• CONCERTOS
  • 23 de Setembro 2011

    Marisa Anderson | Bridget Hayden

    As mulheres e a guitarra eléctrica. À partida parece uma combinação complicada. O rock, diz-nos a História, é sobretudo coisa de homens, pese embora a opinião de alguns críticos culturais que denunciam a filiação da música pop com essa criatura sensual e leviana que dá pelo nome de cultura de massas. A verdade é que há qualquer coisa de feminino no feedback dos My Bloody Valentine, em “Radio Ethiopia” de Patti Smith ou, até, nas canções das Sleater Kinney: texturas, leveza, riffs que não se resolvem, oceanos, mares, rios (nadamos, mergulhamos nelas).

    Marisa Anderson pertence a esta linhagem, fazendo uso de uma muito particular matéria-prima: o som da guitarra à cintura ou ao colo. Natural de Portland, inscreve a sua música na narrativa construída por Fahey e outros nomes da Takoma, mas para a transcender, entre o passado e o futuro.

    Acontece tudo sobre as cordas do instrumento. É com os seus movimentos, tremores, sussurros que acordam vozes do blues, ritmos da Magic Band com Ry Cooder, acordes que vêm de África, espaços que desvelam memórias da country. É portanto um mundo muito povoado, o de Marisa Anderson, e sem direcções ou geometrias definidas. Num tema, pressente-se felicidade (as seis cordas a comporem uma elegia ao sol), noutro, a violência (a distorção que se levanta num grito). Ou a melodia a oferecer-se antes de se calar, tímida. Chamemos-lhes improvisos, coisas quebradas que se consertam a cada audição, trazidas por um nome que 2011 já gravou na sua banda sonora (procurem “The Golden Hour”, editado este ano pela Mississippi Records).

    O noise de Bridget Hayden também constrói e habita lugares imprevisíveis, mas o seu frémito é substancialmente mais vulcânico. Basta lembrar que esta senhora integrou os majestosos Vibracathedral Orchestra, praticantes de um tipo de rock britânico (o último a nascer nestas paragens?) que liga o psicadelismo ao noise e ao krautrock (pensem nos Loop, nos Skullflower, nos Spacemen 3 ou nos Telescopes), sem a preocupação de tecer canções pop. E com efeito, a solo, Hayden privilegia os espaços abertos, a repetição, o drone, as paredes de som. Nunca pretende, todavia, esmagar quem a ouve. Os riffs, que soberanamente domina, criam cores e energias que voam lenta e ruidosamente como anjos violentos, sem nunca caírem. “Trash Momento”, uma das melhores faixas de guitarras de 2011 é exemplar dessa delicada contenção, não muito distante das erupções idos My Bloody Valentine. Guarda-se a surpresa para o fim: Bridget Hayden canta. Com uma gravidade e elegância que a colocam na melhor das companhias. Não, não escrevemos aqui os nomes. Bridget Hayden só há uma. JM

    Marisa Anderson

    + Info: Site | Bandcamp | Mississippi RecordsVídeoVídeo

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    Bridget Hayden

    + Info: SiteMyspace | Kraak RecordsArtigoVídeoVídeo

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    Entrada: 8€