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CONCERTOS
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23 e 24 de Abril 2013
‘Uma Coisa Muito Séria’ : Thurston Moore & Margarida Garcia | Wolf Eyes | Tom Carter | Rodrigo Amado & Afonso Simões | Manuel Mota
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A Zé dos Bois apresenta ‘Uma Coisa Muito Séria’:
Dia 1
Terça, 23 de Abril às 22h
Thurston Moore & Margarida Garcia
Tom Carter
Manuel Mota
© Vera Marmelo
.Longe do palco iluminado da pop, Thurston Moore tem vindo a trilhar um caminho mais discreto, feito de concertos a dois ou a três, discos partilhados e colaborações avulsas. Essa podia ter sido a sua história musical, não fosse a vontade de formar uma banda e compor canções. Mas, para lá de formatos e percursos, uma coisa se manteve inalterável ao longo de três décadas de produção musical: o puro (e muito juvenil), desejo de tocar guitarra sobre um palco. É esse desejo que volta a exibir e a materializar, agora ao lado de Margarida Garcia. Na relação musical com os outros músicos, o guitarrista dos Sonic Youth tem usado duas ‘estratégias’. A primeira é uma abordagem introspectiva e prudente, atenta à efemeridade dos sons, sem recear evocar tradições ou géneros musicais como o blues, a folk e a no-wave; é nesses momentos que julgamos escutar ecos dos Sonic Youth ou da sua faceta mais acessível (a dos discos a solo). Mas basta a mudança de ambiente e parceiros para assistirmos a uma transfiguração (a outra “estratégia”): Moore endemoninha- se num transe provocado pelas cordas, pelo feedback, pelo improviso: foi o que aconteceu quando subiu ao palco ao lado de Mats Gustafsson, Jim O’Rourke, Loren Connors, Evan Parker, Yoko Ono ou Okkyung Lee. Sosseguem, não esteve a exorcizar fantasmas, antes a exprimir emoções por meio de uma música livre, destituída de constrangimentos ou convenções. Rock and roll que não é rock and roll. Electricidade sem condutor. É um mistério o que Thurston Moore vai dizer à respiração profunda da música de Margarida Garcia, mas advinham-se ligações, aproximações, partilhas por meio de notas, silêncios, conversas breves e longas. Terão, com certeza, coisas a dar um ao outro, e a quem os ouvir.
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Antes do duo luso-americano, a noite começa com as actuações separadas de Tom Carter e de Manuel Mota, nem por acaso conhecidos e cúmplices de Moore e Garcia. Carter, senhor de uma das linguagens à guitarra mais marcantes e apaixonadas da música americana em terra de ninguém, viu-se o ano passado afligido com uma pneumonia grave que o impediu de actuar com os Charalambides na Europa. Dando origem a uma merecida onda de solidariedade um pouco por todo o lado, inclusive com uma memorável tarde de concertos na ZDB, Tom Carter regressa agora a Portugal para uma apresentação a solo. Oportunidade para celebrar o seu papel central no mosaico da música cujas ramificações se estendem numa cartografia imponente que clama para si os sementes fantasma dos blues, da folk e demais heranças primordiais para as plantar em território livre e com espaço para digressões pelo desconhecido....Figura incontornável no seio da música improvisada, Manuel Mota continua um incansável trabalho em torno das capacidades expressivas na guitarra. Dono de um currículo excelso pautado por incontáveis colaborações, é a solo que tem vindo a focar grande parte dos seus avanços mais notórios centrados numa música que há muito se pode chamar só sua e em constante expansão. Depois de uma caixa de cinco cd’s editada no ano passado, onde eram espelhadas várias facetas da sua obra a solo, está para breve – e novamente pela lisboeta Dromos – um novo álbum intitulado Foz em colaboração com o japonês Toshimaru Nakamura, numa altura em que cada aparição sua se revela sempre tão surpreendente quanto gratificante. JM e BS.+ Info:
Thurston Moore: Thurston Moore | Vídeo | Vídeo
Margarida Garcia: Site | Headlights Records | Volcanic Tongue | Soundcloud | VídeoTom Carter: Site | Bandcamp | Vídeo
Manuel Mota: Myspace | Headlights records | Volcanic Tongue | Artigo | Vídeo | Vídeo.
.Dia 2Quarta, 24 de Abril às 22hWolf Eyes
Rodrigo Amado & Afonso Simões.Os Wolf Eyes foram capa da The Wire, tocaram com Anthony Braxton e construíram uma muito respeitável legião de fãs, mas nunca se deixaram domesticar. Proletários de Ann Arbour (como os Stooges), adoradores da festa, mais ou menos bebida, exímios praticantes de headbanging, irromperam no underground americano com um fabuloso par de discos: ‘Dread’, de 2002 e ‘Dead Hills’, de 2003. Não, não se tratava de garage ou stoner-rock. O puxão de orelhas que Aaron Dilloway, Nate Young e John Olson deram, com alegria e estardalhaço, à geração Pitchfork tinha outros sons: ritmos lentos e sebosos, electrónica agitada, riffs distorcidos até ao ruído total, vozes guturais. Em poucas palavras: música industrial resgatada à erudição e ao distanciamento do pós-punk inglês e entregue ao desvario pós-juvenil de punks alimentados no hardcore, no metal e no dub. Quem assistiu ao primeiro concerto do trio na ZDB (já com a presença de Mike Connely depois da saída de Dilloway) sabe que os Wolf Eyes fazem do noise uma celebração e que cultivam todo um imaginário que muito deve ao cinema de horror e ao death-metal. Mas os extremismo param aí, isto é ficam-se pela música, não a transcendem, não há programa. O que há é um grande e irrequieto amor pela música que se manifesta na extensa discografia individual dos três músicos ou nos diversos projectos paralelos (Faling Light, Regression ou Henry & Hazel Slaughter). Entretanto, a edição em 2012 de ‘No Matter’ (pela American tapes) e o anúncio de uma digressão europeia confirma o que adivinhávamos. O rock and roll dos Wolf Eyes não só não morreu, como ganhou novas virtudes depois das aventuras a solo dos seus músicos. Por isso, esta noite só se ouvirá uma frase: For Those About to Rock We Salute You!...© Nuno Martins.A anteceder esta explosão, estará outra, embora sem guitarras. Com o saxofone de Rodrigo Amado e a bateria de Afonso Simões – encontro de duas figuras prioritárias da música mais far out, em campos tangentes de igual premência. A Afonso Simões é-lhe reconhecido um balanço e poder de fogo mimético à bateria que tanto pode passar pelo groove inescapável dos Gala Drop, como pela divagação certeira das suas colaborações com Rafael Toral, além de passagens por projectos tão revelatórios como Fish and Sheep ou Curia. Rodrigo Amado tem vindo progressivamente a delinear uma linguagem cuja idiossincrasia o torna num dos mais importantes jazzmen europeus da actualidade. Súmula da reverência sagaz às raízes do género e de uma visão panorâmica em torno dos limites da improvisaçã0. JM e BS.. -