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  • CTM | Residência Artística

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    “Might be a slow dance, cheek to cheek with somebody sweet. To me, this music is mostly for the body and the senses. It’s a pleasure ride, with some lament and aggressions to it. Just music from the school of life.”

    As palavras pertencem à própria Cæcilie Trier, a cantora e instrumentista dinamarquesa que se refugia das maleitas deste mundo e faz criar um universo melhor sob o signo de CTM. A força da sua música passa por diferentes ângulos, géneros, planos e épocas. A justaposição entre a composição de origem clássica a a estrutura elástica da pop resulta nesse experimento sonoro em constante movimento que é a obra de Trier.

    Ainda que uma ilustre desconhecida para muitos, o certo é que reúne uma obra sobejamente ampla a solo ou com os inúmeros projectos que mantém (entre os quais os recomendáveis Choir Of Young Believers e Chimes & Bells). Talvez o mais imediato de todos seja a sua colaboração com os Marching Church, banda do conterâneo Elias Bender Rønnenfelt, integrante nos Iceage. De resto, com a discrição e sensatez habitual de quem busca cimentar um corpo de trabalho fragmentário e  pertinente, o seu percurso é dominado por lançamentos em formato single e EP. ‘Suite For A Young Girl’ é credenciado como o seu primeiro álbum, mas ainda assim, será com maior exactidão um mini álbum com uma duração que ronda os vinte minutos. Caminho que reflecte uma consciência saudável de um critério rigoroso (algo perdido?) sobre a matéria a partilhar. Ao reunir cada uma destas peças, revela-se a essência básica da artista: uma fusão sem fronteiras. Escuta-se, contudo, o eco de uma face fascinante dos 80s dominada pelos idiossincráticos Talk Talk de ‘Spirit Of Eden’, mas também pelas lições de gente como Laurie Anderson, Robert Wyatt ou Arthur Russell.

    Plenas de detalhes de enorme sensibilidade e dimensão, as suas canções recorrem frequentemente a uma estrutura parca, por vezes até esquelética. O que se junta a esta base perfeita é uma autêntica comunhão de sons captados no dia-a-dia, melodias exóticas e um registo vocal ambíguo. Sabendo tirar o máximo partido da imprevisibilidade da sua música, o tom onírico-trágico emerge quase espontâneamente, sendo cada escuta uma descoberta constante de novos elementos. Além disso, sente-se espaço suficiente para cada pormenor respirar no seu habitat. Na verdade, o factor temporal também parece aqui suspenso; cada ritmo toma o espaço necessário, cada melodia desenvolve-se na plenitude desejada e é curioso como em escassos minutos temos a sensação de que dispomos de todo o tempo do mundo, ou seja, a criação de uma brilhante ilusão.

    Entre 25 de Setembro e 15 de Outubro, CTM estará em residência artística na ZDB. Há que esperar para descobrir o que preparou por cá. NA

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