro é um dos mais conhecidos artistas de improvisação que tem tocado desde 1975 em inúmeros concertos por tudo o mundo com os mais inovadores artistas como: Barre Phillips, Daunik Lazro, Derek Bailey, Joëlle Léandre, Jon Rose, Kent Carter, Ned Rothenberg, Peter Kowald, Roger Turner, Rüdiger Carl, Dominique Regef, Evan Parker, Günter Müller, Andres Bosshard, Jean-marc Montera, and Paul Lovens.Ulrich Mitzlaff – violoncelo
Ulrich Mitzlaff, de Tübingen, reside em Lisboa onde desenvolve a sua actividade como violoncelista, compositor e “sound artist” em projectos pluridisciplinares, que reúnem artistas de várias áreas como: Nuno Rebelo, Vera Mantero, Carlos Zingaro, Fried Dähn, Rodrigo Amado, Américo Rodrigues, Vitor Joaquim, Miguel Leiria Pereira, Franziska Schröder, Pedro Rebelo, José Tavares, Marco Franco, Carlos Bechegas, Gregg Moore, Liba Villavecchia, Paulo Curado, Joachim Glasstetter, Jürgen Grözinger, Carlos Santos, Emídio Buchinho, Mark Whitecage, Stefano de Bonis, Josep-Maria Balanyà, Alfredo Costa Monteiro.o.blaat
o.blaat aka Keiko Uenishi, Japonesa a viver em New York, artista sonora, compositora e elemento do colectivo Share, é conhecida por criar diversos ambientes sonoros interactivos através meios diferentes do comum, como “beat piece”(onde utiliza o jogo de Ping-Pong), “audio coat check”, “coupier” e “fillip”.
Depois de actuar alguns anos com um sistema sonoro electrónico, artesanal único, o “tapboard. effector. soundsystem”, Uenishi tem explorado a mobilidade do laptop e o seu modo de estar menos evasivo.
Presença assídua em galerias, museus e festivais, por Nova York, e pela Europa (Viena, Berlim, Roterdão, Bordéus, Paris, Amesterdão e Barcelona entre outras), e ainda pela Austrália, o.blaat, vem pela segunda vez com o seu laptop, à ZDB.RANDOM GUITAR TRIO
Formado em 2003, o RANDOM GUITAR TRIO, constituído por António Chaparreiro, Emídio Buchinho e Filipe Bonito, encontra no domínio da improvisação livre e da composição directa, um lugar fértil à reformulação das diversas sensibilidades, experiências e memórias dos seus elementos. Recorrendo à manipulação acústica, electroacústica e electrónica da guitarra,
criam desse modo uma música orgânica e corpuscular, rarefeita de tonalidade e de tempo musical.António Chaparreiro – Guitarra
Improvisador e compositor autodidacta tem desenvolvido uma actividade musical multifacetada, privilegiando a improvisação livre – onde a guitarra eléctrica é entendida como um gerador de sons, ruídos e texturas sonoras – e trabalhos de longa duração centrados essencialmente na ideia de escuta. Membro do Lumpen trio e do Ramdom Guitar Trio (conjuntamente com Emídio Buchinho e Filipe Bonito), tem também colaborado com alguns dos nomes mais importantes desta área musical em Portugal.Emídio Buchinho – Guitarra
Aprendeu a tocar guitarra e estudou música como autodidacta. Frequentou os cursos de Guitarra Clássica e Formação Musical na Academia de Música e Belas-Artes Luísa Todi (Setúbal) e no Conservatório Municipal de Château-Thierry (França), tendo sido também membro dos corais das duas cidades.
Fez o Curso de Cinema e Engenharia-Técnica de Som na Escola Superior de Teatro e Cinema (Lisboa).
Participou em vários workshops sobre Estruturas, Formas e Novas Tecnologias na Música Improvisada, orientados por Carlos Zíngaro, Peter Kowald e Richard Teitelbaum.
Colaborou com Carlos Zíngaro, Günter Müller, Otomo Yoshihide, Pedro Leal,Rudiger Carl, Carlos Santos, Matt Wand, Mike Beck, Nuno Rebelo, Vitor Joaquim, Manuel Mota, Rodrigo Amado, Marco Franco, Adriana Sá, Ludger Lamers, Isabelle Schad, Margarida Bettencourt e João Natividade, em concertos e performances multimédia.
Trabalha regularmente em composição, execução e produção de música, design e engenharia de som, efeitos especiais e bandas sonoras para filme, documentários, instalações, teatro, dança, performance, video-arte, multimédia e publicidade televisiva, em Portugal, Espanha, França, Alemanha e Reino Unido.Filipe Bonito – Guitarra
Arquitecto de profissão, participou em vários grupos de “liceu” como guitarrista e baixista (Português Suave; Cordão Umbilical, AoCalhas).
Em 1995 iniciou-se na aprendizagem de saxofone e ingressou na Orquestra Juvenil de Santarém.
Fez música para uma peça de teatro do grupo GTIST e participou nos registos discográficos ”Protótipo” (1999) e “A ordem dos contrários” (2004). Gravou diversas peças e performances musicais para vídeo e exposições.
Colaborou com grupo de Spoken Word – Baixa-Shiatsu.Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 14 de Julho às 23h00
Chanson_Portuguese_sessions
QUINTETO TATI
J.P. Simões – Voz e Saxofone
Sérgio Costa – Teclados , Guitarra e Flauta
Rui Alves – Bateria e Pecussão
Zé Miguel – Guitarra
Pedro Pinto – Contrabaixo
Daniel Tapadinhas – TrompeteDe volta à casa em que se estreou em actuações ao vivo, o Quinteto Tati volta com histórias de estrada e das continuações narrativas do que se foi passando nos últimos meses em bares e camas várias do Bairro Alto e arredores.
JP Simões tornou-se, deste os tempos dos Belle Chase Hotel até ao presente, no mais interessante e carismático poeta-cantor da boémia lusitana. Continua a encontrar conforto em músicas bastardas das noites decadentes de décadas passadas; no burlesco, no «vaudeville», nas «torch songs», no can-can, Waits e Gainsbourg. E na bossa (por mão de Caetano e Jobim) que nunca o abandona.
Conta histórias de copos e cortesias ao sexo oposto, amigos e amanheceres, com eventos menores como amor e cama nos entretantos. Encontra a noite, o sonho, a sátira e a mais mordaz e subversiva crítica social que se pode ouvir em Portugal na canção.
Segundo J.P. Simões: “Como ainda não está provado que existe vida para além da porra, mais vale continuar humildemente a procurar respostas, a procurar dentro das canções uma espécie de elo perdido com uma vaga ideia de harmonia: semear o quinto império no quintal. E assim se justifica que um dia destes apareça por aí um disco novo com canções escritas por mim e pelo Sergio.”Entrada: 10 €
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Sexta-feira dia 15 de Julho às 23h00
Avant_Jazz_sessions
CARLOS BECHEGAS
JOÃO COURINHA
ULRICH MITZLAFF
RUI FAUSTINOOPEN # solos # duos & trios…
Carlos Bechegas – flautas
João Courinha – saxes
Ulrich Mitzlaff – violoncelo
Rui Faustino – bateria e percussãoOPEN # Solos # duos & trios… formatos em sequência aberta, expondo narrativas num pluralismo de vozes e alternância de contrastes: Tensões e densidades manifestadas em linhas distorcidas, em ³ clusters ³de harmónicos e texturas politimbricas. Intimismos, soltam ínfimas partículas de vibração acústica. Linhas de assimetrias oitavadas sugerem polifonias.
Desconstruindo a melodia interagem parasitas do som tipificado.
Comunicação que se expõe tão real como efémera no seu indeterminismo – a improvisação no discurso aberto e intuitivo. Importa prodigalizar o risco partilhado.
Compositores intérpretes afirmam-se removendo estereótipos; digitando provocações, arriscam e despertam-nos numa altercação inesperada. O discurso vivo, liberta-se mutante; brota expirado, rasgado, directo, inquiridor. Amotina e agitada como deve o artista.
O quarteto com Carlos Bechegas (flauta), José Courinha (saxofone), Rui Faustino (bateria e percussão) e Ulrich Mitzlaff (violoncelo) vai apresentar um espectáculo que vagueia entre as margens da música acústica e electrónica e uma performance interactiva entre o som e a imagem.Carlos Bechegas
Carlos Bechegas com actividade pública à mais de 25 anos, apresenta na flauta um percurso singular, como destacam as criticas aos seus CDs. Confrontando tradicionais estéreotipos, é internacionalmente referenciado como inovador ao introduzir novas técnicas, enriquecendo o idioma do seu instrumento ao propor novos materiais numa linguagem de execução virtuosa e heterodoxa.
Participa nesta forma indeterminada com base num diversificada e ecléctica aprendizagem, sendo um dos raros improvisadores com uma sólida formação clássica. Com oito discos editados, partilha com um grupo restrito, o privilégio de gravar e tocar com algumas das mais importantes e destacadas figuras da cena mundial da improvisação como Derek Bailey, Alex V Schlippenbach, Joelle Leandre; Barry Guy, Peter Kowald; William Parker; Phil Minton; Han Bennink; Hamid Drake; Fred Van Hove, sendo actualmente considerado pelos seus pares, uma referência na flauta.
Helma Schleif, Directora Artística do mais antigo e mítico festival de música improvisada da Europa TMM de Berlim onde já tocou a solo, refere :”His music distinguishes him as one of the most important instrumentalists of contemporary as well as improvised music and has won him numerous listeners all around the world.”
A revista e site americano “Cadence Magazine” diz do seu trabalho na flauta “Forget any preconception that the flute is a pastoral instrument. It¹s difficult to conceive of a more thorough documentation of the flute¹s range of sound Bechegas appears to relish the opportunity to carve new pathways in sonic formation.”Entrada: 5 €
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Sábado 16 Julho às 23h
Poesia_sessions
CYBERSONG“CyberSong”
Pela Companhia de Música Teatral e por Artshare
Com: Paulo Maria Rodrigues (voz e jaqueta interactiva) e Luis Miguel Girão (electrónica em tempo real)
Compositores: Paulo Maria Rodrigues, Luis Miguel Girão e Rolf Gehlhaar.CyberSong
“CyberLieder” é uma composição resultante da colaboração de Paulo Maria Rodrigues, Luis Miguel Girão e Rolf Gehlhaar. É uma estrutura para improvisação que se desenvolve em torno da descoberta pessoal do potencial existente na interacção entre o performer e o computador. A performance baseia-se na transformação da tradicional jaqueta do cantor clássico num interface de controle em comunicação com um computador. Ao manipulá-lo um cantor/actor processa em tempo real o seu discurso musical. Tendo como ponto de partida um conjunto de objectos sonoros e de acções teatrais (onde se inclui a reinterpretação de textos artísticos/científicos considerados relevantes), o cantor/actor desenvolve um diálogo com as suas memórias (quer instantâneas, quer de longo termo) explorando a gestualidade resultante da manipulação electrónica dos sons.Paulo Maria Rodrigues é Professor no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro. Fundou a Companhia de Música Teatral sendo responsável por criações como “O Gigante Adamastor”, “As Cidades e a Serra”, “Spidaranha”, “O Gato das Notas”, “Uma Prenda para Eugénio de Andrade”, “BébéBábá”, “Andakibébé”,“Bach2Cage” ou “MNF”. Estudou canto em Portugal e no Reino Unido (no Curso de Pós-Graduação em Ópera da Royal Academy of Music) e composição com C. Bochman, A. Salazar e Rolf Gehlhaar (Londres). Enquanto compositor concentra-se na criação multidisciplinar.
Luis Miguel Girão estudou arquitectura, música, artes visuais e produção e tecnologias da música. Participou em várias worshops e residências de flauta tranversal, composição, improvisação, e de performance e novas tecnologias. Colaborou com vários artístas em trabalhos como “Cyborg” (CellSpace, S. Francisco), “Around One” (Acarte, Lisboa), “A Máquina do Tempo” (Sentidos Grátis, Porto), “Renaissance 2001” (web). Foi assistente de comissariado do Atelier de Arte Electrónica da XI Bienal Internacional de Cerveira. Fundou a Artshare, uma empresa de investigação tecnológica aplicada às artes. Colabora com a Companhia de Música Teatral. Actualmente, concentra-se no desenvolvimento de sistemas audiovisuais interactivos.
Rolf Gehlhaar é músico, compositor e artísta digital. Foi assistente pessoal de Stockhausen e integrou o Stockhausen Ensemble. O seu trabalho foi apresentado em vários Festivais Internacionais de Música Comtemporânea. Leccionou nos cursos de verão de Darmstad e fez investigação em sistemas interactivos no IRCAM. Criou “Sound=Space”, um sistema musical interactivo aplicado em performance, intalações, dança e educação. Actualmente, é Professor no Curso de Pós-Graduação em Design e Digital Media da University of Conventry (U.K.)
Entrada: 6 €
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Quinta-feira dia 21 de Julho às 23h00
Noite_às_Novas_sessions
GOODBYE TOULOUSE
CAVEIRA
ONE MIGHT ADDQuarta edição da Noite às Novas, desta feita com o free rock dos CAVEIRA, as canções e ruminações dos Goodbye Toulouse, e a experimentação austera dos One Might Add.
Goodbye Toulouse
Projecto de Lisboa constituído por Tiago Sousa, Joca (Gordon’s Deal/We Shall Say Only The Leaves), Luís Nunes (Jesus, The Misunderstood) e Vitó (Gordon’s Deal), os Goodbye Toulouse estreiam-se por esta ocasião na ZDB.
Do trabalho que lhes conhecemos, presente nas três faixas (de um total de cinco) do EP «Urbe» editado pela netlabel nacional Merzbau que nos chegaram aos ouvidos, encontramos as duas primeiras faixas a remontar aos trabalhos «guitar-based» de terreno comum entre os Radiohead e os Mão Morta. Ao mesmo tempo, e em concordância estética, na terceira e
derradeira faixa desse registo, numa peça sem nome a rondar os dez minutos, os Goodbye Toulouse abandonam o formato canção e dedicam-se a poéticas ruminações instrumentais de secura citadina, vagamente reminiscentes dos primeiros Sonic Youth, com uma impressionante bateria livre de sangue e corte.CAVEIRA
Trio-entidade que une moradores do percurso Chiado-Bica-Telheiras, CAVEIRA tem desinquietado e entediado espectadores, avisados ou surpreendidos, pela Grande Lisboa e arredores desde o ano de 2003.
A formação é composta por Joaquim Albergaria (toca bateria, canta nos Vicious 5, era straight, agora bebe cerveja da garrafa), Rita Vozone (toca guitarra, faz pins, chateia-se) e Pedro Gomes (toca guitarra, escreve, chateia-se). Editaram recentemente o CD-R «África», álbum de free rock improvisado a apontar para o solo eterno (Hendrix em eclipse contínuo), riffs antológicos em constante desintegração e Keith Moon-ismos revistos à luz do brainstorm de Lisboa 2005. Influências discerníveis podem ser encontradas nos Blue Cheer de «Vincebus Eruptum», em «Black Woman» de Sonny Sharrock, RTX, Albert Ayler ou na circularidade do Herbie Hancock de «Sextant». Três vozes deslocadas em inexplicável simbiose rock.
One Might Add
Duo de Alberto Aruda e Ruben da Costa, membros da banda lisboeta We Shall Say Only The Leaves, os One Might Add fazem a sua primeira aparição ao vivo por esta ocasião, através de uma proposta de concerto apresentada através de uma peça de nove minutos e meio da sua autoria que nos fizeram chegar. Constituída por bateria (“com alguns gadgets”, dizem eles), registos pré-gravados em fita, live sampling e giradisquismo, utilizam várias fontes sonoras de gravações de campo e descargas de textura onírica, encontrando-se reminiscências das fractalizações milimétricas dos Radian e das planificações de tempo tridimensional do Markus Schmikler de Pluramon, ritmadas pela hipnose do kraut de Jaki Liebzeit.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 22 de Julho às 23h00
Lost_and_Safe_sessions
PAUL DE JONG
ZERN VS ANDRÉ GONÇALVES
Ao lado de Nick Zammuto, Paul DeJong criou já três discos do que se tornou um dos grandes emblemas da música caseira, no espectro do independente norte-americano, os Books.
O primeiro disco dos Books, «Thought For Food», surgiu um pouco do nada, pleno de gravações de campo misturadas com delicodoces e esparsos arranjos de – principalmente – guitarra acústica e violoncelo (o instrumento predilecto de DeJong). Um pouco como acontecia nos Gastr Del Sol de «Camoufleur», os Books tentavam encontrar curtos e sorridentes momentos de revelação numa sucessão de frases humanas e diálogos de terceiros anónimos, que, em conjunto, ganhavam inusitados significados e mensagens.
Acabado de sair, o novo «Lost And Safe» vê os Books caminharem por territórios mais ligados à canção que apenas deixavam entrever no primeiro registo, e que já utilizaram em maior quantidade no seu segundo álbum, «The Lemon Of Pink». Encontramos contornos nestas canções enraizados na lírica cancioneira do indie dos anos 90 norte-americano, com travos ligeiros a Modest Mouse, Death Cab For Cutie, ou mesmo nos mais recentes The Postal Service. O resultado final é altamente lúdico, curioso de uma forma quase pueril; uma hibridização entre o classicizante e o acaso institucionalizado dos conservatórios, com a canção moderna e a geração ultra-referencialista do iPod.
Violoncelista celebrado principalmente na sua Holanda natal, Paul DeJong vem à ZDB apresentar a sua visão das peças dos Books, num concerto a solo.
Zern (Ernesto Rodrigues)
Ernesto Rodrigues improvisador e compositor – violino, viola, electrónica. O seu principal interesse está relacionado com a música contemporânea (improvisada e/ou escrita), assim como em música gráfica e indeterminada (partituras cedidas pelo compositor alemão Gerhard Stäbler). A relação com os seus instrumentos é basicamente direccionada para aspectos de ordem “sónica” e textural.André Gonçalves
André Gonçalves (n. 1979, Lisboa) licenciado em Design Visual, cria com Diogo Valério a “undo™” (undo.teamworks) na qual opera como designer e programador web, inicia em 99 a sua actividade na área da improvisação e manipulação sonora tendo como instrumentos a guitarra e o computador. Em 2001 cria o projecto “ok.suitcase” no qual tem focado a sua maior atenção e desenvolvido os seus principais trabalhos sonoros e de programação max-msp. É com Nuno Moita e com “Stapletape” que pela primeira vez traz a público o seu trabalho sonoro e desde então tem integrado a formação nas apresentações ao vivo.
Em paralelo tem a seu cargo as programações, síntese e manipulação sonora no projecto “In Her Space” e a manipulação audio no colectivo “Anabela Duarte Digital Quartet”
Mantendo o conceito da improvisação e trabalhando sempre em tempo-real, trabalhou tambem em sonoplastia para teatro com a Inestética companhia teatral.
Em vídeo tem desenvolvido, em conjunto com Diogo Valério, trabalhos para a editora “Groovement” e “Lisbon City Records” assim como para os projectos “In Her Space” e “Anabela Duarte Digital Quartet”Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 23 de Julho
Electro_No_Wave_sessions
LER GEORGES LENINGRADPor motivos alheios à nossa vontade e que ultrapassam as nossas responsabilidades, o concerto agendado para o próximo sábado, dia 23 de Julho, foi cancelado.
A ZDBMUZIQUE lamenta qualquer transtorno causado por este imprevisto.Programação Encontro Lisboa ZDBNEGÓCIO:
Quarta 17 de Agosto às 19h00 na ZDB
Palestra:
Bojana Kunst (Ljubljana) “Colaboração, possibilidade e residência / Collaboration, possibility and inhabitancy” (em inglês)Quinta 18 de Agosto às 21h30 no NEGÓCIO
Filme e apresentação:
Luciana Fina “O Encontro” (60′)Sexta 19 de Agosto às 21h30 no NEGÓCIO
Apresentações informais:
Filipa Francisco “Leitura de listas…” +
Claudia Müller “Dois do seis de setenta”+ info sobre: exposições de artes visuais, performance no body never mind, 002, Stand-up tragedy, residências e outras actividades do Encontro Lisboa organizado por alkantara, em…
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Sexta-Feira dia 12 de Agosto às 23h30
FadoWesternVadío_feat_electronic_sessions
DEAD COMBO
AUTOMAT.PISS.TOOL
Dead Combo
Aclamado de forma praticamente unânime como um dos melhores álbuns de música portuguesa do ano passado, «Vol. 1» rapidamente firmou os créditos dos Dead Combo como uma das mais interessantes bandas nacionais focados na canção (neste caso instrumental) a aparecer nos últimos tempos. Projecto que surgiu do convite de Henrique Amaro para a compilação de homenagem a Carlos Paredes, produziu, para além de várias aparições ao vivo, música para o espectáculo «Sudwestern» e para a longa-metragem «Guitarra com Gente Dentro», ambos trabalhos dirigidos por Edgar Pêra. Os Dead Combo encontram-se neste momento a preparar o seu segundo álbum precisamente na Zé dos Bois, local onde têm uma residência artística e onde escolheram ensaiar.
Para todos os que ainda não os ouviram, imaginem o Marc Ribot que aprendeu a poesia do klezmer judaico por via de Zorn, os redemoinhos como Sergio Leone os viu na planície americana, planaltos alentejanos a perder de vista, os candeeiros da Rua de São Paulo a desoras, o sal e o sujo do Tejo em guitarras lacrimais. Tudo isto tornado música, por duas almas com uma melancolia que só quem já viu o sol lisboeta nascer vezes demais consegue expressar. Música de tiros vendados em noites desamparadas, cuja apresentação escrita deixamos, em seguida, às palavras do próprio duo Tó Trips e Pedro Gonçalves:
“Os Dead Combo tocam Lisboa, a cidade do campo, das chaminés e das cúpulas brancas, cenários de um passado perdido, o fado, o Western vadio, tudo junto num voodoo de emoções, clichés e histórias entre o Tejo, as estradas do sul, os amantes desencontrados, anjos abandonados nas encruzilhadas do destino, vozes de mulheres, flores com cores trocadas, santos, câmaras ardentes, guitarras despidas, cuspidas e deitadas à rua, contrabaixos em fogo, cartolas, galinhas à solta e coisas que rolam na rua”.automat.piss.tool.
Automat.piss.tool é o projecto de Knut Guribye, um músico norueguês proveniente da electrónica do underground local. Descrevendo o seu som como «Porridge n’bass» (papas e baixo), Guribye utiliza theremin, sampler, sintetizadores e vários efeitos para criar estas suas variações de electrónica extrema. Por vezes acompanhado com outros instrumentistas em palco (bateristas, teclistas), nesta passagem pela ZDB Automat.piss.tool irá ser regido a solo por Guribye.
A sua música é devedora do catálogo da Rephlex, de artistas como Aphex Twin, Squarepusher ou Venetian Snares, devendo agradar também aos aficionados da electrónica hardcore japonesa, por via da Tigerbeat 6.
Automat.piss.tool assume características dessas cenas, do breakcore e do drill’n’bass, temperando-as com uma qualidade lúdica bem-humorada, em sons secos e crus. Lançou recentemente um CD-R homónimo, em edição de autor.Entrada: 5 €
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Sexta-Feira dia 19 de Agosto às 23h30
Live_Mix_Filmzz_Luzo_Sul_sessions
3STRADAS
KOKTAIL OF LIVE MIXED FILMZZ by Edgar Pêra (PT)
3Stradas (jam popular)
Lima, Pablo e Miranda (O`queStrada) aviam guitarra portuguesa, voz e contrabacia, apanham de caminho 2Nuvolari, e mais alguns sinais luminosos.
Três músicos atrevem-se a partir do fado, do ská, do pop, do funáná a traçar o seu caminho e a sua sonoridade.
Os 3Stradas apresentam uma agradável desconstrução dos cânones habituais da música, reinventando a canção de uma forma contangiante.
KOKTAIL OF LIVE MIXED FILMZZ by Edgar Pêra
Continuando a colaboração regular pela qual são apresentados periodicamente filmes, work in progress, ante-ante estreias, filmes-instalantes e cine-concertos, desta feita a ZDB apresenta mais um cineymprovize video-session de Edgar Pêra com o CINE-ARKIVIST Tiago Antunes e na guitarra portuguesa João Lima.
Portugal rural, a familia portuguesa as remisturas de que somos feitos, as raízes e os pós de perlimpimpim…
Enquanto o músiko vai dando as suas respostas os filmes serão projektados.
Filmes sobre aspectos da Portugalidade, usos, paisagens, costumes, cores e sons, sempre remisturados e reinventados…Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 15 Setembro às 23h00
Electro_Rock_Sessions
GOLD CHAINS & SUE CIE
Acabados de lançar o novo «When The World Used To Be Our Friend» pela Kill Rock Stars/Kitty-Yo, o duo de Gold Chains & Sue Cie tem sido apadrinhado por entidades como a Orthlorng Musork, Kim Cascone, Adult. ou a Tigerbeat6.
A sua música deve tanto à sensibilidade pop de vanguarda das produções de Timbaland para Missy Elliott, do positivismo na sua expressão mais pura e simples do house de Mr. Fingers, ou da performance e soul de gente como Gonzales, Jamie Lidell ou Peaches. As batidas chegam-nos secas, arquitectados com linhas de baixo sintetizadas de fazer arquear ancas e corpos com inventidade e espírito de festa edificante.Entrada: 7.5 €
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Sexta-feira dia 23 Setembro às 23h00
Avant_Jazz_Rock_Sessions
NEPTUNE
JESSICA RYLAN
PATRICK BRENNAN + PETER BASTIAAN
Neptune
Projecto liderado por Jason Sanfordque que remonta há mais de há dez anos para cá, os Neptune encontram a sua ética laboral no caminho curto entre a «arte pobre» e Harry Partch, construindo os seus instrumentos (bateria, guitarras, baixo) a partir de partes de bicicletas, lâminas circulares e dezenas de outras fontes de metal avulso.
A música resultante explora e sublinha, de forma desconstrutivista; as propriedades rítmicas, de rito controlado, dos instrumentos usados, em furiosas peças que ajudaram a gerar a continuação do espaço de simbiose entre o punk enquanto ética construtiva e o rock mais extremo e ruidoso. Paralelos podem ser encontrados com os Lightning Bolt, The Ex, USAISAMONSTER ou Sightings, com quem – sem excepção – já partilharam palcos por várias vezes.Jessica Rylan
Sediado em Boston, Massachussets, o trabalho de Jessica Rylan ocupa um espaço de raro grau de intimidade dentro da história dos exploradores do ruído.
Utilizando sintetizadores analógicos de estranhas e modestas formas, todos eles construídos por si, Rylan explora a natureza feminina em confronto delicado com as imperfeições físicas de origem do material por ela criado, fazendo a sua voz emergir por entre ruído e batidas espaçadas plenas de secura, sobriedade e minimalismo.
Depois de vários anos a fazer trabalho no campo da instalação, Rylan afirma-se cada vez mais como uma das mais interessantes e carismáticas figuras e performers da exploração extrema do som nos Estados Unidos, por onde tem dividido palcos com artistas de trato convergente, como John Wiese, Prurient ou Emil Beaulieau.Patrick Brennan+Peter Bastiaan
Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 24 Setembro às 23h00
Minimal_Electronic_Sessions
REIBAND
BOCA RATON
Os concertos dos projectos Freiband e Boca Raton surgem no seguimento da edição do seu álbum na série «Product», da Crónica, que visa reformular o cariz colaborativo do formato vinil do «split» ( edições em que um projecto ocupa o lado A, e outro o lado B) para um meio digital de esquema tripartido, em que o terceiro interveniente é o artista visual encarregue de tratar da capa e «layout» do álbum e da colaboração com o Festival Encontros de Musica Experimental (EME).Freiband
Um dos vários veículos criativos de Frans de Weerd, Freiband visa a desconstrução e distorção, conceptual e prática, da pop – tanto no que ao seu formato instrumental diz respeito, quanto às propriedades fonéticas do étimo pop em questão.
Inspirado nas gravações de Asmus Tietchens em «Daseinsverfehlung», em que o músico procedia a «tape scratching», de Weerd decidiu transpor esse conceito para o formato digital, executando aquilo a que chama «hard-disk scratching».
Trabalhando a partir de material gravado para um novo álbum dum outro projecto do qual é fundador, Beequeen, um registo constituído por guitarras, baixo e teclados, de Waard processou as fontes através de meios completamente electrónicos, até ao ponto das suas fontes sonoras se terem tornado irreconhecíveis. Chama-lhe «pop-music» porque diz ser música feita de «popping sounds», simultaneamente alimentada pelo seu interesse na cultura pop.
Freiband já realizou trabalho de remisturas projectos como Merzbow, Super Furry Animals, Mathieu/Ehlers ou TV Pow.Boca Raton
Projecto do cidadão holandês Martijn Tellinga, o seu alter-ego artístico Boca Raton encontra nas bases fundamentais da música concreta e sua exploração em meios digitais o cerne conceptual do seu trabalho.
Trabalhando a partir de sons concretos, Tellinga transmuta-os através de síntese electrónica e manipulação, produzindo arte sonora desprovida de narrativa e forma linear, mas imersa na exploração das propriedades físicas desses sons, em contínuas alterações que transcendem a sua natureza primária na procura das propriedades extrapolativas e abstractas que nesses fragmentos consegue encontrar. Utiliza elementos físicos básicos do som (textura, volume e duração no tempo), rearranjando os seus elementos tímbricos, ampliando ou sublinhando determinadas formas que os sons que redesenha produzem, respeitando a arquitectura, material e proveniência original dos mesmos.Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 29 Setembro às 23h00
Femininist_Electronic_Sessions
LARGE NUMBER
ANA DA SILVA
Large Number
A obra que os Add N To (X) deixaram para trás, a época em que surgiu da forma que surgiu, revela os dotes premonitórios do projecto, que soube sair a tempo da vaga electroclash que acabou por ajudar a criar. Desde cedo recebendo um nível de atenção muito considerável dado a agressividade da música que criavam, acabaram por ver algumas das estéticas fundamentais do seu trabalho gastas, desprovidas de carga artística e emocional pela sua banalização quase en masse.
O seu som parecia fundir o sangue dos Suicide e dos Cramps, o gosto pela electrónica analógica e experimentação dos Cabaret Voltaire, bem como a sensibilidade de uns Kraftwerk, ou mesmo dos Human League. O resultado final, particularmente bem conseguido nos álbuns «On The Wires Of Our Nerves» e «Avant Hard», abriu portas, ao lado de projectos seus contemporâneos como os Daft Punk, Atari Teenage Riot (ou, mais tarde, as Chicks On Speed) para o regresso das máquinas em canções disfarçadas, que se verificaria no início do milénio (e que teima em não acabar).
Após a dissolução dos Add N To (X) ao quinto disco, Ann viveu dois anos na comunidade motard Brother Speed. Regressa agora à música composta (depois de voltar também às compilações), vivendo agora em Windsor, com o seu novo projecto Large Number, que no ano passado editou «Spray On Sound». O disco prossegue o amor de Shenton por «vintage electronics», utilizando moogs (cujo inventor, Robert Moog, faleceu recentemente neste mês de Agosto), um Korg MS-20, theremine e várias outras peças de maquinaria electrónica old school.
A música é, na maioria dos casos, substancialmente menos violenta que a dos Add N To (X). A sua estrutura é bastante solta nas várias partes instrumentais que a constituem, lembrando a (não-)forma de algum pós-rock e electrónica de cariz mais lúdico dos anos 90. O gosto pela estranheza caricatural de Shenton está também muito presente. Encontramos canção cabaret electrónica, duetos de faux-country, alguma exótica planante/chanson intergaláctica (como os Pram, se tivessem ouvido a discografia inteira de Esquivel e isso se notasse) ou punk feito com Moogs em vez de guitarras.
Para o seu concerto da ZDB, Ann Shenton vem acompanhada por Mick Bund (ex-Primal Scream, Felt), depois de no ano passado ter vindo a Portugal para alguns DJ sets.Ana da Silva
Por mais que cada revolução, comunidade e «cena» – denominada a posteriori – seja relevante e tenha álbuns, concertos e momentos que marquem uma época e uma infinidade de pessoas, há sempre uma parcela significativa do que no momento foi celebrada que o tempo trata de menorizar e esquecer.
Sorte e mérito tiveram então as Raincoats, de quem a açoriana Ana da Silva fez parte, que Kurt Cobain tenha imposto à David Geffen Corporation que reeditasse todo o seu catálogo nessa «major», espalhando a sua palavra para a geração da primeira metade dos anos 90, que tanto aprendeu com a fantástica melomania e colecção de discos do líder dos Nirvana.
Datado tão somente pelas melhores razões – carisma e identidade em total sintonia com o tempo em que foram feitas, com notável sensibilidade, tacto e delicadeza -, o opus das Raincoats trata-se de um dos corpos de trabalho mais coesos e fascinantes de todo o pós-punk. De episódios corriqueiros tornados hinos desconjuntados de metafísica quotidiana do primeiro álbum homónimo, até à a articulação da mais profunda intimidade feminina em veludo angular de «Odyshape», passando por todos os outros registos, as Raincoats foram porventura a mais madura, livre e experimental «all girls band» do virar dos anos 70 para o início dos anos 80, partilhando rendas de casa e datas de concertos com This Heat, Slits, Swell Maps e todos os outros que circulavam pela Londres de Ladbroke Grove e Portobello Road da época, muito mais artístico e perigoso daquilo que é hoje.
Ana da Silva regressou aos discos, quase uma década depois do regresso das Raincoats com «Looking In The Shadows», após um projecto no meados dos anos 80 com Charles Hayward – (dos This Heat e dos estúdios Cold Storage), denominado Roseland, que não chegou a editar registos oficiais – com «The Lighthouse», saído o ano passado pela Chicks On Speed Records, admiradoras devotas e espalhadoras da mensagem do melhor pós-punk – à altura da saída do seu primeiro álbum, antes da repetição excessiva de uma receita e subsequentemente decadência – esquecido, com, lembremo-nos, The Normal, Malaria! ou Delta 5.
Gravado em casa, com o metodismo, dedicação e calma já notórias na identidade de da Silva nas Raincoats, «The Lighthouse» foi todo feito com um sequenciador, instrumentos digitais e um microfone. Tratam-se de canções orgânicas, com o trato emocionalmente puro e invulgar, simultaneamente alinhado e receptivo a irregularidades, que contribuíram para tornar as Raincoats numa banda tão relevante. Um álbum solitário, de ruminações internas, feito com a maior simplicidade de ideias e execução, apenas possível àqueles e àquelas que sabem destilar o necessário e escolhem a humildade, sem nunca encarrilar em falsas cruzadas por perfeccionismos estilizados tão centro-europeus quanto bacocos.
O facto de nunca se ter realmente afastado da música – convenha dizer-se que Ana da Silva mora a menos de um minuto da Rough Trade de Talbot Road londrina, portanto os discos e os amigos estão sempre ali à mão – está extremamente presente na música contemporânea de da Silva, aquela que vê as coisas com pacatez e curiosidade, entende depressa, absorve mais lentamente e chega à execução mais devagar não por lentidão mas por interesse no detalhe.
Um raro concerto de uma compatriota emigrante, dos pouquíssimos símbolos (sem qualquer tipo de mumificação à vista) lusos no panteão dos grandes da música independente.Entrada: 7.5 €
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Sexta-feira dia 30 Setembro às 23h00
Rock’n’Roll_Sessions
THE VICIOUS 5Numa das movimentações de mercado mais bem conseguidas da história discográfica nacional, a Loop Recordings decidiu lançar o primeiro disco de longa-duração dos Vicious 5. O hip-hop e o punk rock têm um forte passado em comum, bastando lembrar a evolução dos Beastie Boys cheios de imagens de Ian McKaye na cabeça a passarem do hardcore para os históricos do hip hop em que se tornaram, ou, mais no plano do rock (sem punk), os Run D.M.C. a ajudarem os Aerosmith a partir as fronteiras entre idiomas que o tempo, à época, tornara tão estética e racialmente separadas. E assim, em 2005, uma das melhores bandas de rock (já se pode dizer, não?) da história deste país passa para uma das editoras mais profissionais, abertas e carismáticas de Portugal.
Quem os viu incendiar palcos pelo país fora só pode esperar o melhor do novo álbum, «Up On The Walls», que está nas ruas a partir de 30 de Setembro. Estão lá menos JR Ewing (mas a escola contemporânea do novo hardcore está presente, sofrendo avanços por parte da banda), os momentos mais feéricos dos Fugazi (sem as partes chatas), os Who (daquelas cinco músicas que fizeram em que eram verdadeiramente grandes), a simplicidade enganosa dos momentos mais pesados dos Kinks (menos fuzz, mais overdrive), ou a palavra da revolução interior dos MC5.
Com os decibéis bem puxados para cima (como só podia ser), «Up On The Walls», que os Vicious 5 apresentam na Zé dos Bois, transpira tensão tornada baile urbano, canalizando as propriedades curativas do riff, que transfigura dor e angústia em ondas de energia eléctrica de dentes cerrados e berros sorridentes.Os Vicious 5 são banda para pôr milhares a saltar pelo mundo fora. Quem sabe onde vão parar? Estão todos convidados a aparecer para lhes desejar boa sorte (e começarem a dançar nos concertos dos rapazes também não ficava nada mal). Já sabem onde é a festa.
Entrada: 5 €
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Já aconteceu, esta semana Festival COSMOPOLIS na ZDB
4, 5, 6 e 7 Outubro
Terça_4 de Outubro às 22h00 na ZDB
MY CAT IS AN ALIEN
RAFAEL TORAL
KEITH FULLERTON WHITMAN**********************************************************
Quarta_5 de Outubro às 22h00 na ZDB
ICARUS
WE SHALL SAY ONLY THE LEAVES
OVAL*********************************************************
Quinta_6 de Outubro às 22h00 na ZDB
JANE
BLEVIN BLECHTUM
EVIL MOISTURE**********************************************************
Sexta_7 de Outubro às 22h00 na ZDB
CANDIE HANK
DURAN DURAN DURAN
CINÉ-MIX DJ ACT**********************************************************
Festival Cosmopolis |ZDB
Na sua sexta edição, o Festival Cosmopolis entregou à Galeria Zé dos Bois parte da sua programação. Este encargo curatorial proporcionou uma programação de concertos divididos, de uma forma quasi-temática, ao longo dessas quatro noites, sendo o carácter exploratório destas músicas e a sua natureza electrónica os seus principais pontos de convergência. As iniciativas no campo da imagem a tomar lugar na ZDB serão inteiramente constituídas por artistas residentes na capital francesa, escolhidos pelo corpo de programação do Cosmopolis.
O primeiro dia do Cosmopolis na ZDB irá pautar-se pela presença de três projectos que se focam no campo da experimentação, tendo todos eles um passado rico no trabalho sobre o drone. Assim, teremos o emblemático duo de música cósmica italiana My Cat Is An Alien, o portuguêsRafael Toral, e o norte-americano Keith Fullerton Whitman.
O segundo dia do festival, que a decorrer no dia 5, irá contar com projectos que encontram um ponto de união através de uma muito palpável sensibilidade e riqueza melódicas, inseridas em contextos desconstrutivistas de meios electrónicos e fontes tanto digitais quanto analógicas. Marcarão presença nesta noite Oval, o duo Icarus, bem como a banda/colectivo lisboeta We Shall Say Only The Leaves.
A programação de quinta-feira, dia 6, será preenchida por três projectos cujos trabalhos convergem num profundo distanciamento de cadências harmónicas, rítmicas e texturais comuns e usuais, encontrando empatias em estranhezas íntimas, resultados de tentativas extremamente conseguidas de escape a normalidades melódicas e percussivas. Ao palco irão subir os Jane, duo de Panda Bear (membro dos Animal Collective) e Scott Mou, bem como Blevin Blectum a solo (depois de alguns anos a repartir trabalho com Kevin Blectum nas Blectum From Blechdom)e o francês Evil Moisture.
O último dia serão apresentados artistas da área da electrónica, que possuem uma forte intersecção criativa com os campos da dança performativa. Nesta noite irão actuar os norteamericanos Duran Duran Duran e o projecto alemão Candie Hank.
Nesta data será também apresentado o filme «Étude sur Paris» (André Sauvage, 1928, 80’), que será acompanhado por um live set dos DJs parisienses Antipop e Shamon Takahashi.Paralelamente, irão tomar lugar uma série de iniciativas no domínio das artes visuais, a decorrer na Sala Verde da Galeria ao longo deste quatro dias, inseridos no projecto Cityvideodrome. Uma programação de vídeo nocturna, que questiona a existência ou não de uma ou mais identidades no vídeo francês do século XXI, explorando a relevância do som neste campo de trabalho estético particularmente preocupado com a exploração, dissecação e apresentação da vida, da cidade e de si próprio.
Os protagonistas desta iniciativa são Anri Sala, Valérie Mréjen, Mélik Ohanian, Olivier Dollinger, Laurent Grasso, Joël Bartoloméo,Pierre Joseph, Brice Dellsperger, Franck Scurty, Sandy Amerio, Ange Leccia, Adel Abdessemed, Cecile Paris e Mircea Cantor.**********************************************************
terça_ 4
My Cat Is An AlienDuo italiano constituído pelos irmãos Maurizio e Roberto Opalio, os My Cat Is An Alien têm vindo a trabalhar a sua linguagem de improvisação desde 1997, radicados em Turim.
O centro óbvio do trabalho destes irmãos, no que respeita à estrutura da sua música, tem sido exercido sob a exploração e a forma do drone. Influenciados por décadas de música, arte e literatura que conta, mostra, explora e cria o imaginário e espiritualismo do cosmos, do espacial, do metafísico estratosférico, o labor do My Cat Is An Alien vive sempre nessa manifesta vontade de comunicação puramente abstracta, livre, filha das estrelas.
Utilizando principalmente guitarras deitadas, sob as quais aplicam uma miríade de delays e objectos que interagem – por via da amplificação – com os pick-ups do instrumento, alimentam e adensam o drone com a minúcia de pacatos viajantes intergalácticos, criando caminhos estelares em electricidade e ritual.
Depois do seu primeiro disco, um triplo LP lançado na Ecstatic Peace! em 2002, os MCIAA têm vindo a colaborar com vários artistas de afinidades estéticas e sensoriais, casos de Thurston Moore, Christina Carter, Thuja, Nels Cline, Christian Marclay ou Jackie-O Motherfucker. Estiveram como parte desta última banda aquando da presença dos Jackie-O na ZDB, aquando do Festival Where’s The Love.**********************************************************
terça_ 4
Rafael ToralEm vésperas da conclusão do novo trabalho discográfico, «Space», Rafael Toral estreia Space Study 5 na Galeria Zé dos Bois, nova exploração de possibilidades discursivas na linha do Space Program por si desenvolvido, utilizando rádio, feedback electrónico, ressonância, percussão amplificada, osciladores e outros elementos.
Marcando o início de um novo período no percurso de Rafael Toral, Space Studies é uma série de obras com uma estrutura formal indefinida, em que são aplicados modos de escuta a uma articulação em tempo real de silêncios com eventos sonoros.
Rafael Toral é um músico e artista que desenvolve uma abordagem a múltiplos dispositivos electrónicos, tendo em comum o facto de serem construídos ou modificados por si e de terem sempre um comportamento algo imprevisível.
Utilizando controladores gestuais (theremin, luvas midi, sensores ópticos), Toral tem explorado a dimensão visual da performance de música ao vivo, questionando a invisibilidade dos processos criativos em práticas correntes na música electrónica contemporânea.**********************************************************
terça_ 4
Keith Fullerton WhitmanDos criadores mais prolíficos, talentosos e ecléticos de tempos recentes, a biografia – ainda curta em tempo – desarma pela quantidade e qualidade do trabalho por si efectuado.
Nos últimos dez anos podemos ver projectos de Keith Fullerton Whitman em áreas tão díspares quanto o breakbeat, ruminações em idiomas pós-jungle, improvisação electro-acústica, ambient, programação em Max-MSP, ou aquilo a que se habituou designar por composição moderna.
Ganhando notoriedade inicialmente através do seu heterónimo Hrvatski, quanto o primeiro álbum desse projecto, «Oiseasux 96-98», foi lançado em 1999, recebeu bastantes aplausos tanto no meio da música experimenta quanto no das franjas mais audazes da cultura de dança. Por esta altura, Whitman produziu singles, temas para compilações ou remisturas para selos como a Leaf, Tigerbeat 6, V/VM ou Apartment B.
No ano seguinte desenvolveu um patch de Max-MSP de improvisação em tempo real num laptop, que o permitiu actuar pela primeira vez com grande regularidade por todo o mundo, partilhando palcos com artistas como os Labradford, Pan Sonic, Suicide, Christian Marclay, Thurston Moore & Lee Ranaldo, Peter Kowald, Malcolm Mooney & Michael Karoli ou Oren Ambarchi.
Desde então o ritmo tem-se mantido frenético. Colaborou, das mais diversas formas, com artistas como Mouse On Mars, Sole, Matmos, David Grubbs, Neon Hunk, Faust, Sightings, Birdshow ou Greg Davis.
O seu álbum mais recente, «Multiples», saiu em meados de 2005 pela mão da Kranky. Gravado nos estúdios da Univesidade de Harvard, Whitman teve carta branca para explorar o centro de estudos de música electrónica do campus, abonadíssimo ainda de uma época em que a pesquisa dessa música era vista como um seguimento academicamente sério e instituído, da dita música clássica e contemporânea. As influências mais notórias serão a música gamelã, a circularidade do manto de som melódico de Steve Reich, e, numa faixa, um travo altamente barrôco (mas pleno de sobriedade, por paradoxal que soe). Uma exploração conseguidíssima de material «vintage» como já raras vezes se faz, através da actualização de idiomas para um discurso moderno, vivo, modulando o passado para sensibilidades e conhecimentos presentes, dando continuidade ao seu trabalho profundo (também porque plural e heterogéneo) sobre o drone.**********************************************************
quarta_ 5
IcarusActivo desde há aproximadmente 5 anos, o duo britânico Icarus constituído por Sam Britton e Ollie Bown tem vindo, à semelhança de projectos como os Spring Heel Jack – mas no seu próprio comprimento de onda – a destruir fronteiras entre a electrónica, o free jazz e a designada composição moderna.
O seu álbum «I Tweet The Birdy Electric», editado pela celebrada Leaf em 2004, é um híbrido extremamente conseguido entre estas áreas de vanguarda. Oferecendo versatilidade de expressão física quase humana a plataformas digitais, enquanto trabalha com propriedade dinâmicas e plataformas orquestrais, para teclas, metais e cordas, consegue criar o seu próprio discurso mutante com total organicidade..
Os Icarus já colaboraram com artistas como Four Tet, Murcof ou Amon Tobin.**********************************************************
quarta_ 5
We Shall Say Only The LeavesFormação/colectivo sediado na área da Grande Lisboa com pontual correspondência em Londres, os We Shall Say Only The Leaves começam-se a afirmar como umas das mais promissoras entidades criativas na música exploratória nacional a surgir nos últimos tempos. Demonstrando uma rápida evolução nos meses que separaram as duas maquetas que nos fez chegar, a banda caminha num território cada vez mais próprio.
Tornou-se arriscado – e, em alguns casos, injusto – utilizar o termo pós-rock para contextualizar determinadas bandas, mas de um determinada prisma o que podemos encontrar neste projecto actualmente é uma modernização de um determinado espectro estético, de várias amplitudes, dentro da história do pós-rock directamente descendente do kraut mais esparso, passível de ser encontrado em projectos como o trio austríaco Radian, ou nos esquecidos Rome – uma música de hibridização amplamente conseguida entre meios eléctricos, acústicos e electrónicos.
Neste seu novo registo, os We Shall Say Only The Leaves exploram, com reserva e apurado ouvido para espaço e silêncio, camadas de texturas orgânicas despoletadas em tempo real por laptops, normalmente acompanhadas por uma bateria que percorre o campo físico do som quer em funções de vocação mais solista, quer em funções de «timekeeping», mas sempre com expressão desenvolta. Encontramos uma dimensão dub num baixo minimal, ou uma melancolia cronometrada numa guitarra em loop mais dolente. Uma das coisas que mais sobressai é a maturação do entrosamento tanto estético quanto puramente musical entre todos os elementos, altamente interligados entre si.
À medida que os projectos paralelos do colectivo vão aparecendo a par com mais ideias, cada vez mais interessantes e melhor concretizadas, começa-se a tornar necessário ver o que estes artistas andam a criar. Um primeiro lançamento oficial acontecerá brevemente através da «netlabel» testtube.**********************************************************
quarta_ 5
OvalDepois de se ter tornado num dos artistas mais ocupados e prolíficos da música electrónica da segunda metade dos anos 90, Markus Popp e o seu projecto (cada vez mais) a solo Oval abrandaram seriamente, lançando apenas um disco – homónimo, de um projecto denominado So, com Eriko Toyoda – nos últimos quatro anos.
Ao lado de outros seminais artistas germânicos da época, como Mouse On Mars, To Rococo Rot, Kreidler ou Microstoria (projecto de Popp com Jan St. Werner dos Mouse On Mars), Oval revolucionou o panorama da electrónica. Pioneiro da técnica glitch levado para territórios quase sinfónicos (nunca com pompa, sempre com toda a delicadeza do mundo), Oval trouxe uma melancolia e hipnose de veludo subaquático, fulcral para a progressiva humanização de meios electrónicos e digitais. Através do seu sistema conceptualizado de trabalho sobre as falhas do formato digital (o polémico «Ovalprocess»), foi mostrando que o erro, fosse ele encontrado em CDs riscados cirurgicamente ou num abraçar da aleatoriedade dessas mesmas falhas, pôde e pode, cada vez mais, tornar-se infinitamente mais tocante que a rectidão e a perfeição em tempos de falsa infalibilidade digital.
O seu currículo de colaborações é vastíssimo, destacando-se obras produzidas com artistas como Björk, Harmony Korine, Giorgio Armani, Jim O’Rourke, Ryuichi Sakamoto, Merzbow, Tortoise ou Pizzicato 5. Veremos onde pára a sua mente em 2005.**********************************************************
quinta_6
JaneUnidos por uma afinidade pela música de dança e por um emprego mútuo cortesia da loja de discos de Nova Iorque Other Music, os Jane são Scott Mou e Noah Lennox (a.k.a. Panda Bear). Com base apenas na segunda metade do grupo, seria tentador ver Berserker, o primeiro longa duração dos Janes (que reúne algum material já anteriormente lançado em edição limitada) através do filtro dos Animal Collective. No entanto, relegar o duo e este belo disco de estreia como uma mera nota de rodapé no mundo cada vez mais vasto dos Collective é muito injusto. O que Mou e Lennox nos oferecem ao longo de quarto canções e quase sessenta minutos encontra-se entre a dança e a pop, o ambient e a familiaridade melódica, com um espaço muito próprio, fora da extensa sombra do grupo. Berserker é um disco difícil de definir. Com uma capa adornada por desenhos com uma sombra repulsiva que intimida uma alma piedosa e alguns desenhos que são claramente inspirados nos Grateful Dead, é fácil perceber que a estética por si só indica algo de nebuloso e esotérico. Em geral, os sons neste disco correspondem às expectativas – se não fossem a fotografia do duo e a lista de créditos, eu estaria inclinado a atribuir este disco a um único indivíduo, já que se sente como que se de uma voz singular se tratasse. O álbum abre com o susurro da faixa que dá nome ao disco e, tendo em conta a “confusão tóxica” e/ou a malevolência que aparentam as imagens na capa, estes seis minutos são passados a explorar um caos sonoro glorioso de uma electrónica nebulosa, vozes sem palavras e um som quase que melódico que nos proporciona mais com os seus toques sugestivos do que alguns artistas conseguem conjurar com temas sobrecarregos. “AGG Report” deixa entrar uma batida estonteante e subtil que se arrasta com drones de teclado que nos fazem perder no tempo – estes 12 minutos fluem em cascata num piscar de olhos. “Slipping Away” começa enjoado, com loops do habitual som do vinil que rodopiam até um outro ritmo se fazer ouvir, ao mesmo tempo que Lennox murmura à distância. A fechar, “Swan” é acima de tudo psicadélico e explora um mar de drones alternados e blips de radar de origem indefinida. No conjunto, as técnicas usadas talvez tendam a soar gastas, evidenciando um duo que ainda está a trabalhar o seu som e a definir o território que só agora começou a explorar. Ainda assim, Berserker vale muito a pena, um gesto simpatico que apetece surpreendentemente bem ao início da madrugada. Apesar de estes dois músicos professarem que a sua inspiração mais imediata vem da música de dança, talvez seja difícil difícil imaginar este som numa pista de dança. Ainda que alguns momentos aqui e ali possam beber dos mesmos sítios que, por exemplo, Birchville Cat Motel ou ou eixo Keith Fullerton Whitman/Greg Davis, sente-se um propósito mais rítmico, quer seja explícito ou não. A comparação mais imediata que me vem à cabeça é o trabalho mais ambient de Arthur Russell. Este duo ainda não conseguiu descobrir como obter a intensa profundidade emocional que torna o trabalho de Russell numa audição inesquecível, mas tem sabido explorar onde a exploração da música de dança os pode levar quando uma batida se dissipa na noite.
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quinta_6
Evil MoistureProjecto a solo do cidadão britânico Andy Bolus, o concerto de Evil Moisture será das propostas mais delirantes apresentadas na ZDB nos últimos tempos.
Munido de sabe-se lá o quê – alguns textos apontam para um arsenal de brinquedos, mas ouvindo a sua música em disco é complicado imaginar todos os elementos juntos sem o uso de um laptop -, Evil Moisture apresenta-se como um conceptualista de humor em alta rotação, com subversão e perversão contínuas, que vai utilizando a música (bem como as artes plásticas) para expressar a confusão que lhe vai na cabeça, da forma mais celebratória e positiva que encontra.
O seu recente álbum «Killer Nuts» (!) é constituído por 26 peças que desfilam durante pouco mais de 20 minutos, cada pedaço uma ideia pragmatizada em som, de forma literal ou alegórica.
Com Evil Moisture, Bolus tem atingido um grau de produtividade impressionante, tendo colaborado com artistas tão díspares como Yamatsuka Eye (Boredoms, Hanatarash), Noel Akchoté (enquanto Lenny Kravitz.co.uk (!!)), Metalux, Cock E.S.P. (com quem produziu um single em vinil de 5”, onde conseguiram incluir 381 canções). Construí também alguns brinquedos para o brilhante Luc Ferrari (recentemente falecido, para grande perda da música contemporânea mais livre).
A sua música busca a todas as fontes imagináveis, ordenando-as ou empilhando-as sempre com um forte carácter lúdico e acídico, sempre preparada para franzir sobrancelhas, provocar estrilho, gargalhadas.e passos de dança estúpidos. breakcore, ruído, absurdismo, crítica, «performance», «crossdressing»… Seja o que Deus quiser.**********************************************************
quinta_ 6
Blevin BlectumFundadora do carismático duo Blectum From Blechdom a par com Kevin Blechdom, Blevin Blectum tem-se mostrado no último par de anos artista prolífica e incrivelmente imaginativa.
Para além do projecto de quasi-neo-all stars da cena electrónica californiana Sagan, onde trabalha com Lesser, Wobbly e Ryan Junell, Kevin tem estado ocupada com o seu trabalho a solo.
O último disco que editou, «Look! Magic Maple», é um documento verdadeiramente fascinante de música laptop. À medida que problemáticas pouco auspiciosas vão aparecendo sobre o estado actual desta plataforma tecnológica, nomeadamente para aqueles que escolhem o caminho do hiperactivo-a-metro-nintendo-a-500-à-hora que tanto pulula nas cenas de «breakcore» ou «drill’n’bass’», a esquizofrenia aceleradíssima de Blechdom possui um léxico verdadeiramente amplo, uma noção dinâmica de composição/improvisação e sequenciamento notáveis, bem como uma estética muito particular.
Falar deste documento em formas lineares torna-se confuso. São mais de 45 minutos em que não há um único segundo de paragem – apesar de haver quietude e muita, muita subtileza, mesmo no mais profundo caos aparente -, onde encontramos uma multitude de acontecimentos a evoluírem elaboradamente em simultâneo, em que assim que algo acaba (raramente dura muito tempo) algo de novo, absurdamente lógico e totalmente inesperado surge. Desculpando-nos do cliché – porque aqui muitíssimo aplicável -, o estado do ouvinte aquando da experiência de escuta de «Look! Magic Maple» é extremamente equiparável ao do sonho, ou ao de um autismo gerado por uma hipnose de conteúdos a surgirem em catadupa, dificilmente discernível em lógica ortodoxa.
Pelo lado lúdico lembra trabalhos do «kraut» electrónico mais delicodoce e solarengo, de alguns trabalhos dos Cluster ou dos Pyrolator, encontrando óbvios paralelos contemporâneos na música de Lesser ou Kid 606, tendo recebido ainda comparações ao material que melhor datou de Jean Michel Jarre (no bom sentido, por mais improvável que soe).
À superfície passível de ser confundível com hordas de electrónica ‘speedada» facilitista, o trabalho de Blevin Blectum vive longe demais dentro de si próprio para ser equiparado a fundo com o que quer seja que ande por aí. Um fantástico exemplo do que ainda se pode fazer com as motherboards que fazem rir.**********************************************************
sexta_7
Candie HankDesde a idade dos 16 anos, Patric Catani, o responsável pelo projecto Candie Hank, começou a estar envolvido com música electrónica, quando editou o seu primeiro álbum de hardcore techno e gabba. Pouco tempo depois já realizava trabalho de remistura para gente como os Mouse On Mars e mudava-se Colónia para Berlim.
Entretanto dedicou bastante tempo a este seu projecto, como ao seu duo Puppetmastaz. Actualmente a sua música caminha a linha entre a parafernália gabba, o electro com poucos tiques «fashionistas» e a pop electrónica speedada, panfletária, com o beat sempre muito proeminente e activo.
Candie Hank tem trabalho editado para selos como a Mille Plateaux, Grand Royal, Digital Hardcore Recordings ou a Gagarin Records de Felix Kubin, que disse do seu álbum de estreia, «Kimouchi», ser um marco. Elogio de alta ordem.**********************************************************
sexta_7
Duran Duran DuranVery Pleasure, dos Duran Duran Duran, é bom para rir. Os cínicos podem cacarejar sobre a forma como eles abusam ao longo de todo o álbum do break de “Amen”, um dos sample mais explorados da música electrónica mas que ainda soa actual quando é trabalhado pelo DJ/Produtor #2023. Para quem gosta de ironia, podem marcar os Duran+2 e as suas mini-mochilas do Paul Frank e Emily Strange enquanto cantam o sample manhoso de um anúncio da McDonald’s que anuncia: “Holla! McDonald’s Big & Tasty is only a dolla!”. Os nostálgicos podem relembrar o ano virgem de 2000, quando parecia ser verdadeiramente punk vandalizar clássicos dos NWA através de portáteis. Rapazes adolescentes dos 13 aos 43 podem pôr sal nas suas frustrações sexuais ao ouvir a gravação de campo dos Duran+2 de um suposto acto de fellatio. Very Pleasure é um monte de porcaria mergulhado num banho de ouro. Natural de Filadélfia, Ed Flis é o responsável pelos Duran+2. O site da CockRockDisco afirma: “Podemos chamar-lhe o novo John Holmes.” A música é co-produzida por Michael Chiaken e Tony Gabor e abençoada pelo dono/génio do trashcore/antigo Donna Summer, Jason Forrest. Grande parte do álbum de estreia dos Duran+2 parece-se com o vaudeville de Forrest; têm o hábito de unir um sample conhecido de um pop piroso ou um grunhido hair-metal, que depois pulverizam com o som de uma drum machine a descer uma colina numa lata do lixo. Nada do que ouvimos é subversivo, mas a inteligência é suficiente para garantir alguns momentos espertos. O tema de abertura, “I Hate the 80’s”, não é mais do que uma versão Amen do funk de computer-expo dos Yazoo em “Don’t Go”—bons tempos de memórias que quase se apagam. Mais forte, “Manrammer” é um ensaio sobre o break Amen que com eficácia compila basicamente todas as impressões digitais deixadas no grito de guerra deste ritmo – descidas de tom, o varredor de ruas sopra para os címbalos, as mudanças de humor nubladas pelo E, etc. Uns segundos do clássico reggae para supermercado dos Ace of Base,”All That She Wants”, surgem por aqui algures. “Gaetan” é uma versão um pouco menos memorável e assustadora de “My Kitten” , de Kid606—ambos os temas soam como uma balada para piano que se senta no canto da sala com a cabeça enterrada no meio dos joelhos enquanto batidas estilhaçadas destroem a casa. “Movies Unlimited” podia ter ido mais longe com o seu poderoso baixo de Miami para além de lhe terem cuspido distorção. “Year of the Monkey” e o seu primo em segundo grau incestuoso “Purple Passion” são passeios breakcore genéricos com um toques de melodias sintetizadas wagnerianas trance-techno. “Untitled” experimenta com insegurança a guitarra de metal tipo corta-relvas estragado num som que faz lembrar os Slayer antes de cairem na routina gabber. Os momentos em que Very Pleasure se redime são o raggacore intoxicado de “Hard Girls” e o jingle esmagado da McDonald’s em “Pilldriver”. Este último é um exemplo perfeito de uma batida quemerdafoiesta? que estranhamente tão pouco se ouve na maioria do breakcore hoje em dia. Até que chegamos ao “Interlude”, que primeiro se sente como pés descalços na lama, mas que se diz ser uma performance de uma epidemia nacional da juventude Americano relembrada ao presidente dos EUA pelo Dr. Phil no seu programa televisivo. É o suficiente para amedrontar as crianças para a abstinência.
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sexta_7
Ciné-mix DJ-ActCINE-MIX é o encontro do cinema mudo com a música electrónica e popular. Consiste em exibir filmes mudos europeus vanguardistas da década de 1920, com ilustração sonora assegurada por músicos da cena contemporânea.
ESTUDO SOBRE PARIS (filme de André Sauvage – 1928 – 80 minutos) é o primeiro documentário realizado sobre Paris. Dá-nos a conhecer o Paris do final dos anos vinte em cinco vertentes/quadros: monumentos e cenas da rua, planos de transeuntes e trabalhadores, imagens da actividade portuária da capital.
A fotografia artística em imagens animadas. O olho de André Sauvage, olho do instante e dos pequenos gestos, mostra-nos que Paris é uma actriz que sabe entregar-se a quem sabe conquistá-la.
Este filme, visualmente magnífico, que alia poesia com cenas do dia-a-dia, valeu a André Sauvage a admiração de Jean Renoir e de Jean Vigo. Criação sonora: ANTIPOP (live set) + SAMON TAKAHASHI (live set) + STEFFF GOTOWSKI (saxofone)Entradas e passes:
Entrada dia: 10 €
Passe para o 4 dias: 30 €
Entrada dia Socios ZDB: 8 €
Passe para os 4 dias Socios ZDB: 25€===========================================================
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ESTA SEMANA: 11º ANIVERSÁRIO ZDB
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===========================================================Sexta-feira dia 14 Outubro às 23h00
Rock’n’Roll Sessions
THE PEPPERMINTS
D3Ö
The Peppermints
Provenientes de San Diego, os Peppermints tornaram-se, no último ano, a mais recente aquisição da restrita família Paw Tracks, propriedade editorial criativa do epicentro da música independente que dá pelo nome de Animal Collective.
Para além das suas próprias edições que escolhem não lançar pela Fat Cat, a Paw Tracks alberga o projecto a solo de Panda Bear (e o seu belíssimo «Young Prayer»), o inacreditável e brilhante Ariel Pink, bem como o duo de Panda Bear com Scott Mou (com a edição de «Berserker»).
A contratação dos Peppermints, pode, numa primeira audição desatenta, fazer pensar, por comparação ao restante catálogo, que se trata de uma decisão invulgarmente ortodoxa vinda de quem é. Contudo – e porque os Animal Collective ainda não deram um passo em falso – tal raciocínio não poderia ser mais precipitado. Os Peppermints fazem de facto canções numa linguagem rock’n’roll, mas a linearidade fica-se por aí.
Buscando influências e inspiração à sacra escola do art-rock mais gloriosamente imperfeito, dos Mars aos Deerhoof dos primeiros anos, de James Chance & The Contortions aos Royal Trux mais musicais, os Peppermints encontram o seu balanço impulsionador na livre desenvoltura de execução, efectuada com maior preocupação em veicular electricidade e desbunda sensorial, do que em acertar todos os acordes de barra ou marteladas na tarola.
Pertencentes a uma linhagem que vem directamente do rock’n’roll puro (tanto enquanto espírito quanto forma), que tem vindo a ser representado cada vez mais pela marginalia do que pelos meninos de penteados oblíquos e meninas bonitas, levando a xungaria livre aos palcos num motim difuso, tão mais obliterante e celebratório por isso mesmo.D3Ö
Trio de Coimbra, capital do rock puro e duro de Portugal – actualmente lado-a-lado com o Barreiro -, lançou este ano o seu terceiro EP, intitulado «7HBT».
A evolução da banda, tanto ao vivo como em estúdio, tem tido uma velocidade galopante. Uma generosidade cada vez mais focada, cada vez a melhor e mais pungentemente destilar o que de fervoroso, suado e celebratório o rock’n’roll tem para oferecer.
Aqui encontramos Cramps, a Detroit tanto dos MC5 como dos Gories; a modernização do blues eléctrico condensada em riffs cada vez mais certeiros, tonificados e abertos por uma bateria que manda groove como poucos o fazem no rock urbano actual, descendente directo dos moldes clássicos.
Rapidamente a tornar-se nas bandas mais efusivas e altruístas em palcos portugueses, os d3ö encontram, agora e mais do que nunca, o seu próprio lugar com total mérito, numa geração de rockers nacionais de ouro, que continua a dar cartas e mandar festa em palcos por aí fora.Entrada: 7.5 €
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11º aniversário ZDB
Quinta-feira dia 20 Outubro
Terminal do Cais de Sodré (Ferries)
Hora de embarque 21h30
Weird_Psyco_Pop_Sessions
ANIMAL COLLECTIVE
ALAN COURTIS
Animal collective
O impressionante percurso do colectivo norte-americano (com parcial sede em Lisboa, por parte do membro fundador Panda Bear) conheceu, este ano, mais momento tremendo, após um período de aproximadamente cinco anos em que apenas editaram álbuns de estatura maior, um atrás do outro.
O seu novo longa-duração «Feels», que vêm apresentar nesta ocasião, é, como o colectivo nos tem habituado, uma progressão imensa (continuam sem se repetir minimamente) dento do campo da canção pop psicadélica. A sua cadência tem um passo que não é deste planeta. O seu espectro harmónico uma lucidez para lá da esquizofrenia. O rasgo criativo e qualidade inovadora – novamente – sem qualquer tipo de paralelo nos campos da canção, da experimentação e da música livre, possui uma raríssima qualidade universalizante, que parece unir imaginários colectivos pancontinentais até ao âmago, enquanto os faz explodir todos ao mesmo tempo numa só voz musical. Dos nomes mais importante da música moderna do século XXI, num evento de características logísticas muito particular.
Alan Courtis
Figura de importância imensa no activismo de música e artes extremas na América do Sul das últimos décadas, o argentino Alan Courtis é dono de uma obra tão tremenda quando longa de manifestações livres em som.
O seu trabalho veio ao conhecimento público principalmente pela via do mítico trio Reynols, constituído por ele, Roberto Conlazo e pelo vocalista/guru Miguel Tomasín, um artista de características físicas raras neste meio, visto sofrer de síndrome de Down. Ao longo dos últimos dez anos Courtis também tem vindo a colaborar com uma miríade de músicos, tanto quanto tem executado variados registos a solo.
Os pontos estéticos unificadores do trabalho de Courtis assentam num misticismo muito particular, de características e identidade marcadamente locais, possuindo um ritualismo denso, escuro, oblíquo, que se acerca a referências como Red Krayola, No-Neck Blues Band, Dead C ou MEV. Trabalha o drone, estranhas procissões sonoras, canção avariada e explorações de ambient rudes, de disformidade invulgar, violentamente arquitectada. O seu trabalho activista de organização de eventos em Buenos Aires e arredores, é porventura o principal dínamo da música exploratória argentina.
Num longuíssimo currículo, destacam-se colaborações com criadores como Pauline Oliveros, Lee Ranaldo, Francisco López, Birchville Cat Motel, Nihilist Spasm Band, Damo Suzuki, KK Null, Yoshimi, Masonna, Axel Dörner, Skaters ou Michael Snow. Editoras que publicaram o seu trabalho encontram exemplos na Trente Oiseaux, RRR, American Tapes, Locust, Celebrated Psi Phenomenon ou Jewelled Antler.RESERVAS POR MAIL: [email protected]
Entrada:
15€ venda antecipada
20€ venda no dia
12€ sócio zdb****************************************************************************
Sexta-feira dia 21 Outubro às 23h00
Avant_Jazz_Rock_Sessions
MONNOMonno
Sediados em Berlim, os Monno são um quarteto de músicos de vários países, a trabalhar em saxofone eléctrico, baixo eléctrico, bateria e aquilo a que gostam de apelidar de «singing laptop».
O seu som perpassa todos estes meios, de diferentes naturezas tecnológicas e dimensões acústicas, tanto como aponta para a convergência de vários géneros estilísticos. Podemos encontrar noise-rock (fizeram em 2004 várias datas com os Lightning Bolt, tendo tocado também com as nipónicas Melt Banana), um metal modernizado (em Maio ultimo fizeram outras datas, desta feira com os Jesu e os Isis), electrónica ruidosa, electroacústica e espírito punk rockeiro.
Admiradores de Zu, Lightning Bolt, bem como de contaminações entre o metal, a improvisação lowercase (vertente Axel Dörner ou Nmperign) e electrónica caseira deverão deslocar-se ao guichet de «headbanging» mais próximo.Entrada: 5€
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Sábado 22 Outubro às 23h00
Bor-Land_Sessions
CARLOS BICA
ALEXANDRE SOARES E JORGE COELHO
Carlos Bica
Dos mais celebrados músicos do jazz nacional, Carlos Bica vem por esta ocasião à ZDB para prodecer à apresentação do seu primeiro registo a solo, «Single», editado pela Bor Land.
O seu percurso discográfico até aqui foi marcado pelo seu emblemático trio Azul, com Frank Möbus (guitarra eléctrica) e Jim Black (bateria), que tem percorrido mundos com as suas explorações harmonicas, tímbricas e rítmicas. Outra colaboração de particular nota, foi o seu trabalho com a cantora Ana Brandão, que remonta até ’98, culminando no disco a duo de título «Diz».
Superiormente gravado nos estúdios RBB de Berlim, «Single» aponta os holofotes por completo ao trabalho de Bica no contrabaixo. Partindo dos ensinamentos base de um jazz moderno, tingido por aquilo a que se escolheu designar de música contemporânea (escola ECM), Bica trilha caminhos irmãos aos de mestres como Dave Holland, Barry Guy ou Mark Dresser.
Tratado passional dirigido a uma pluralidade de culturas e coisas que cicatrizam e absorvem Carlos Bica, do Minho, ao bolero, até à Califórnia, numa «tracklist» que fala várias línguas diferentes, «Single» mostra um irrepreensível executante, improvisador e compositor de um determinado jazz no seu melhor.
O contrabaixista que agora divide o seu tempo entre Berlim e Lisboa, celebra também essa intersecção editorial, ligando as linhagens do jazz ao universo da música independente nacional mais ligada às guitarras e à canção. Aguardemos para observar os frutos que daí virão.
Alexandre Soares e Jorge Coelho
Duo que está prestes a lançar o primeiro album através da Bor Land, Alexandre Soares (ex-GNR, Três Tristes Tigres) e Jorge Coelho (Tenaz, ex-Zen) vêm à ZDB fazer a antevisão desse disco, dos mais interessantes documentos do panorama da música independente do ano corrente.
Duas guitarras eléctricas, espalhadas ao longo de 13 faixas, procuram encadeamentos, desencontros empáticos, numa amálgama e diálogo de múltiplas tradições do instrumento. Podemos encontrar o carácter mais melodioso do John Fahey da década de 90, quando descobriu a electricidade; a qualidade planante dos trabalhos mais sóbrios e desérticos de Ry Cooder; explorações mântricas cuidadas, que lembram o mais sujo boogie à LaMonte Young de Henry Flynt; ou, mesmo do ponto de vista do panorama nacional, podem ser reminiscências do album dos Clockwork, e do seu space-rock melódico.
Aguardamos então a apresentação ao vivo deste projecto que vem finalmente a público, por duas das mais marcantes figures da menos ortodoxa música popular urbana portuguesa do último par de décadas.Entrada: 7.5 €
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Sexta-feira dia 28 Outubro às 23h00
ZDBeatnik_Sessions
TUCANASGrupo criado em 2001, apresenta um trabalho com sonoridades acústicas através de percussão e voz.
Cinco mulheres que apostam os seus argumentos criativos na construção de instrumentos e composição de temas inspirados nas tradições portuguesas, africanas e brasileiras.
Influenciadas pelo teatro, a dança e a música tradicional portuguesa, as Tucanas são compositoras e autoras dos seus próprios temas interpretados com uso de objectos como bidons, cabaças, baterias, surdos, djenbés e dumbas.
Ao vivo, as Tucanas brincam e jogam com o ritmo e a harmonia, dentro de um visual muito próprio, resulta num espectáculo que se move entre a sensibilidade feminina e a força rude da percussão.“Mais do que um projecto no feminino, as Tucanas são uma forma diferente de querer fazer música de percussão procurando explorar novas sonoridades e uma expressão artística original”
Agencia Lusa, N Lopes, Outubro de 2002Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 29 Outubro às 23h00
Oblique_Electronic_Sessions
ADRIANA SÁ + HUGO BARBOSA
GIGANTIQAdriana Sá + Hugo Barbosa
Performance com set-up instrumental portátil no âmbito de um amplo percurso de investigações sobre a ideia de tornar a luz audível;uma improvisação estruturada a partir de cordas, samples, frequências sonoras e luz vídeo.Adriana Sá: sensores de pressão + cítara preparada + instrumento de percussão lumínica + vocals + sampler + delay modulator + instrumento de luz sono(arquitectura e programação prévia)
Hugo Barbosa: instrumento de luz sonora (live video que processa audio mediante sensores de luz)
Com formação em música e artes plásticas, Adriana Sá tem vindo a investigar a contaminação recíproca de meios e sensibilidades criativas. Performer, improvisadora/ compositora, também concebe e constrói instrumentação personalizada com interfaces físicos. Adriana tem desenvolvido e apresentado o seu trabalho pela Europa, EUA e Japão.
Hugo Barbosa conjuga formação e experiência em jornalismo, artes plásticas, fotografia, som, TV e cinema. Realizador e produtor independente com as siglas AGFTM/ LX89 e HB: Prgms. Como artista video foi pioneiro no desenvolvimento dos conceitos video-painting e video-jamming. Com A.S. tem vindo a trabalhar o video como instrumento musical.gigantiq [andré gonçalves + nuno moita]
O som surge a partir de padrões cíclicos intensos que se misturam continuamente entre si dando origem a uma massa sonora aparentemente
estática. No entanto ela move-se.
gigantiq é o nome do novo projecto de Nuno Moita e André Gonçalves em estreia absoluta na ZDB.André Gonçalves: guitar, laptop
Nuno Moita: sons “microscópicos” amplificados, objectos, minidisc e digital turntable.Nuno Moita« Nasceu em 1970. Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa, inicia a sua actividade sonora em 1996 com o projecto rock experimental Scope. Um ano depois começa a utilizar hardware electrónico e desenvolve o projecto solo Lost Bubble. Podem considerar-se estes os seus anos formativos.
A transição para o software e consequente improvisação em laptop acontece em 2000 quando inicia o projecto de interacção som|imagem Stapletape, actualmente em versão trio. Participa ainda na fundação do combo de laptops [des]integração e do duo Filigree (com Pedro Lourenço).
A sua actividade solo na área da sound-art afasta-se contundo da música feita exclusivamente por computador regressando assim “à origem” nos projectos Draftank e gigantiq (este último criado já no final de 2005 e agora em estreia ao vivo na ZDB).
Desenvolve paralelamente uma actividade de divulgação e promoção da música mais experimental com a criação das editoras Grain of Sound e Ristretto e organiza anualmente em Lisboa o festival Sonic Scope.André Gonçalves« Desde 1998 tem desenvolvido projectos em diversas áreas artísticas, nomeadamente nas artes plásticas, música, vídeo, instalação e performance. Desde 1999 desenvolve a solo o projecto ok.suitcase eintegra diversos projectos musicais com diferentes abordagens sonoras como: in her space, stapletape, iodo, EA, sound asleep…
Ainda em 2004 foi-lhe atribuída a Bolsa Ernesto de Sousa, Bolsa de Arte Experimental Intermédia que o levou a apresentar a performance ‘Resonant Objects’ na Experimental Intermedia Foundation, Nova Iorque, em Março de 2005.
Programador por empatia com formação googliana, desenvolve diversas aplicações audio e vídeo em max-msp e java, estas foram apresentadas quer em showcases multimédia e galerias online quer em performances ou ainda, e principalmente, utilizadas no seu dia-a-dia para desenvolver diversos trabalhos gráficos, sonoros e vídeo.Entrada: 5 €
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Segunda-feira dia 31 Outubro às 23h00
Femininist_Electronic_Sessions
KEVIN BLECHDOM
PLANNINGTOROCK
OUR AURA HOUR
MELTED MEN
Kevin Blechdom
Das mais carismáticas e produtivas figuras da sempre produtiva e hiperactiva cena electrónica californiana, a par de Matmos, Kid 606, Blevin Blectum ou Lesser, Kevin Blechdom regressa à ZDB para apresentar o seu novo album, «Eat My Heart Out», editado pela Chicks On Speed.
Se o seu trabalho, especialmente no contexto de uma actuação, sempre se pautou por uma forte componente performativa teatral, «Eat My Heart Out» leva essa tendência até ao campo da ópera electrónica, arriscadíssima iniciativa que completou com todo o sucesso.
Apesar de elementos pertencentes ao domínio do camp, Kevin está já num patamar de ser tão boa a ter mau gasto que quaisquer sublinhados à importância do «kitsch» na sua arte vão perdendo cada vez mais o sentido. «Eat My Heart Out» encontra o que «Tommy» e os Who se esforçaram demais para obter, através de um laptop e de um elenco de personagens produtiva da esquizofrenia de Blechdom, que faz os mais variados papéis, enquanto disseca a dor e a solidão pós-relacional ao longo de dezanove faixas.
Pegando em exemplos de sucesso da ópera na canção pop – lembremo-nos dos esforços neste campo de Ray Davies com os Kinks -, Blechdom parece ir tragar esteticamente aos épicos dos Styx e Spinal Tap, mantendo um apreço especial por instrumentação acústica mal sintetizada (trompetes e percussão cortesia tanto Casio 80s quanto Macintosh), filtrado pelo passado académico que teve na celebrada Mills College (onde tomou contacto com os campos mais experimentação da música e programação electrónica).
Planningtorock
Propriedade artística de Janine Rostro, Planningtorock apresenta uma proposta muito pouco usual dentro dos campos da música electróinca. Lembrando mais bandas de género e sensibilidades femininas da no-wave e do pós-punk (pense-se em Mars, Y Pants, Ut ou Slits) do que «patches» de Max/MSP, Rostro traz a sua bruxaria de teclados e vocalizações de pop macabra para o palco, acompanhada de personagens faz-de-conta simétricas, que são projectadas sobre o seu corpo.
Actualmente alternando residência entre o Reino Unido e Berlim, tornou-se recentemente fundadora de uma editora, a Rostron, na qual já publicou trabalhos de Kevin Blechdom, Soft Pink Truth ou Max Turner.
Entusiastas dos Deerhoof, Kate Bush, Laurie Anderson, «Return of Zelda», «Wizard of Oz» ou «Tron» estão mais que encorajados a marcar presença.
OUR AURA HOUR (Kevin Blechdom + Planningtorock)
Espectáculo estreado este ano em Berlim, o «Our Aura Hour» é o trabalho de Kevin Blechdom e Planningtorock, tanto aglutinado quanto sobreposto e colaborativo. Criando vídeo, «performance», teatro e, claro, música, a «Our Aura Hour» contém ainda uma série de peças criadas proposidamente para o o projecto em questão. Harmonias vocais em duo, sapateado, laptops, banjo ou um corpo de baile em vídeo são alguns dos elementos deste evento, que foi recentemente apresentado também em Londres. Parece que é festa a sério.
Melted Men
Banda de Athens, Georgia, os Melted Men são tanto (ou mais) entidade performativa que banda. Possuem a reputação de ser dos grupos mais insanos que se podem ver num palco em qualquer parte do mundo, em que todos as surrealizações e absurdismos que lhes passam pela cabeça parecem encontrar espaço para serem pragmatizados.
A julgar pelo seu mais recente longa-duração, «Fangs Alot», um tratado enganosamente simples de humor e liberdade que tem tanto de lúdico, como de hilariante, brilhante e parolo (da melhor forma possível), há uma insistência em batidas electrónicas dançáveis e ritmos encantatórios a partir da cartilha de Harry Partch (versão «low budget»), «samples» que pela repetição ganham estranheza e humor, ou ruídos invulgares que despontam para inusitadas cacofonias celebratórias de «kling» e «klang». Referencialmente, pense-se em «plunderphonics», Caroliner, Residents, Sun City Girls ou uma revisão modernizante dos «minstrel shows», aqui tornados «freak shows».
Do mito que se tornaram as suas actuações ao vivo, pouco mais se consegue discernir do «feedback» crítico que tiveram do que não se esperar nada e esperar-se tudo, em que a festa invariavelmente explode impulsionada pela constante tensão do inesperado e da alucinação.Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 3 Novembro às 23h00
Archaic_Arcade_Sessions
FINAL FANTASY
THE BOY WITH THE BROKEN LEG
Final Fantasy
Das maiores coqueluches da pop dos últimos anos, a geração canadiana de escritores de canções tem actuado, de forma mais visível primeiro pelos New Pornographers e nos últimos meses através dos Arcade Fire, num espaço de sensibilidades e estéticas entre a mais difundida música independente e o mainstream. Um espaço instável onde a canção se liga ao movimento reflexo para experimentar.
Um dos artistas que mais tem sido badalado em 2005, proveniente dessa comunidade com epicentro em Toronto, tem sido o projecto a solo de Owen Pallett, Final Fantasy, com o disco de estreia «Has A Good Home».
Relevante acrescento ao cancioneiro «livejournal», dos íntimos expostos em melodia, contaminação digital/«tapeloops» e desconstrução das cadências rítmicas ortodoxas da canção, da escola recente de Xiu Xiu, Andrew Bird, Patrick Wolf ou Dntel.
Maioritariamente construídas tendo como base o violino, as peças de Pallett encontram uma pose e solenidade de porte quase continental, classicizante, cuja afectação remete para alguma da pop sentimental (vertente sóbria) dos anos 80, readornada tanto quanto despida para sensibilidade contemporânea, sem a parafernalia sintetizada e electrónica de há um par de décadas.
Entre pizzicatos, bateria de ângulos rectos e guitarras corridas, Pallett coloca também as suas canções entre a «torch song» e a música de câmara pop, tingindo-as de progressões harmónicas que parecem reverberar da Hollywood antiga.
«Has A Good Home» é o primeiro de cinco empreendimentos discográficos a solo anunciados de um dos violinistas mais requisitados da comunidade de Toronto, responsável por arranjos de cordas para projectos como os Arcade Fire, Hidden Cameras, Do Make Say Think, Royal City ou Picastro.
Um exemplo de alguma da mais interessante estilização que se vai fazendo da canção branca anglo-saxónica contemporânea, ciente e empática com a beleza dos seus trejeitos e passado, feita por ministréis de iBook debaixo do braço.
The Boy With The Broken Leg
Primeira apresentação ao vivo do projecto The Boy With A Broken Leg, pertencente ao Puget Sound, do qual fazem parte Daily Misconceptions ou Electric Marbles.
As canções registadas no seu EP homónimo harmonizam instrumentação acústica (guitarra, bateria, violino) com vários elementos de cariz electrónico, de ruído granular até programações para sintetizador e sampler.
A toada emocional desse trabalho, único documento disponível até à data do projecto, é pautada por um «drive» delicodoce, que perpassa peças que tanto remontam à melancolia elegíaca dos dEUS, como à canção «glitchizada» dos Hood, com um ligeiro odor à Islândia dos Múm, já patente nos Daily Misconceptions. Canções que andam devagar, com a graça de quem sabe arquitectar tempo e vagar.Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 10 Novembro às 23h00
Face_WSLOT_Sessions
MEIRA ASHER
GUY HARRIS
Meira Asher
Nascida em Israel, Meira Asher tem desenvolvido, ao longo das últimas duas décadas, um corpo de trabalho altamente politizado, de denúncia, crítica e retrato de situações catastróficas que a humanidade vai desenhado para si própria.
O percurso educativo de Asher pauta-se pela interdisciplinaridade, que se reflecte de forma clara no seu trabalho, não raras vezes também ele intertextual e disciplinar. Estudou percussão entre Varanasi, Jerusalém, Telavive, São Francisco, Akra, Anyako e Tamale; sonologia em Den Hague; percussão tradicional, dança e voz de várias tribos no Gana; artes interdisciplinares em Los Angeles ou terapia musical em Tel Aviv. Leccionou uma multitude de matérias, em diversas plataformas, desde trabalho com crianças autistas até cantares tradicionais na Escola de Jazz Rimon em Israel. Tem também um vasto passado música para dança e teatro, bem como nas artes visuais – nomeadamente no formato vídeo.
No que respeita a música gravada, Asher estreou-se com dois álbuns editados pela Crammed, «Dissected» (1995) e «Spears Into Hooks». Tratam-se de dois dilacerantes documentos, onde a dor, os conflitos bélicos israelitas, pavor e angústia são manifestadas com total abertura e entrega, por entre instrumentação electrónica modernizante de formas primitives de folclore, plenas de aspereza, secura e dor.
Depois de em 2002 ter apresentado o disco/performance «Infantry», Meira Asher regressa em 2005 com o espectáculo (estreado o ano passado em Gent) o disco «Face_WSLOT – Woman See [sic] Lot of Things», que apresenta nesta ocasião. Prestes a ser lançado em formato CD+Livro, tratam-se de de 17 composições criadas a partir de «vozes, histórias e ambientes sonoros» de três mulheres, ex-soldados, que combateram, ainda crianças, na Serra Leoa. O livro contextualiza o «background» e as perspectivas de vários autores sobre o assunto, incluindo ainda depoimentos destas mulheres e documentação acerca da parte do projecto respeitante à instalação. Os lucros provenientes da venda deste lançamento irão directamente para apoio educativo de terceiro grau para mulheres da Serra Leoa.A ZDB dedica este concerto a Fernando Magalhães e ao seu trabalho.
‘ The artists would like to express their heartfelt sorrow at the loss of this precious man. ‘Entrada: 10 €
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Sexta-feira dia 11 Novembro às 23h00
Indie_Icon_Sessions
LOU BARLOWLou Barlow
Figura maior do indie-rock, dos tempos idos (e recentemente reavivados) dos Dinosaur Jr., passando pela época de ouro da canção lo-fi norte-americana com os Sebadoh, até ao seu actual percurso a solo, Lou Barlow é das vozes mais importantes de toda uma geração introvertida.
Em canções oblíquas, desabafos de frustração tornada glória de quarto de dormir, o cancioneiro de Barlow lê-se como um diário íntimo em palavras e distorção. Vem à Galeria Zé dos Bois apresentar «Emoh», editado este ano pela Merge, na primeira vez em que realiza datas em Portugal.
«Emoh» é porventura o álbum mais conseguido de Barlow já no seu estatuto de «singer-songwriter» amadurecido, que realizou após o desaparecimento dos Sebadoh e dos Folk Implosion originais. A alta fidelidade estranha-se pelo passado ruidoso da sua música, mas só serve para sublinhar a simplicidade e consistência das composições, aqui quase invariavelmente delicodoces, possuídas por um pesar que só é atingível por quem se conseguiu colocar do lado da lucidez emocional. Por entre a dolência passa tudo, da sátira religiosa de «Mary» («Immaculate conception/Yeah, right»), a uma versão do clássico «hair metal» «Round-n-Round» dos RATT, até uma ode ao seu gato («The Ballad of Daykitty»).
A compulsividade de Barlow a escrever canções já há muito que se tornou um movimento perfeitamente normal no seu dia-a-dia. Um mecanismo de hábito e arte, que o permite condensar tanto as maiores dúvidas quanto as mais singelas trivialidades. «Emoh» surpreende e revitaliza toda a sua obra, provando que Lou Barlow ainda vai conseguindo aperfeiçoar, todos estes anos depois, a sua expressão pública.Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 12 Novembro às 23h00
Drone_on_Sessions
WINDY & CARL
Windy & Carl
Dos mais bem guardados segredos da arte independente americana do ultimo par de décadas, o duo Windy & Carl edificou um pioneiro e único corpo de trabalho dentro do drone mais espacial, cósmico e livre, em guitarra, baixo e voz.
A par com projectos que marcaram todos os anos 90 do underground ligado à abstracção e ao etéreo, como os Stars Of The Lid, Füxa, Labradford, Magnog, Charalambides ou Roy Montgomery, os Windy & Carl criaram o som que só é passado aos filhos das estrelas. Camadas e camadas de delay estratosférico na guitarra de Carl, ritmo invisível e a voz de via láctea de Windy, puseram miúdos e miúdas de olhos a brilhar pelas cidades e subúrbios do Ocidente, com os seus hinos à abstracção e a tudo o que soa, em amor, para lá das palavras.
Com o seu primeiro disco de longa-duração, o clássico esquecido «Drawing of Sound», os Windy & Carl iniciaram – de uma forma mais pública que os anteriores lançamentos em 7” e cassettes – um percurso que iria unir diferentes casas de edição, ligadas ao «space-rock» e ao drone etéreo, casos da Kranky ou da Ochre. Preencheram páginas e páginas na Ptolemaic Terrascope (e, desde a fundação da central mundial para esta música, o Terrastock Festival, têm tocado nesse evento todos os anos), ajudaram a resgatar os Silver Apples do seu buraco negro, e influenciaram, de forma massiva, bandas como os Landing ou os Auburn Lull, e a quase totalidade de catálogos como os da Darla ou Temporary Residence, bem como a recente reciclagem, feita a meias com a estética do que se designou nomear por IDM, desta corrente sonora estratosférica.
Depois do mais longo hiato editorial na sua carreira, quatro anos volvidos após o lançamento de «Consciousness», o seu último registo saído em 2001, os Windy & Carl, após terem visto todos os seus singles, outtakes relevantes, participações em compilações e outras pérolas perdidas que tais serem reeditadas no triplo «Introspection» em 2003, regressam aos discos de originais novamente pela mão da Kranky, com «The Dream House/Dedications To Flea».
Um duplo EP constituído pelas duas peças titulares, uma dedicada à falecida mãe de Windy, e a outra dedicada ao também falecido cão do casal. Com absoluta serenidade e o coração que se lhes conhece, edificam um par de obras elegíacas que retomam o trabalho que, por via destes desaparecimentos, havia causado a sua paragem criativa, para assim a retomarem, tão livres e brilhantes quanto sempre.Discografia seleccionada:
«Drawing Of Sound» (Icon/Blue Flea, 1996)
«Antartica» 12” (Darla Bliss-Out Series, 1997)
«Depths» (Kranky, 1998)
«The Dream House/Dedications To Flea» (Kranky, 2005)Entrada: 7.5 €
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Quinta-feira dia 17 Novembro às 23h00
Toymusic_and_Improv_Sessions
MÜNCHEN (PT)
AGNES PALLER
OLIVER TOULEMONDE
ZERN
München
Banda/pequena orquestra lisboeta, os München pegam no trabalho fundador dos Penguin Café Orchestra para o tingirem com a sua muito própria lírica, que tanto tem de lúdico como de melancólico.
Instrumentos de cordas, acordeão e jogos de sinos são alguns dos meios encontrados para veicular esta música de pessoas-soldadinhos-de-chumbo, em permanente estado encantatório e onírico, que soa como contos do domínio do maravilhoso a serem desenhados.
Depois de uma maqueta lançada há já algum tempo, basta-nos ouvir «Köln», na compilação «…Can Take You Anywhere You Want», comemorativa dos cinco anos do selo nortenho da Bor Land, para percebermos o tesouro que aqui se começa a abrir.Entrada: 5 €
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Sexta-feira dia 18 Novembro às 23h00
Free_Spirit_Sessions
SAMARA LUBELSKI
P.G. SIX
Samara Lubelski
Figura de criatividade e produtividade notáveis no underground novaiorquino há mais de uma década, Samara Lubelski vem à ZDB apresentar o seu novo álbum, «Spectacular Of Passages», editado pela Social Registry (a editora que ultimamente nos trouxe, entre outros, os Gang Gang Dance).
Trilhando caminho há já vários anos pelo percurso cósmico-telúrico dos Tower Recordings (ao lado de Matt Valentine, P.G. Six, Erika Elder, Helen Rush ou Dean Roberts), Lubelski já pertenceu a outras celebradas plataformas de exploração sobre a canção norte-americana primitiva, caso dos Hall Of Fame ou Sonora Pine, para além de ser colabodora do colectivo alemão de psicadélia Metabolismus.
O seu álbum de 1997, «In The Valley», inicialmente editado pela Child of the Microtones e reeditado este ano pela Eclipse, é uma notável aglomeração de explorações espaciais a partir de violino, electrónica analógica, voz e guitarra, que une Tony Conrad, a Klaus Schulze e Linda Perhacs.
Depois de no ano passado ter editado o aplaudido «The Fleeting Skies», testamento à canção discreta de mil cores, onde o seu profundo conhecimento de música psicadélica e da história da canção desconstrutivista saltaram à vista, regressa agora em Novembro com o supramencionado novo registo.
Os fabulosos arranjos, guitarras intricadas e dimensão orquestral aprimoram-se ainda mais em «Spectacular of Passages». Contando nas fileiras com exemplares instrumentistas da Nova Iorque livre do novo milénio (Matt Heyner, da No-Neck Blues Band e improvisador cotadíssimo; Tim Barnes, dos mais activos e criativos percussionistas da última década; ou o próprio P.G. Six), a riqueza harmonica e tímbrica, bem como todo o cuidado com o detalhe de Lubelski na produção do álbum permitem-lhe novas alturas de pensamento e execução, nestas pequenas «big bands» de canção que orienta. Se se procuram referências, pense-se nos reeditados trabalhos de Judee Sill, na Grace Slick pré-Jefferson Airplane, cordas e guitarras pós-«Bryter Later» de Nick Drake ou na Nico de «Chelsea Girl», mas a voz criativa é tão demarcadamente sua quanto contemporânea.Para além de uma atarefada carreira enquanto compositora e instrumentista, é também das mais requisitadas produtoras e engenheiras de som da Nova Iorque (recentemente trabalhou com nomes como Animal Collective, Black Dice, Double Leopards, White Magic ou Magik Markers). Filha de pais artistas, viveu toda a sua vida na Big Apple em bairros como o Soho (quando ainda parecia Beirute), East Village ou no Lower East Side. Estamos portanto na presença de uma nova-iorquina por excelência, imersa em arte por todos os lados desde o seu primeiro dia.
P.G. Six
Dos pioneiros na continuação do trabalho sobre a matriz da canção americana primitiva livre, contaminada por outros dialectos de «songbooks» intercontinentais patenteada nas peças de magos como Dredd Foole ou Bobb Trimble, P.G. Six (Patrick Gubler), depois do seu trabalho nos Tower Recordings, é hoje detentor de dois dos mais notáveis discos da nova canção americana do séc. XXI.
Quer «Parlour Tricks And Porch Favourites» quer «The Well of Memory» são tratados, realizados com mestria, que assentam sobre as bases da música cósmica encantatória de artistas psicadélicos passados, canções da estrada (apanhá-lo a cantar «High, Low & In Between» de Townes Van Zandt não é acontecimento raro), música medieval (sem facilitismos, repescada e retrabalhada com toda a propriedade do mundo) e um respeito tremendo pelas características hipnóticas da ressonância do som eléctrico e acústico.
Guitarrista e vocalista exemplar, encontra dinâmicas harmónicas várias para cada uma das suas peças, aperfeiçoando cada vez mais o seu muito próprio discurso em canção e exploração sonora. O seu próximo disco, ainda sem data, sairá pela Drag City, e deverá trazer a primeira consagração (apesar da presença de «The Well of Memory» do Top 10 de discos da Wire do ano passado) que Gulber, há muito tempo, já vai merecendo.Entrada: 7.5 €
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Sábado dia 19 Novembro às 23h00
ZDBeatnik_Sessions
TORA TORA BIG BANDDoze músicos de várias nacionalidades juntaram-se numa big band, sobretudo para darem a volta a tradições e devolverem a música à dança, têm praticamente pronto o disco de estreia e vão estar na Zé dos Bois mais uma vez, no dia 19 de Novembro: são os Tora Tora e tocam música para dançar; uma ideia que tem vindo progressivamente a desapareçer na música das muitas Big Bands e, de certa forma, na maioria dos estilos modernos. Nos dias de hoje a maior parte destas formações concentra-se sobretudo em fazer música tradicional, copiando estilos esgotados e plenamente difundidos, por isso mesmo, os Tora Tora escolheram um outro caminho: sobretudo nos arranjos podem ouvir-se estilos que hoje são possíveis dançar, ligando esta sonoridade ao Jazz, à Música Popular e à Música do Mundo, com particular ênfase nos ritmos africanos.
Em 2000 o trompetista, arranjador e compositor alemão Johannes Krieger decide estabelecer-se em Portugal e passar a viver exclusivamente da música, nessa altura junta-se a Lars, um outro músico que também escolhe Lisboa como destino depois de concluir os seus estudos musicais na Holanda. Trabalham juntos numa banda de animação (a “Orquestrinha da Pena”) dessas experiências surge a ideia de formar uma Big Band para tocar música para dançar.
No período de convites a outros músicos conhecem o talento do baixista dos Terrakota, o italiano Francesco Valente; um pouco mais tarde entra Hugo Menezes, percussionista dos Cool Hipnoise e, no acaso de uma substituição num concerto, convidam também “Júnior”, cantor, percussionista, guitarrista nos Terrakota. Composta a secção rítmica, faltava procurar os sopros. Depois de algumas mudanças de formação chega-se finalmente a um naipe consistente: o dinamarquês Claus Nymark, que assume o trombone muito do estilo jazz da banda; o trompetista brasileiro Miguel Gonçalves, que com a sua técnica brilhante principalmente nos agudos, é responsável por elevar a ambição e as perspectivas desta formação que também é composta por PeterWetherill, trombonista americano, que chega a Portugal na mesma altura que Lars; pelo brasileiro Guto Lucena, um excelente executante de todos os saxofones e também um bom flautista; e finalmente o austríaco Timo Alexander – um grande talento no saxofone tenor e clarinete baixo, que cumpre como ninguém a função de enriquecimento de todo o naipe de sopros.Entrada: 6€
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Terça- feira dia 22 de Novembro às 23h00
Pancontinental_Sessions
BARBEZ
LUPANAR
Barbez
Das mais activas e rodadas bandas na Nova Iorque e Brooklyn dos últimos anos, os Barbez edificaram uma alta reputação no que a concertos concerne, enchendo espaços do Tonic ao Northsix, dividindo palcos com Devendra Banhart, Godspeed You! Black Emperor ou Cat Power.
Figuras de proa do designado punk-cabaret, ao lado dos Gogol Bordello, Sleepy Time Gorilla Museum e Dresden Dolls, os Barbez editaram este ano o seu segundo álbum, «Insignificance», pela Important Records.
Entre pontos de referências e influências assumidas, os Barbez entrecruzam o «songbook» Brecht/Eisler, Alfred Schnittke, Satie, Swans (principalmente o seu lado mais feminino, pontificado pelas canções de Jarboe), música das balcãs, klezmer, até músicas tradicionais russas (cantadas pela carismática vocalista Ksenia Vidyaykina).
Os seus músicos são de produtividade e engenho reconhecidos. A título de exemplo, a tocadora de theremine Pamelia Kurstin (de quem Bob Moog disse ser “a melhor música viva do mundo” no instrumento), recentemente convidada por John Zorn, a par com Dan Kaufman, o guitarrista do grupo, a lançar um disco na sua Tzadik. A banda e os seus elementos já colaboraram com uma miríade de artistas: de David Byrne a Brian Eno, Marc Ribot, Secret Chiefs, The Lonesome Organist, Air ou Cibo Matto.
Uma música pancontinental, feita da aglomeração de trota mundos de lírica local vincada, que começa a caminhar para uma aceitação proveniente da aglutinação de todos estes públicos e cultura, que se adivinha cada vez mais natural. A Nova Iorque do «melting pot» em movimento.
Lupanar
Em ano de disco de estreia, com o lançamento de «Abertura» em edição de autor, a banda materializa a sua música boémia e literária, que a tantas raízes lusas vai buscar, sempre com carisma e atitude, em registo discográfico, quatro primaveras volvidas desde a fundação do grupo.
Pelos absurdismos neo-surrealistas e pelas deambulações vocais, recordam os Mler Ife Dada e Anabela Duarte – na voz, ainda trazem à mente os graves e expressividade de Fátima Miranda. Fundindo vários idiomas, da música folclórica, ao bop, a uma canção cabaret que abraça a dissonância, vão referenciando, de forma mais ou menos clara, projectos como os Gaiteiros de Lisboa ou o dada-tuga dos Coty Cream.
As letras caminham, por entre acordeões e intricadas cadências rítmicas e harmónicas, pelo lúdico e por uma melancolia tradicionalmente lisboeta. Alvo de cada vez mais atenção e difusão na música nacional, os Lupanar estreiam-se nesta ocasião na ZDB.****************************************************************************
Sexta-feira dia 25 Novembro às 23h00
Avant_Sessions
TELECTU
Telectu
Duo constituído por Vítor Rua e Jorge Lima Barreto, os Telectu possuem uma carreira que percorre mais de duas décadas de experimentação, exploração e pensamento aberto em música livre.
Num corpo de trabalho de alta importância, particularmente no panorama nacional, intersectam-se com tangentes da designada música contemporânea, improvisação de travo continental e trabalho electroacústico.
Para além de uma extensíssima carreira dentro e fora do som, os Telectu possuem também um longo currículo pluridisciplinar, trabalhando nas mais diversas áreas e plataformas artísticas.Entrada: 6 €
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Quarta-feira dia 30 Novembro às 23h00
Avant Rock Sessions
LOOSERS
MOUTHUS
Loosers
Fulcral banda de Lisboa no seu primeiro concerto desde o lançamento do álbum de estreia «For-All-The-Round-Suns» pela Ruby Red. Aglomerando múltiplas influências e pistas de várias tradições de música livre, dos Sun City Girls aos Throbbing Gristle, da No-Neck Blues Band aos This Heat, os Loosers tornaram-se rapidamente das melhores coisas na história da música urbana nacional, marcando toda uma geração de público e músicos em Portugal. Tiago Miranda, Rui Dâmaso e Zé Miguel, tanto ao vivo quanto em disco, têm vindo a protagonizar um trilho em iguais partes catártico e original, que parece dar expressão uma Lisboa metafísica em chamas, de calçada assombrada e espectros ressurectos.
Iniciam uma digressão europeia de três semanas com esta data na Galeria Zé dos Bois, num trajecto que os levará a partilhar palcos com artistas como David Thomas ou Supersilent.
Mouthus
Das mais transgressoras entidades criativas em som a sair da vanguarda novaiorquina do novo século, os Mouthus efectuam o seu primeiro concerto em solo europeu nesta ocasião.
Ao lado de projectos como os Double Leopards, Black Dice ou Sightings, trabalham o som propriamente dito a partir de uma tabula rasa, imaginando e pragmatizando novos universos de dimensão acústica e expressão livre, desenhando toda a sua música, em todas as frentes, de raiz.
Duo de guitarra eléctrica e bateria, produzem autênticos vendavais oblíquos, plenos de percussão angular a sair de uma bateria animal, a alinhar arritmias e estranhos tribalismos com uma guitarra que parece, em si mesma, conter a destruição de toda a história do rock, esmigalhando-o em milhões de pedaços. Acabam de editar o seu segundo álbum, «Slow Globes», pela Troubleman Unlimited. A voz, fantasmagórica, encaixa num som difuso que se assemelha a avançados estados de torpeza, cansaço e electricidade urbana, imersa no magnetismo encantatória do subsolo novaiorquino.
Trazem consigo a aura, o excesso, o caos e a livre estrutura da cidade grande, carregando as profundas até à superfície, para que a possamos ver materializadaEntrada: 7.5 €
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Sabado dia 3 Dezembro às 23h00
Free_Geometry_Sessions
ORQUESTRA VGO
A música produzida pela Orquestra da Geometria Variável resulta do jogo do material acústico versus o electrónico, numa contínua busca de pequenos detalhes e significados – o som rompe do silêncio para nele voltar a megulhar…
Com esta organização formal do caos, tenta-se aplicar novos conceitos de indeterminação e composição instantânea, através da erupção assimetricamente alternada de momentos de som e silêncio (ausência de som identificável) com predominância para estes últimos, seja pela emissão de sons de características subliminares e psico-acústicas, seja pela completa ausência de sons, permitindo assim aos músicos recuperar o seu ritmo natural de respiração e sentido aleatório de pulsação, bem como escutar toda a espécie de acontecimentos sonoros que estejam a ocorrer nesse preciso momento no espaço envolvente, ou então “simplesmente” escutar o que outro músico tenha começado, entretanto, a fazer, sem a preocupação de responder imediatamente e assim encher de forma inútil o espaço sonoro.Ernesto Rodrigues – violino, viola, direcção de orquestra
Pedro Costa – violino
Guilherme Rodrigues – violoncelo
Hernâni Faustino – contrabaixo
Sei Miguel – trompete
Marco Franco – saxofone soprano
Nuno Torres – saxofone alto
Helena Ornelas – saxofone tenor
Rui Horta Santos – saxofone tenor
Bruno Parrinha – clarinete, clarinete alto
Manuel Mota – guitarra eléctrica
Ivan Cabral – didgeridoo
Carlos Santos – electrónica
João Silva – gravações de campo, caixa de ruído
Plan – gira-discos
Jorge Trindade – fita magnética
Miguel Martins – vibrafone
César Burago – percussão
José Oliveira – bateria, guitarra acústicaErnesto Rodrigues (direcção)
Violinista / violista de formação clássica e interesses que vão da música contemporânea (é um habitual frequentador dos seminários de Emmanuel Nunes) ao free jazz e à livre-improvisação, Ernesto Rodrigues tem protagonizado uma abordagem reducionista e de «near silence» em que a nota é substituída pelo som puro (ou pelo ruído) e a estrutura pelas texturas, com deflagração dos fraseados em elementos atomizados, quase total desaparição dos três factores essenciais da musicalidade convencional (melodia, harmonia e ritmo) e utilização de microtons ou total atonalidade.Entrada: 5 €
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Quarta-feira dia 7 Dezembro às 23h00
Rock’n’Roll Sessions
THE HOSPITALS
IF LUCY FELL
The Hospitals
Imparável duo de rock’n’roll absolutamente explosivo e ruidoso, os Hospitals lançaram este ano o delirante «I’ve Visited The Land of Jocks and Jazz», na Load Records (Lightning Bolt, Sightings, Arab On Radar), após a edição do seu primeiro disco ter ocorrido na emblemática In The Red.
Descendentes directos do rock mais estrambólico e avariado, seja o dos Monks, Electric Eels, The Homosexuals, Harry Pussy ou dos Comets On Fire do primeiro álbum, são guitarra, voz e bateria que transcendem as muralhas habituais desta música, com exploração de ruído dentro de estruturas composicionais igualmente fragmentadas e hiperactivas, em tensão constante. As canções acabam por funcionar como mini-suites de vários fragmentos, constituídas por uma métrica rock de enorme amplitude expressiva, também graças à fantástica produção de Chris Woodhouse, que encontra estranhas lógicas internas de ecos «vintage», oferecendo cores e silhuetas exageradas que estranhamente se adequao ao corpo de som do álbum.
Não interferindo guturalmente na matriz do rock mais transviado e mutante, mas na do rock mais puro, os Hospitals parecem prometer um novo tipo de suor para o novo século. Resta saber a que é que sabe.
If Lucy Fell
Nascidos das cinzas de bandas como os Side, As Good As Dead, Shoal ou Heiikin, o trio inicial dos If Lucy Fell, constituído por Rui (guitarra), Hélio (bateria) e Gaza (baixo) viu-se um quarteto, tendo como elemento final o vocalista Makoto, que se tornou parte do grupo em Setembro de 2004.
Após uma demo de cinco faixas, os If Lucy Fell preparam-se para lançar o novo «You Make Me Nervous» (em Portugal pela Rastilho, na britânica Lockjaw para o resto do mundo), do qual nos passaram um par de faixas.
A julgar por elas, estamos perante uma das mais intensas e criativas unidades a sair do hardcore nacional em muito tempo. Enquanto nomes como At The Drive In ou uns Sunny Day Real Estate sempre no limite nos passam pela cabeça, a banda fala-nos em Converge, Blood Brothers, Botch ou These Arms Are Snakes, em rock e até em afrobeat. Se não descortinamos esta última influência no som, é sintomático (e positivo, porque mostra abertura) que a banda veja os ritmos que Fela Kuti envagelizou como um tonificador para a música que fazem. Com a secção rítmica sempre a alinhar contra-intuitivismos em tensão máxima, a guitarra a malhar em «riffs» dolentes, a voz de Makoto berra com balanço e fúria, propulsionando todos os encaixes rítmicos e emocionais da música na única direcção possível – em frente.
Adeptos do rock, do novo e do velho hardcore, vão-se em breve ver obrigados a assistir a este quarteto pisar pelos palcos do país, portanto se calhar mais vale começar agora.Entrada: 7.5 €
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Sexta dia 9 Dezembro às 23h00
Freeform_Sessions
ORGAN EYE
BRAÇO
Organ Eye
Sediados em lados do mundo praticamente opostos, os Organ Eye são um trio à distância, severamente encurtada nesta ocasião, entre o português David Maranha (Osso Exótico) e os australianos Minit, de Jasmine Guffond e Torben Tilly.
Projecto que se começou a desenhar depois dos músicos travarem conhecimento pessoal há aproximadamente um ano, os Organ Eye apresentam aqui um trabalho que já nos chegou às mãos, ainda em forma de «rough cut».
Trabalhando principalmente nos titulares órgãos (Maranha, por exemplo, empunha um Hammond), os Organ Eye constróem estruturas abertas, de carácter hipnótico, governadas dentro de um virtual espaço cromático limítrofe. Desenham linhas melódicas circulares que se repetem, de textura rugosa, que se intersectam e entrecruzam a três vozes. Vêm à memória obras de Terry Riley como «A Rainbow In Curved Air» ou «Poppy Nogood», ou os Ashra (de Manuel Göttsching e Klaus Schulze) de «New Age of Earth» a passarem por um pedal de fuzz.
A maior parte da acção foca-se em frequências médias e agudas, num «trip out» que encerra em linhas melódicas quase rock, a lembrar os teclados sangrentos dos melhores Spacemen 3.
Braço
Projecto de Afonso Simões (Phoebus, Fish & Sheep) e Pedro Gomes (CAVEIRA), os Braço utilizam uma panóplia de objectos recontextualizados e instrumentos, das mais variadas percussões, a sopros ou a um «steel drum». Principalmente focados na exploração e desconstrução de pecurssão polirrítmica partilhada, muito do seu som é amplificado por microfones e processado por pedais de efeitos.
O resultado final é totalmente improvisado, seco e angular, remontando a alguns ecos dos primeiros discos da No-Neck Blues Band, e aos momentos mais fragmentados de bandas como os This Heat, Skaters, Dead C ou Swell Maps. Dissertações compenetradas e descomprometidas em som, numa colaboração que remonta, nas mais variadas plataformas, há mais de sete anos.Entrada: 6 €
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Sexta-feira dia 16 Dezembro às 23h00
ZDBeatnik_Sessions
ANONIMA NUVOLARIAnónima Nuvolari é constituída por um grupo de músicos italianos residentes em Portugal e provenientes de diferentes experiências musicais, os quais se juntaram com o objectivo comum da recuperação e valorização do património musical italiano na sua vertente mais alegre e dinâmica.
O conjunto é constituído por cinco músicos (acordeão e voz, guitarra e voz, sax soprano, contrabaixo, percussão). A particular constituição do conjunto permite actuações acústicas, oferencendo liberdade de movimentos aos músicos, armados com o seu espírito boémio.
O repertório proposto pela Anónima Nuvolari afunda as suas raízes na música popular e consiste numa viagem através dos últimos 50 anos da canção italiana: tendo como ponto de partida o Maestro napolitano Renato Carosone, passa-se por referências como Fred Buscaglione ou Adriano Celentano, para chegar até autores contemporâneos entre os quais estão Paolo Conte e Vinicio Capossela, mantendo contudo uma continuidade artística baseada numa interpretação cheia de genuinidade e generosidade.Entrada: 5 €
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Sábado dia 17 Dezembro às 23h00
ZDBeatnik_Sessions
CHUCHURUMEL
KIMI DJABATÉ
Chuchurumel
”Após dois anos de trabalho, Chuchurumel edita o seu primeiro disco, no castelo de Chuchurumel, que apresenta temas da tradição popular portuguesa (nomeadamente do distrito da Guarda) e composições originais. Alguns dos temas gravados no castelo de Chuchurumel foram recolhidos por José Franco e publicados na revista “Altitude”, nos inícios da década de 40 do século passado: Canção da Ceifa (Gonçalo, Guarda); Aninhas (Sobral da Serra, Guarda); Cantilena de pedreiro (Barreira, Mêda); outros remetem para universos sonoros marcantes (os bombos da festa dos Montes, Trancoso), para a voz única de algumas informantes (Júlia Fonseca e Maria Augusta Moleira) ou para relatos singulares (relato de Lúcia Jorge a propósito dos trabalhos do linho). O disco inclui também uma canção única: trata-se de “Se soenes crunhe penhar”, a única canção com letra elaborada na gíria de Quadrazais (Sabugal). Trata-se de uma gíria usada pelos antigos contrabandistas e que hoje está praticamente esquecida.
No castelo de Chuchurumel, misturam-se instrumentos convencionais (percussões, gaita-de-foles, concertina, piano, ocarina, viola, bandolim), com instrumentos simples (pedras, paus), com outros construídos por César Prata e com programações.
Para além da questão estética, Chuchurumel teve preocupações de ordem ecológica ao optar por embalar o seu primeiro trabalho discográfico em bolsas de tecido, que são confeccionadas manualmente (!!!), fazendo do disco, para além de um objecto sonoro, um objecto de artesanato. Belíssimas costureiras confeccionaram para nós as bolsas que são peças únicas, porque irrepetíveis (muitas bolsas são feitas em desperdícios de tecidos com dezenas de anos!). Assim, decidimos usar apenas desperdícios de tecidos e não usámos papel nem plástico, podendo a ficha técnica ser consultada nesta página (quem quiser pode guardá-la no seu computador ou imprimi-la).” in http://www.chuchurumel.com/
Kimi Djabaté
Música Afro-Mandinga Beat de Guiné Bissau. Kimi Djabate que nasceu na aldeia Tabato (aldeia de comunidade de músicos) onde inicia a aprendizagem no Balafon aos 8 anos de idade com o seu pai Braima Djabate.
Entre 1987 e 1990 estudou música no Instituto Nacional das Artes da Guiné Bissau e integrou o Ballet Nacional da Guiné Bissau. A partir de 1990 integra vários grupos na Guiné como compositor e letrista.
Chega a Portugal em 1996. Colaborou com Mori Kante, Valdemar Bastos, Manecas Costa, Guto Pires, Netos do N’gumbé e João Afonso.
Kimi Djabate Balafon e voz + Mamadi Djabate BalafonEntrada: 5 €
EXTRA !! EXTRA !!
Pela mão da zdbmuzique os Mouthus e os Loosers andam pela Europa numa digressão que passará por Espanha, Itália, Suiça, Bélgica, Alemanha, Holanda e França.****************************************************************************
Quarta-feira dia 21 Dezembro às 22h00
O_amigo_de_Lisboa_Sessions
MOUSERS (MOUTHUS + LOOSERS)
Regresso a Lisboa, em data sugerida pelas bandas à última da hora, para terminar a digressão europeia de três semanas dos Loosers e dos Mouthus, que os fez passar por vários palcos de França, Holanda, Espanha, Bélgica e Alemanha, Lisboa, Porto, Famalicão e Coimbra.
Encerrando este empreendimento pioneiro na história do rock desconstrucionista nacional, os Loosers e os Mouthus vão dar um concerto único, em modo ensemble, enquanto Mousers, novo acrescento ao eixo Lisboa-Brooklyn desta semana.
É aparecer para a festa, como ver um círculo a fechar e voltar ao início.Entrada: 5 €
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Quinta-feira dia 22 Dezembro às 23h00
Tuga_Beat_Sessions
ROCKY MARSIANO
CAMARÃO & DK
Rocky Marsiano
Figura constante na história do hip-hop português tanto enquanto MC como produtor, desde a participação em «Rapública» até co-responsável pela Loop Recordings, passando pelos Micro ou os Mentes Conscientes, D-Mars mandou cá para for a este ano «Pyramid Sessions», o seu primeiro álbum de instrumentais, e a estreia enquanto Rocky Marsiano, novo alter-ego.
Se o hip hop é dos expressões «en masse» mais importantes da música negra do século XX, e se desde há muito que o jazz é parte integrante, enquanto universo estético e de referencialidade do hip hop, também não deixa de ser verdade que o uso do jazz enquanto linguagem municiadora de «beats» tem decaído em quantidade. Dos tempos imediatamente posteriors ao fast rap, caso dos mais mediatizados e marcantes A Tribe Called Quest ou Guru, que, talvez também pela sobredosagem do quoficiente jazz para samples, que o jazz enquanto material prima se tem afesta desta linguagem, por mais que «Shades of Blue» de Madlib tenha sido um passo importante de indústria (falhado para uns, triunfo criativo para outros).
O que Rocky Marsiano faz é uma modernização dessa tradição, para cadências, produção e sensibilidades de 2005, delineada por um percurso «sui generis» bastante particular, neste campo, aos «crate diggers» dedicados. Como a própria Loop afirma, “uma história que D-Mars foi descobrindo de uma forma pessoal, não com a linearidade académica sugerida em estudos sobre o género, mas com o carácter imprevisível e aleatório de quem aborda a música ao sabor das descobertas em lojas onde os discos procuram novos donos”.
Reverenciando, referenciando e reinventando, D-Mars pega em Basie, Ellington, Armstrong, Gillespie, Hawkins, Hancock; em pianos, metais e sopros, vibrafone escolhidos a dedo, com particular apreço pelo sedoso; contando com a ajuda do celebrado saxofonista Rodrigo Amado, do produtor e «scratcher» luso Nell Assassin, da guitarra jazzificada pelo bop de T One (Mr. Lizard), e pela voz de «D-Fine».
Nunca perdendo o amor pelo groove no baixo e na batida, Rocky Marsiano edifica um dos maiores triunfos da cronologia do hip hop nacional.
Nesta apresentação ao vivo virá acompanhado por Rodrigo Amado (saxofone), André Fernandes (guitarra) e DJ Ride (prata).
Camarão & DK
Camarão apresenta-se ao vivo na ZDB com DK. Ficam as sábias palavras do press release da Loop sobre o seu «The Remixes», que ilustram exemplarmente o que se pode esperar da música de Alexandre Camarão em 2005:“A velha máxima que nos indica que por vezes é mesmo necessário dar um passo atrás antes de avançarmos dois passos em frente assume especial relevância durante a audição de “The Remixes”, estreia de Camarão em nome próprio para a Loop:Recordings. Porque qualquer músico sabe ser impossível reinventar o futuro sem lançar um olhar clínico sobre o passado, Alexandre Camarão voltou-se para o legado do passado que melhor o define a si mesmo como músico – a sua colecção de discos! Entender uma colecção de discos – que além de um depósito de música é também, e talvez isso importe mais, um catálogo de experiências – como ponto de partida para a criação de novos objectos musicais é algo a que, por exemplo, o hip hop já nos habituou através da sua estratégia abrangente de sampling. Noutros géneros de música conotados com a modernidade electrónica ou com o espírito de clubbing a citação ao passado fez-se sempre muito mais de forma exclusiva do que inclusiva – sampla-se normalmente o que é relevante para cada momento: o disco, o funk, o afro-beat ou a enorme paleta de texturas da música brasileira. E tudo o resto, o que não é funcional, é normalmente arredado em nome de um fundamentalismo estético que justifica sempre o momento presente. Mas Alexandre Camarão não adoptou essa atitude. Preferiu encarar a sua colecção de discos como uma lista enorme de possibilidades e o resultado é uma vigorosa viagem ao futuro definida precisamente por coordenadas arrancadas ao passado. Talvez por isso se leiam, na lista de dedicações do álbum, nomes como os de Alice Coltrane, Balanescu Quartet, Fela Kuti, Deodato, Les Rita Mitsouko, Inner Life, Marc Moulin, Né Ladeiras, Phlip Glass, Stevie Wonder, Salsoul Orchestra ou Underground Resistance.
Uma vez mais, “The Remixes” é o resultado do trabalho solitário de um músico, no caso específico em frente ao seu Mac. Talvez devido ao facto de Alexandre Camarão ser igualmente um artista plástico (é a sua arte que adorna a capa deste novo álbum), o seu disco resulte de um consciente processo de colagem de inúmeros fragmentos a que se foram adicionando nalguns momentos os inputs de músicos e vocalistas convidados como André Fernandes, Francisco Rebelo, Melo D, Kalaf, Marta Hugon ou Joana Ruival, entre outros. E o que se obtém depois é uma visão impressionista da música, em que só a distância confere sentido à enorme manta de retalhos sonoros que cada canção revela ser quando observada sob a sua forma gráfica no monitor de um computador. E no caso concreto da carreira musical de Alexandre Camarão, essa é provavelmente a grande novidade aqui. Em momentos anteriores da sua discografia, nomeadamente no álbum “Electric Sul” que gravou e editou pela Nylon como Shrimp, o pulsar era mais nitidamente electrónico. Em “The Remixes”, à falta de melhor definição, tudo é muito mais orgânico – como se cada excerto adoptado já trouxesse a implicação do próximo, como se tudo se interligasse ao ponto de pensarmos que é aqui, nas dozes faixas de “The Remixes”, que todos estes átomos de som se criaram pela primeira vez.
Alexandre Camarão remistura a sua colecção de discos e reinventa um futuro só seu. A soul está presente, tal como o hip hop e o funk e o jazz e o carácter cósmico da electrónica mais explorativa e a sofisticação de muitos exercícios de música contemporânea e… algo novo de indefinível.” in http://www.looprecordings.com/
Entrada: 8 €
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Domingo dia 25 Dezembro às 23h00
Fuck_Christmas_Sessions
THE LEGENDARY TIGERMANProveniente das cinzas da mais mítica banda rock nacional da década de 90, os Tédio Boys, Paulo Furtado tem-se afirmado, ao longo dos anos subsequentes ao terminus do grupo de Coimbra, como uma das figuras mais emblemáticas, visíveis e aclamadas da música portuguesa, através dos Wray Gunn e deste, o seu projecto de «one man band», o alter-ego The Legendary Tiger Man.
Com três álbuns já editados («Fuck Christmas I Got The Blues», de 2003, «Naked Blues, de 2002 e «In Cold Blood – A Sangue Frio» em colaboração com o fotógrafo Pedro Medeiros), Furtado continua aqui a dar continuidade a um evento que já se tornou tradição. Esta actuação do Legendary Tiger Man na Galeria Zé dos Bois ser-lhe-á entregue, pelo quarto ano consecutivo, na noite de Natal, dia 25 de Dezembro. Furtado, orquestra de um homem só ao bom estilo de Bog Log III (com quem já partilhou palcos além fronteiras), encontrou um Mondego da mente que desagua no Mississipi Delta, rio de mágoa onde Johnny Cash, John Lee Hooker, Robert Johnson e Charlie Feathers um dia beberam. Com a forte crença que os «blues» não conhecem países nem continentes, Furtado oferece-se aos que escolherem atender à ZDB para ser um muito especial Pai Natal do rock, sem renas, com um vazio saco de prendas onde cabem todas as suas mágoas e descarga eléctrica.Entrada: 7.5 €
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Quinta-Feira dia 29 Dezembro às 23h00
Free_Noise_Song_Sessions
METALUX
TROPA MACACAMetalux
Em ano da edição do seu sexto álbum – «Victim of Space», estreia pelo selo centrão indie da 5 Rue Christine -, as Metalux dão os seus primeiros concertos em solo europeu nesta digressão que passa pelo palco da ZDB.
Duo de M.V. Cärbon e V. Graf, as Metalux nascem das cinzas do quarteto Bride of No No, que reesquematizaram a no-wave nos anos 90 para sensibilidades e formas (então) contemporâneas. Já com seis discos lançados, em editoras como a Load (Lightning Bolt, Sightings, Hospitals, Arab On Radar, Prurient, etc.) ou a Hanson (Wolf Eyes, Kevin Drumm ou Aaron Dilloway), e splits partilhados com artistas como Wolf Eyes ou Evil Moisture, a banda começa a chegar-se à proa da electrónica livre norte-americana de forma discreta.
Utilizando amps a válvulas em saturação permanente, estática radiofónica de onda média, sintetizadores analógicos «vintage», fita e guitarras angulares disformes, criam um denso e confuso labirinto de som, onde não são discerníveis linearidades rítmicas, harmónicas, narrativas ou mesmo tímbricas, mas uma intensa corrente de desnivelada energia estranha, que parece propulsionar toda a intricada confusão (suficientemente consciente para falarmos em mérito, e não em consequência inocente) da sua música. Por cima de e por entre tudo isto, as suas vozes caminham, de forma semelhante a alguns trabalhos dos Excepter ou mesmo dos Black Dice, num murmúrio e gemer de rumo difuso, quase «dubificado» por pedais de delay. Um autêntico soundsystem de exploração ruidosa feminina, a rasgar novos caminhos de expressão sonora.Tropa Macaca
Projecto oriundo de Santo Tirso constituído pelo duo de Ju-Undo (Joana da Conceição, artista plástica) e Símio Superior (André Abel, também dos Dance Damage), os Tropa Macaca deslocam-se à capital na sequência da edição de «Para O Inferno Com Eles», um «split» CD-R com os Fish & Sheep, saído pela aqui estreante Lovers & Lollypops.Executantes de electrónica bastarda, da escola do quitanço caseiro de objectos e instrumentação, os Tropa Macaca intersectam-se com vários ramos estéticos das músicas experimentais, hibridizadas de forma muito própria.
Ju-Undo utiliza um sistema de buzinas de alarmes e temporizadores, a passar por uma pequena orquestra de pedais (principalmente de delay), que lhe permitem desenhar batidas secas de métrica altamente instável em constante regeneração, sem grandes paralelismos em qualquer género (ainda que ligeiramente comparáveis a uns Black Dice mais lo-fi). Símio Superior pode ser encontrando tanto a dilacerar uma guitarra eléctrica com um som irreconhecível ao instrumento, em trabalho de exploração pós-harmónica de riquíssima paleta sonora de frequências agudas cortantes, como a trabalhar com electrónica analógica caseira, disparando jardas de som de alto caudal ofensivo.
Algures entre os Cabaret Voltaire e os Throbbing Gristle modernizados para a geração pós-Wolf Eyes e Hair Police, o trabalho dos Tropa Macaca vive de uma elevada empatia criativa, que permite ao duo a confiança do deambular, pesquisar, questionar e afirmar em expressão sonora sem a pressão por vezes castrante da forma exacta e da finalidade. Em constantes (e recentes) reconceptualizações de concerto para concerto, de trabalho para trabalho, estamos perante um projecto nacional a seguir com muita atenção.
Entrada: 7.5 €
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