• Cinema
  • 7, 8 , 11, 13 e 15 de Setembro 2016 às 22h

    RAMA EM FLOR – CICLO DE CINEMA NO TERRAÇO

    No âmbito do primeiro RAMA EM FLOR, acolhemos uma programação de cinema que questiona e reflecte sobre as questões de género ao longo da história, no cinema português. A partir de diferentes registos – documental, ficcional ou experimental – apresentamos uma série de filmes que contextualizam e mapeiam as diferentes formulações e lutas feministas ao longo do tempo em Portugal.

    **

    “O programa começa em 1975, com O Caso de Sogantal, uma documentação histórica daquela que foi uma das mais marcantes batalhas do feminismo português após o 25 de Abril. Com idades entre os 14 e os 25 anos, quarenta e oito mulheres ocuparam a fábrica e reivindicam direitos laborais após anos de trabalho intensivo. Um marco importante da expressão da segunda vaga de feminismo em Portugal, focado em questões laborais, familiares e direitos reprodutivos, como também podemos assistir nos filmes O Aborto não é um Crime e Lúcia e Conceição. É com estes filmes que o ciclo lança o mote da discussão das várias expressões e evolução dos feminismos no cinema Português.

    A Revolução de 74 abriu espaço para que corpos pudessem, agora mais livremente, reclamar espaços e discutir ideias. Os corpos no cinema português multiplicaram-se e as normas foram questionadas e dilaceradas mas noutros casos reiteradas ou até perpetradas até à morte, como no caso de Gisberta. Relembrada por Miguel Bonneville e Claúdia Varejão, a morte de Gisberta abalou o país seguindo-se de importantes debates e críticas transfeministas. Se a luta pela igualdade de géneros parecia tomar força, lentamente tomando um discurso institucional, outras questões relacionadas com raça e não – conformidade de género ainda permanecem inviabilizadas. A animação de Regina Pessoa ilustra sentimentos de não identificação com a norma imposta, o mesmo que alimenta a busca de Leonor Teles numa comunidade cigana, especulando como poderia ter sido a sua vida se a sua família tivesse mantido as tradições. É também numa busca pelo desejo e sexualidade que Entretanto de Miguel Gomes se dá, uma liberdade de corpos que se alimenta dos prósperos anos 90. Na década seguinte, o cinema experimental português toma de assalto os corpos e as suas expressões, partindo de um questionamento de referências, códigos e rituais. Aqui, Joana Linda, André Uerba e Rita Macedo apresentam um vislumbre destas novas representações no cinema contemporâneo português.

    Voltando aos anos 70, após anos de opressão e censura durante o Estado Novo, o cinema explode e corrompe com a figura canónica da representação feminina da propaganda Salazarista, Nossa Senhora de Fátima, pura e imaculada, que em Fatucha Superstar, de João Paulo Ferreira faz a sua aparição no formato de um musical drag, divertido e cataclísmico.

    Neste tom queer e disruptor, encerra assim o ciclo que se apresenta sem a promessa de uma completude de exibir os feminismos expressos no cinema Português mas transversal a elementos críticos dos movimentos feministas em Portugal, explorando a mutação dos corpos ao longo dos tempos, o género e a sexualidade, as forças revolucionárias e os movimentos laborais, nos mais variados formatos cinematográficos. Com filmes dos 70 até à contemporaneidade, este programa espera lançar uma missiva de incentivo à produção portuguesa de cinema alinhado numa consciência feminista, projectando-se num futuro incerto onde as tecnologias toldam os corpos e os géneros numa tempestade de onde nascem os cyber e xenofeminismos. Relembrando a deixa de Vika Kirchenbauer, “Please Relax Now” e aproveitem os filmes.” Texto do colectivo Rabbit Hole

    .

    QUARTA, 7 DE SETEMBRO ÀS 22h

    caso sogantal_cinequipa

    ...

    O CASO SOGANTAL da Cinequipa (Portugal, Documentário, 1975, 45’)

    ‘O Caso Sogantal’ é um trabalho da Cinequipa que acompanha o processo de luta das 48 operárias que laboram numa fábrica de confecções situada nos arredores do Montijo. O encerramento é a resposta da administração às suas reivindicações por direitos básicos como o salário mínimo, um mês de férias, respectivo subsídio e décimo terceiro mês.

     

    QUINTA, 8 DE SETEMBRO ÀS 22h

    historia_tragica

     

    HISTÓRIA TRÁGICA COM FINAL FELIZ de Regina Pessoa (Portugal/ Canadá/ França, Animação, 2005, 8’)

    Há pessoas que, contra a sua vontade, são diferentes. Tudo o que desejam é serem iguais aos outros, misturarem-se deliciosamente na multidão. Há quem passe o resto da sua vida lutando para conseguir isso, negando ou tentando abafar essa diferença. Outros assumem-na e dessa forma elevam-se, conseguindo assim um lugar junto dos outros… no coração.

    .
    rhoma acans_leonor teles

    .

    RHOMA ACANS de Leonor Teles (Portugal, Documentário, 2012, 12’)

    A história de família de um pai cigano e de uma mãe não cigana serve de inspiração à realizadora para ir à procura do que a sua vida teria sido se o pai, inspirado pela sua própria mãe, não tivesse quebrado a tradição onde nasceu.  Neste percurso encontramos a jovem Joaquina, inserida na comunidade cigana, que serve de referência à realizadora na sua auto-descoberta.

     .

    entretanto_miguel gomes1.

    ENTRETANTO de Miguel Gomes (Portugal, Ficção, 1999, 25’)

    Pais e professores ausentaram-se. Entretanto, dois rapazes e uma rapariga formam um trio amoroso. Equilíbrio instável, o trio está demasiado próximo do triângulo. Entretanto é o tempo da suspensão. Dos gestos, da comunicação, da linguagem. A impotência resulta da falta de consciência para estruturar os sentimentos e de uma linguagem que permita comunicá-los.

    ..

    lucia e conceicao_cinequipa.

    LÚCIA E CONCEIÇÃO da Cinequipa  (Portugal, Documentário, 1974, 26’)

    ‘ Lúcia e Conceição’ aborda a vida de duas raparigas da aldeia da Maia, nos Açores. Um documento fascinante sobre um Portugal onde ainda não tinha chegado a revolução. Lúcia e Conceição não leram Lenine e não defendem os ideais do PREC. São imagens produzidas para a RTP a partir de um lugar onde a televisão ainda não tinha chegado.

    .

    DOMINGO, 11 DE SETEMBRO ÀS 22H
    abortonaoecrime.

    O ABORTO NÃO É UM CRIME da Cinequipa (Portugal, Documentário, 1975, 45’)

    ‘Aborto não é um crime’ incide sobre esta questão, muito discutida logo após a revolução. Dada a polémica que lhe ficou associada, foi o projecto que determinou o fim da série televisiva “Nome-Mulher” e os seus autores acabaram em tribunal, num julgamento onde um fotograma do filme foi usado como prova.

    ..

    TERÇA, 13 DE SETEMBRO ÀS 22h

    Gisberta.

    GISBERTA de Claúdia Varejão e Miguel Bonneville (Portugal, Videoclip, 2007, 4’)

    ‘Gisberta’ é o primeiro single (ou “solteiro” em português) a ser apresentado ao mundo, como um presságio para o álbum Skeleton editado pela Schizzofrenik Records em 2008.

    .

    joanalinda_boudoir.

    BOUDOIR de Joana Linda (Ficção, 2011, 8’)

    Inspirado na mitologia da Boca do Inferno e nas práticas mágicas de Crowley, em Boudoir, uma mulher trancada no seu quarto realiza um ritual que, como em todos os rituais, tem as suas consequências.

     

    emcadalar_joana linda

    .

    EM CADA LAR PERFEITO, UM CORAÇÃO DESFEITO de Joana Linda (Portugal, Ensaio, 2013, 20’)

    Se quando acaba, o amor se revela uma ilusão, a desilusão essa é sempre real. Um ensaio sobre o desamor em 7 segmentos inspirados nas 7 fases do amor tal como enunciadas por Stendhal.

    .

    l'origine

     

    L’ORIGINE de André Uerba (Portugal, Experimental, 2013, 14’)

    Em L’Origine constrói-se um questionamento pela origem das coisas, uma tentativa de ordenar a existência que se revela impossível.

    .

    please relax now.

    PLEASE RELAX NOW de Vika Kirchenbauer (Alemanha, Experimental, 2014, 12’)

    Este vai ser um evento memorável, orquestrado por mim para ti. Acredita em mim, nunca vais esquecer isto. Não é fantástico? Nunca esquecer, para sempre lembrar… Com a tua cumplicidade, caro espectador, esta peça vai transformar-te. Deixa-me apenas orientar-te um pouco, no início!

     .

    QUINTA, 15 DE SETEMBRO ÀS 22h
    non film..

    NON FILM IN THREE ACTS AND A PRELUDE de Rita Macedo (Portugal/Alemanha, Experimental, 2010, 12’)

    Como pode um filme ser um não-filme? Filmado inteiramente em Super 8, ‘Non-Film in three acts and a prelude’ é uma viagem absurda conduzida por um corpo sem cabeça, duas personagens invisíveis que contam pedras como corpos, uma realizadora abafada pelo seu próprio filme e duas virgens marias solitárias.

    .
    fatucha-1

    .

    FATUCHA SUPERSTAR de João Paulo Ferreira (Portugal, Ficção, 1976, 43’)

    Embora a sua obra tenha acabado por focar muito mais fortemente questões políticas e sociais, João Paulo Ferreira realizou esta obra singular, Fatucha Superstar, num registo musical inspirado no Jesus Christ Superstar, de Andrew Lloyd Webber. Com a revolução ainda quente, Ferreira desconstrói aquele que foi um dos grandes alicerces do Estado Novo: as aparições de Nossa Senhora de Fátima.

    Se por um lado, Fatucha Superstar é fiel à estética hippie do musical de Webber – e a uma geração portuguesa da altura –, já Fátima, ou Fatucha, é um sofisticado travesti que surge aos três pastorinhos de óculos escuros e descapotável.

    ..

    Uma programação Rabbit Hole em colaboração com a ZDB. Com o apoio do Centro Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães.

    .

    Entrada para as sessões de cinema: 2€ | Entrada livre a sócios ZDB | Bilhetes disponíveis na Tabacaria Martins e ZDB (em dias com programação).

    .