• Discussões
  • Sábado, 4 de Novembro às 16h

    Battle of Ideas 2017

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    Battle of Ideas – Estado das Artes: Global versus Local
    16:00 – 17:30

    Oradores:
    Patrick Dickie – Director Artístico Teatro Nacional São João
    Manick Govinda – Responsável Serviços Aconselhamento Artístico
    Sandra Vieira Jürgens – Escritora; Investigadora Instituto de História de Arte
    Francisco Vidal – Artista Plástico,; Representante Pavilhão Angola Bienal Veneza

    A globalização das artes tem vindo a acentuar-se nos últimos tempos. O artista Joseph Cornell (1903 – 1972), que faleceu há menos de meio século, nunca viajou fora de Nova Iorque, a sua cidade natal. Por outro lado, muitos dos artistas globais de hoje parecem percorrer continentes inteiros, de inaugurações de exposições a bienais culturais. O uber-curador Hans Ulrich Obrist revelou recentemente que passa 50 fins-de-semana por ano a viajar, o que talvez nem seja assim tão surpreendente, dado que existem atualmente 220 bienais em todo o mundo, segundo a Fundação Bienal.

    Lisboa surgiu recentemente como um interveniente global. Desde que o New York Times afirmou, em 2008, que “Lisboa tem o potencial para se tornar na cidade mais cosmopolita e internacional”, tem havido um vaga de novas galerias a serem inauguradas. E com a abertura de espaços por parte de grandes comerciantes de arte internacionais e o aparecimento da Feira Internacional de Arte ARCOlisboa, a artsnet afirmou recentemente que “Lisboa se tornou numa das mais atraentes capitais artísticas europeias”.

    Como é que devemos avaliar a transformação das artes numa indústria global? Muitos veem com bons olhos o aparecimento de novos e dinâmicos ambientes artísticos. Jochen Volz, curador da Bienal de São Paulo, afirma que as bienais criam plataformas que “promovem ativamente a diversidade, a liberdade e a experimentação, ao mesmo tempo exercendo o pensamento crítico e produzindo uma realidade alternativa”. Outros são menos positivos. O artista e crítico Robert Storr argumenta que “o ecossistema do mundo artístico ‘global’ se assemelha ao do nosso próprio planeta: sobreaquecido e desanimador”.

    Simultaneamente, polémicas recorrentes têm posto em debate questões de abertura. Por exemplo, o festival Documenta 14 foi aclamado aquando da sua abertura pela obra exposta “The Parthenon of Books”, o apelo de Marta Minujin contra todas as formas de censura. Contudo, o festival viria posteriormente a proibir uma performance do poema controverso de Franco “Bifo” Berardi “Auschwitz on the Beach”. Na Whitney Biennial, a pintura “Open Casket” de Dana Schutz, representando Emmett Till, desencadeou acusações de apropriação cultural e apelos à remoção do quadro da exposição e a sua destruição. Em vez de pluralismo cosmopolita, estará a globalização das artes a dar origem a um mundo artístico mais reprovador e fraturante?

    Se outrora os artistas pareciam ter uma relação próxima com os panoramas locais, existirá hoje o risco de, neste mundo artístico transcontinental, os artistas se estarem a distanciar cada vez mais dos contextos que os configuraram? Terão as novas e dominantes galerias como a Tate, o MOMA e o MAAT menos a dizer sobre o lugar onde se encontram? No entanto, apesar de Storr alertar para a “mistura implacável de distinções estéticas, a diluição de barreiras institucionais e a fusão de culturas”, os artistas há muito que têm sido operadores internacionais, desde os pintores da corte europeia ao serviço dos monarcas ingleses, até aos pioneiros do modernismo americano atraídos pela Europa continental. Devemos olhar para o circuito global de bienais no século XXI como uma extensão do ethos da exposição internacional já estabelecida, ou será o produto artístico, globalmente reconhecido, uma ameaça às especificidades culturais? Poderá a globalização da arte trazer oportunidades novas e emocionantes para a experimentação, ou ajudará apenas a consolidar o poder de uma elite artística? Devem as artes recentrar-se no que é local, ou será o benefício das artes oferecer o universal?

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    Battle of Ideas – Arquitectura: Preservação ou Modernização?
    18:00 – 19:30

    Oradores:
    Alastair Donald – Director Associado Institute of Ideas; Co-Director Future Cities Project
    António Brito Guterres – Investigador e Programador Dinâmia-Cet Iscte-IUL
    Rita João – Designer e fundadora, Pedrita Studio
    Professora Ana Tostões – Arquitecta e Historiadora de Arquitectura; presidente, DOCOMOMO International, editor, Jornal DOCOMOMO
    Joana Varajão – arquitecta, RA\\ Architecture & Design Studio

    “Museus, monumentos, mesmo grandes áreas das cidades foram protegidos contra a mudança, na medida em que foram esteticizados como sendo pertencentes a um determinado património cultural.” Ao expressar a sua frustração relativamente à falta alterações sociais e urbanas, devido à maior valorização do património em detrimento da inovação e do progresso, o filósofo Boris Groys salienta as longas batalhas travadas entre o desejo de preservar e a necessidade de modernizar as cidades. Portanto qual será a melhor forma de as cidades responderem ao crescimento económico e populacional? E até que ponto devemos proteger os edifícios, espaços e lugares existentes, que muitos vêm como essenciais para uma vivência urbana “autêntica”, e para a criação de um sentimento de pertença e relação com um lugar?

    Após 40 anos de declínio demográfico, a população de Lisboa voltou a aumentar, enfrentando agora questões profundas sobre como se desenvolver. O influxo de capital, turistas e novos empregos de foro tecnológico levou a novos e significativos empreendimentos, como a sede da EDP, mas também a uma série de novos hotéis e edifícios de escritórios. Por um lado, existe a preocupação de que o tecido existente da cidade seja transformado pelo grande influxo de investimento imobiliário e pelas infraestruturas dedicadas ao turismo. Consequentemente, bairros do centro histórico, como a Mouraria, que anteriormente garantiam alojamento a preços acessíveis, podem deixar de se tornar acessíveis ao cidadão e ao comércio local.

    Durante a maior parte do século XX, a preservação espelhou um juízo de valor arquitetónico ou histórico, sobre os edifícios ou a paisagem. Nos últimos anos, são apontados diversos motivos para justificar a preservação. Refletindo o receio de que a globalização e o ritmo acelerado de transformação estejam a criar “amnésia social”, muitas cidades europeias promovem os benefícios da “memória urbana”. Os seus percursores estão, desta forma, menos interessados ​​na qualidade arquitetónica do que no uso de objets trouvés, fragmentos do tecido urbano ou da memória de eventos passados ​​para reanimar a identidade cultural e reforçar o sentimento de pertença à cidade. O The Lisbon Seminar, por exemplo, concluiu que “apagar o passado, desestabilizando a memória, fragmenta as comunidades”. Segundo esta iniciativa, a preservação pode oferecer “benefícios significativos, não só em termos socioeconómicos, mas também em termos psicológicos, na medida em que enriquece o sentimento de pertença e identidade”. Contrastando com as instituições de defesa do património, os apologistas da memória urbana veem a sua marca nostálgica enquanto processo criativo – procurando viver menos no passado, usando a memória para criar o futuro.

    Como é que devemos olhar para o atual interesse na reabilitação e na memória, e quem é que deve decidir o que vale a pena ser preservado? Será a reabilitação com base na inclusão social uma forma adequada de avaliar o valor de um lugar? Ou devem esses juízos ser mais práticos ou estéticos? Como tem reagido/deve reagir, o ambiente urbano às convenções contemporâneas e às ambições de transformação futura? Em suma, uma vez que a identidade está em contínuo desenvolvimento, será que dar prioridade ao património significa correr o risco de repetir uma fórmula que já se encontra ultrapassada?

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    Tradução por Xenon Cruz

    For the english versions:
    https://www.battleofideas.org.uk/session/state-of-the-arts-global-versus-local/
    https://www.battleofideas.org.uk/session/preservation-or-modernisation/

    Admission is free. To reserve a space contact: reservas@zedosbois.org | +351 21 343 0205